Cesar Maia
1. Dois tipos de conflitos sociais e políticos têm estremecido o
país. O primeiro pela grave crise dos Estados e que se espalha nacionalmente.
Embora atinja o conjunto da população dos Estados, o conflito emerge com a
resistência dos servidores estaduais aos pacotes apresentados.
2. O segundo que embora com temas nacionais como a estabilidade
presidencial, o teto dos gastos, a lei do ensino médio, a reforma
previdenciária, medidas econômicas, e a reforma trabalhista, cada vez mais se
concentra na cidade de São Paulo. Em geral, as mobilizações reais, (nas ruas) e
virtuais (nas redes) têm perdido densidade, tornando-se mais e mais ralas.
3. Mas há uma exceção: a Cidade de S.Paulo. Nesta, as reações,
resistências e as mobilizações permanecem intensas. A combatividade, o
confronto e as provocações não perderam força. Muito pelo contrário, e mais
ainda se levarmos em conta a continuidade das mesmas.
4. Os exemplos podem ser percebidos todas as semanas. Agora mesmo
na diplomação dos Vereadores e do Prefeito na Cidade de São Paulo, vereadores
diplomados e seus apoiadores nas galerias trouxeram das ruas as palavras de
ordem contra o Presidente. No Rio, apenas um Vereador – assim mesmo sem
entusiasmo pessoal – se lembrou do Presidente e com rigorosamente nenhum apoio
das galerias.
5. É verdade que São Paulo concentra a mais expressiva base dos
movimentos sociais de trabalhadores, de servidores, de artistas, de
intelectuais, de estudantes, de professores... Mas há uma razão além dessas. A
ocupação direta e indireta da máquina federal ocorreu muito mais que
proporcionalmente, incorporando os atores econômicos, sociais, políticos e
culturais de São Paulo.
6. Nisso se encontram trabalhos contratados de professores,
técnicos e de intelectuais, subsídios culturais, ONGs contratadas, ocupação de
diretorias de empresas estatais por lideranças sindicais e, claro, a ocupação
direta da máquina pública em cargos comissionados. Todos pagos generosamente.
7.
Em São Paulo estão as principais máquinas partidárias e sindicais daqueles que
serviram e se serviram do governo e hoje se encontram na oposição. É provável
que tenham guardado reservas para enfrentar um período de carência sem os
empregos, favores, contratos e benesses anteriores, enquanto circulavam dentro
e no entorno do governo – posteriormente – impedido.
8. Imaginam que o desgaste do atual governo possa antecipar as eleições ou fortalecê-los para 2018, assustados com o que passou em 2016. Ou que elevar a temperatura e jogar tudo no desgaste do governo atual possa abrir caminhos para eles.
9. Independente da efetividade de suas expectativas ou ilusões, o
problema político está paradoxalmente onde a reação e resistência são mais
fortes. Ou seja, a concentração muito mais que proporcional de suas forças,
mobilizações e confrontos em São Paulo, sem repercussão significativa nas
demais capitais ou grandes cidades termina num processo de afunilamento dos
protestos.
10. Com isso, fica muito mais fácil ao governo federal e ao governo
estadual local identificar esses pontos e personagens e, com isso, atuar de forma
a desmobilizá-los.
11. Mas há uma razão maior para a reversão desse quadro concentrado
em São Paulo. A recuperação econômica que virá no segundo semestre será
alavancada por São Paulo, exatamente pela sua muito maior expressão econômica.
A curva do desemprego e a abertura de espaços nas diversas atividades terá –
inicialmente – ou se preferir, a partir de São Paulo, a reversão de
expectativas.
12. E se a resistência se dá mais que proporcionalmente em São Paulo,
hoje, amanhã será em São Paulo que esse processo e essa dinâmica serão
revertidos, serão invertidos, perdendo força e intensidade.
Título e Texto: Cesar Maia, 22-12-2016
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