Aparecido
Raimundo de Souza
EM
NOSSO DIA A DIA, constantemente, às escondidas, procuramos dentro de nossos
ocultos clandestinos algo que não sabemos o que é, ou onde se acha. Sentimos
falta de uma parte bastante significativa que nos complete ou que nos preencha
os espaços vazios. Muitas vezes, não conseguimos harmonizar esse encontro num
mesmo patamar de vontades tidas como prementes. Nosso degrau na longa escada de
subida para o topo é sempre o de cima e nunca aquele em que estamos.
Objetivamos circundar, englobar e alcançar, seja a que custo for aquilo de que
não dispomos, ou dito melhor, não temos. Esse “não dispomos ou não temos”
parece agir em nosso organismo como uma vitamina, apurando, incendendo,
estimulando o corpo a sair do marasmo, a lutar, a pelejar com obstinação
desenfreada e afinco acima do normal por soluções melhores.
Por vezes, achamos ou entendemos que os
propósitos que buscamos cotidianamente são inalcançáveis ou impossíveis, como
as aspirações que alimentamos no fundo da alma. Gostaríamos (e quem não se
sentiria como um rei nessa hora?!) de ser reconhecidos nas ruas, no trabalho,
pelas pessoas que nos cercam. Invejaríamos, num relance único, ser ou nos
tornarmos celebridades místicas. Queremos, a qualquer preço, parecer notáveis e
inimitáveis às visões dos outros que nos rodeiam. Às vezes, nossos pensamentos
galopam como se montados num pégaso mitológico, noutras, “correm para trás, no
tempo”, como observa, com propriedade ímpar, Steve Shagan. Segundo ele, nos
assemelhamos a “uma fita gravada girando ao contrário. Nossos desejos e
aspirações são quase sempre impossíveis, todavia, palpáveis nos limites de
conquistas”.
As insatisfações e os desfastios que
nos invadem agem, pois, em nosso ser como aperfeiçoamentos necessários para a
grandeza do espírito, desde que a forma de saciá-lo traga à tona o melhor do
nosso brilho e realeza interiores. Somos pedras brutas, brilhantes falsos.
Poderemos, entretanto, nos tornar objetos preciosos e de valor verdadeiro na
medida em que buscamos o primor do íntimo, a eminência, a majestade, a dádiva e
a excelência. Carecemos de transparência nessas horas, para que o sol brilhe
intensamente e nos reflita, como a imagem no espelho, sem nódoas ou manchas.
Não devemos jamais, seja por quais motivos forem, criticar o próximo notadamente por suas faltas e defeitos, ausências ou privações. Em contraposto, devemos progredir para entendermos as pessoas que nos cercam e superarmos os contratempos negativos. Observem caros leitores amigos, que os entulhos se tornam adubos à germinação do solo. Isso quer dizer o seguinte: seremos um amontoado de lixo, de estrume, dejetos e escombros, pelo tempo que quisermos. De igual forma, corpo sólido, como rochas, enquanto pelejarmos com garra e perseverança cobiça e apetite por um bom talhamento...
A vida é uma eterna escola, e o tempo,
o melhor ou o pior professor. Dependerá de como nos comportamos nas aulas. Se
formos bons alunos, teremos a recompensa. Ela virá nobre e elevada. Se estudarmos
mal, ganharemos um “zero enorme”, e evidentemente nos reprovarão na faculdade
da vida. Vamos, pois, sempre que pudermos procurar fazer uma introspecção.
Olharmos para dentro de nosso íntimo, corrigirmos os erros e desacertos e
eliminarmos o que não presta o que não serve. É bom. Exercita a alma, o corpo
relaxa, a mente se abre como um leque de infinitas saídas. A reflexão, ou
balanço, antes de tudo, age em nós como uma análise física mental. Assemelha a
uma oração direta ao Altíssimo. Perdemos alguns poucos minutos tentando
corrigir erros ou aparar arestas e desacertos, e nesses momentos alguma coisa
escondida dentro de nosso íntimo, como uma luz divina e brilhante, se acenderá
diante de nossos horizontes.
Essa luz como um sol mavioso, nos guiará
como um farol em mar aberto. Nada nos atingirá. Coisa alguma nos acarretará
problemas. Teremos, em contrapartida, um cardápio de soluções se abrindo, se
multiplicando e se diversificando... ad
aeternum. Devemos ter em mente que a vida que nos cerca é um constante bate
e volta. O que adianta reclamarmos disso ou daquilo se jamais elogiamos? Por
que acusarmos, se antes nunca defendemos? O importante, amadas e amados, é
aprendermos com sabedoria e depois ensinarmos com benevolência. Se sorrirmos
para o mundo, ele nos corresponderá. Sorrirá de volta. Entretanto, se o
agredirmos, ou se o apunhalarmos, a resposta, o retorno, será imediatamente
bárbaro e empedernido. Na realidade, não existe inferno, ou melhor: se
estivermos em paz, viveremos na bem-aventurança. Ao oposto, se praticarmos o
mal, se arrotearmos os achaques e as mazelas, o castigo certamente virá com uma
rapidez fulminante. Em dias atuais, não mais a cavalo, mas via internet, numa
dessas muitas redes sociais existentes.
Somos, por assim dizer, como o esférico
cavado e o redondo obtuso, a carne e a unha, o dia e a noite, o sapato e o pé.
Poderemos no mesmo brindar da taça cheia, nos tornar aquilo que quisermos ou,
por outra via, o que desejarmos. A opção ou o livre-arbítrio pelo trilhar
errado nos transformará em escravos do ego, ou do medo que carregamos dentro do
coração. A perfeição e a imperfeição são desafios constantes. Andam de mãos
dadas. São inseparáveis, amigas desde muito. Do mesmo modo poderão se fundir
num só corpo e se transformarem numa conquista única e benfazeja, lembrando
sempre uma soberania, uma captura formada por muitas e muitas partes, como um
quebra-cabeça de mil pecinhas, cujos elos temos que unir, um por um,
paulatinamente, pacientemente, incansavelmente. Às vezes passamos horas
inteiras tentando unir essas partículas no enorme mosaico do destino, ou
montando o jogo em outras pessoas que nos são caras. Um enigma indecifrável,
misterioso, obscuro, uma luta desvairada, extremosa e monstruosamente
procelosa...
O fato é que quando acordamos, quando
saímos da letargia, quando a ficha cai, o cartão acaba e os créditos
terminam... Quando, em realidade nua e crua, mais crua que nua, damos com a
coisa em si, a vida passou. A vida inteira se foi. O tempo se esvaiu, as horas
criaram asas, os minutos se entrelaçaram por sendas sem regresso. Nossos sonhos
consumiram a fumaça intermitente do nunca mais. Nada do que ficou para trás tem
o dom de voltar às nossas mãos. Por derradeiro, quedamos estarrecidos e
perplexos, aparvalhados e inertes, sem sabermos como agir para reunirmos senão
o todo, ao menos um terço do nosso complicado jogo de paciência. Paciência sem
a santa.
Nessa balbúrdia toda descobrimos,
esgazeados e acovardados, que não há mais volta. Outras portas se fecharam,
bateram janelas em nossas caras, e as lâmpadas da plateia se tornaram num breu
tremendo. No mesmo contrafluxo, as luzes do imenso palco se apagaram. Do que
sobrou, restou um inconsequente pretume sólido e intransponível, resistente e
rígido, concentrado nos braços do indômito e do soberbo. Dizia um velho
pensador que o “acordar é melhor que o dormir”. Como seres humanos imperfeitos,
sabemos de antemão, necessitamos, temos privação e carência de algumas horas de
sono. E para quê? Evidentemente para que possamos repor os momentos de cansaço
e fadiga, agastamento e amofinação em seus devidos lugares. O que nos causa um
desafio sem tréguas ou interrupções é o errarmos hoje, e pior, desacertarmos
feio, para aprendermos depois. Santo Deus! Seria, a bem da verdade, viável e exequível,
nunca termos, então, nascido.
Título e Texto: Aparecido Raimundo
de Souza, do sítio “Shangri-la”, um lugar perdido no meio do nada. 6-3-2018
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