Henrique Pereira dos Santos
"Os sociais-democratas
assumem que há desconforto com as autárquicas... e com a liderança de Passos
Coelho. Mas o líder ainda mantém muitos apoios no partido".
A jornalista poderia ter
escrito "Há sociais-democratas que assumem que há desconforto com as
autárquicas e com a liderança de Passos Coelho [foto], que mantém muitos apoios no
partido".
Provavelmente, teria sido mais
fiel à informação objectiva e demonstrável de que dispõe, embora, por falta de
espaço, mais uma vez grande parte das fontes de informação da notícia não
tenham sido identificadas, o que naturalmente limita a capacidade do leitor
perceber exactamente se a jornalista tem realmente informação ou é simplesmente
um amplificador de agentes políticos activos.
Desde um debate em Setembro de
2015, antes das eleições, que o BE definiu três propostas que o PS teria de
retirar do seu programa para ter o apoio do BE a um governo seu.
Uma dessas propostas era o abandono
da descida da TSU.
O acordo de concertação social
celebrado há dias prevê uma descida da TSU, transferindo para os contribuintes
parte do esforço que as empresas teriam de fazer para assegurar a subida do
salário mínimo decidida pelo Governo.
Parecer-me-ia lógico que as
notícias dessem relevo ao facto do BE ter abandonado uma das suas três
exigências básicas para apoiar um governo do PS ou, em alternativa, que
destacassem o facto de Costa se ter comprometido com o abandono da TSU para ter
o apoio do BE, tendo aproveitado a fragilidade estratégica do BE para se
escusar a cumprir a palavra dada, no primeiro momento em que teve necessidade
de o fazer.
Mas não, o Público titula "BE recusou proposta de Costa que baixava TSU dos trabalhadores" (uma informação marginal face à dimensão da cedência do BE) e o editorial do Público chama coragem à enésima demonstração de falta de palavra de Costa, para quem os compromissos de hoje são amanhã meras dificuldades de comunicação que é preciso gerir com atenção.
E será assim mais um ano: tudo
o que Passos fizer, faça o que fizer, é evidentemente uma estupidez, tudo o que
Costa fizer, faça o que fizer, é um golpe de génio para a grande maioria dos
jornalistas que escrevem sobre política.
E se uma eleição no futuro vier
desmentir tudo o que os jornalistas foram escrevendo no entretanto, a
responsabilidade será de qualquer coisa que logo se verá, nunca será dos
jornalistas que simplesmente se demitiram de procurar entender a realidade,
investindo cada vez mais no esforço de a formatar.
Texto: Henrique Pereira dos Santos, Corta-fitas,
26-12-2016
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