Einstein
Pedro Frederico Caldas
Ufa! Quantos gatos no mesmo balaio!
Na verdade Einstein atribuiu essa frase
a Rita Mae Brown, mas ficou consagrada como dele.
Você já leu O Capital, A Ideologia Alemã,
O 18 Brumário de Luís Bonaparte, A Miséria da Filosofia, dentre a
prolífica obra de Marx? Não leu?, fez muito bem. É sinal de que você estava
cuidando de sua vida, ajudando a si próprio e aos outros. Lendo-os e ouvindo
quem os leu, ou quem nunca os leu, mas os vive citando, poderia ter caído na
tentação e ter levado anos e anos aperreando a paciência alheia ou brincando de
reordenar o mundo, como um demiurgo enlouquecido. Li-os. Ganhei e perdi
lendo-os. Ainda bem que tomei antídotos, enquanto havia tempo, e tenho passado
os últimos quinze anos aprofundando, cada vez mais, a leitura de inspirados
pensadores, homens de grande suposição.
Marx, como todos sabem, criou o
chamado socialismo científico. Antes dele, pensava, havia um socialismo sem pé
nem cabeça, um amontoado de boas intenções. Ele teria descoberto o segredo da
história e como levar a classe operária ao paraíso. O homem não era pouca
coisa, nem padecia de modéstia. A chave de tudo estava em destruir a
propriedade privada e libertar a classe operária de um pensamento que não era
dela, era-lhe impingido pensar errado e alienadamente por uma superestrutura erigida
pela classe dominante. Neste ponto, em contradição insuperável com a sua
própria teoria, ele conseguia pensar diferentemente do que pensaria se a sua
tese estivesse certa.
Já olharam com atenção para um
retrato de Marx? Não parece um bicho grilo, ou um maluco beleza? Pode até não
ser um sem-terra, mas, com certeza, é um sem-barbeiro. Deixemos sua aparência
em troca do que realmente interessa, o que ele pensava. Só pensava coisa boa.
Querem ver? Mãos à obra.
Os operários um dia tomariam o
poder, imporiam uma ditadura (Ditadura do Proletariado), aboliriam a
propriedade privada, passando todos os bens (fábricas, comércio, bancos,
agricultura, subsolo, meios de comunicação etc.) para o Estado. Daí em diante,
desaparecido o egoísmo, todos trabalhariam magnanimamente para todos, cada um
dando o máximo de sua capacidade, por mais capaz que fosse, não para o proveito
pessoal, mas em prol do interesse coletivo.
Claro que a coisa não seria tão
fácil. Essa marcha, essa etapa da História não se daria sem, digamos assim,
alguns, por assim dizer, pequenos incômodos: milhões e milhões seriam mortos ou
iriam para campos de trabalho forçado, como efetivamente veio a acontecer; as
crianças sairiam da guarda e da autoridade dos pais para a guarda fria mas
correta do Estado; só haveria um partido, um pensamento político e uma vanguarda
revolucionária de homens altamente imbuídos de sua missão histórica; o coletivismo
superaria o individualismo, todos dissolvidos no amálgama que transformaria o
homem até então existente num novo homem, livre e redivivo, talvez a maior
obra, a arte final do socialismo. Como proclamaria outro socialista, Mussolini,
na vertente fascista do espectro, “Tudo no Estado, nada contra o Estado, e nada
fora do Estado”.
Qual seria a cereja do bolo?
Cumprida essa etapa da Ditadura do Proletariado, com tudo dissolvido, tudo
amalgamado no Estado, este cairia na desnecessidade e desapareceria. Aí ingressaríamos
no Paraíso terrestre, entraríamos automaticamente no Comunismo, quando então,
como ele diz na obra A Ideologia Alemã,
não haveria mais divisão do trabalho, as pessoas teriam tudo o que precisassem
e poderiam caçar pela manhã, pescar à tarde, praticar farming ao anoitecer e se engajar em crítica literária após a janta... Ele só esqueceu de explicar, apontam os
críticos, quem cuidaria de trabalhar para que as pessoas vivessem entretidas em
caça, pesca, farming e tertúlias
literárias.
Tentativas de implantar esse paraíso
terreno foram encetadas em países dos mais diferentes quadrantes, climas,
línguas e estágios. Nada deu certo. Tudo desmoronou sem que um só tiro fosse disparado.
O que ainda não desmoronou, ou não retornou ao velho e bom capitalismo, como
faz a China, está aí como uma espécie de museu dos horrores, a exemplo da
Coreia do Norte, Cuba (Venezuela) e outros menos
votados.
E não foi falta de estudos provando
que as teses marxistas, sobre não terem fundamentos científicos, como era
pretendido, estavam completamente equivocadas. Pensadores da mais alta
suposição refutaram as bases do marxismo, como Eugen von Bohm-Bawerk, Max Weber,
Ludwig von Mises, Hayek, Thomas Sowell, Friedman, Roger Scruton e tantos
outros, muitos outros.
Engraçado em tudo isso é que os
marxistas, aduladores do povo, nunca tiveram a admiração popular, seu prestígio
era e continua sendo abanado e abonado pela chamada esquerda acadêmica. Querem
a prova? Em qual país o povo, em nome de quem os comunistas sempre falaram e se
proclamavam cavaleiros andantes, o comunismo chegou ao poder pelo voto? Nenhum.
Os militares ou milícias e exércitos improvisados, sob a orientação de intelectuais
iluminados, estiveram sempre na base da tomada do poder. Uma vez tomado, jamais
o poder voltou a ser disputado em eleições livres. O povo é sempre olhado com
suspeição e mantido sob estrito e violento controle. Para não haver risco, os
exércitos ditos vermelhos são submetidos, como tudo mais, ao controle do
partido.
A queda do Muro de Berlim e as vagas
que se sucederam derreando todo o resto do sistema no Leste europeu, por todos
nós assistido, chocou a esquerda. A grande maioria abandonou o barco, partidos
comunistas mudaram de nome e a mídia esquerdista teve que abrir espaço para as
vozes que insistiu não ouvir no passado.
Aí, pessoas que pareciam cegas
começaram a envergar algum bom senso, indumentária que, por décadas, jogaram no
canto de gavetas não visitadas. Órfãos de suas próprias ideias, desmoralizados
de suas próprias convicções, as esquerdas relutaram em jogar ao mar uma carga
de custosa manutenção, não mais comercializável no mercado das ideias, embora pesadas
demais para carregar nos próprios ombros.
Começa então a reciclagem da
mercadoria encalhada, já em estado de adiantada decomposição, mediante a militância
em causas prosaicas, como a transformação dos cuidados e das políticas em
defesa do meio ambiente em estado de religião. Mas não só. Outras bandeiras
foram paulatinamente tomadas de mãos prudentes para virar sortilégios, estado a
que foram reduzidas as lutas em prol de minorias, que eram sistematicamente
desconsideradas, desrespeitadas e perseguidas nos regimes comunistas. Com
efeito, os ex-países comunistas eram tragédias ambientais (Mar de Aral, Chernobyl,
fábricas poluidoras, águas degradadas etc.) e as minorias, a exemplo dos
homossexuais, perseguidas.
Toda essa tragédia da esquerda foi
assistida real time pelo mundo
inteiro: gente sofrida fugindo pelas fronteiras da Hungria, da Áustria e de
onde mais pudesse para se ver livre daqueles que juravam empunhar o estandarte de
salvação das massas oprimidas. De Cuba, muito mais de um milhão de pessoas
fugiram e continuam a fugir para os Estados Unidos, sede do “inferno
capitalista” e país “opressor da classe operária”. Noventa mil pessoas morreram
tentando atravessar o Estreito da Florida em cima de qualquer coisa que
boiasse, contanto que houvesse qualquer esperança de se verem livres do carinho
dos irmãos Castro ou do conforto e fartura oferecidos em Cuba.
Essa fuga, sempre quando possível,
desses países, é conhecida como “votar com os pés”. É a atitude mais
desesperada de quem não encontra mais nenhuma razão de viver em sua própria
terra, deixando para trás familiares, amigos, “emprego certo”, mal levando a
roupa do corpo. Conheço várias pessoas nessa situação, algumas trabalham ou já
trabalharam comigo. É de dar dó.
Querem um exemplo melhor? Por que o
partido comunista russo não ganha a eleição e instala de novo o comunismo na
Rússia? Por que nas eleições parlamentares não chega a 12% dos votos? Afinal,
lá foi a pátria do socialismo, lá governaram sem oposição por setenta anos.
Querem a resposta? Por isso mesmo. E isso se passa em todos países
ex-comunistas.
Pessoas já me perguntaram como é que
no Brasil, por exemplo, há milhões que apoiam e querem transplantar para o País
regimes falidos, perversos, abandonados por homens simples dos países em que
foram implantados. Sempre respondo que a mente humana ainda é, em grande parte,
uma região imperscrutável, às vezes mais desconhecida que corpos celestes a um
milhão de anos-luz da Terra. Sempre insistem que essas posições afrontam
realidades palpáveis como as reveladas pelos que continuam votando com os pés.
Um amigo da Flórida costuma apontar
para o mar e me perguntar se haveria alguém ainda em Cuba caso não fosse uma
ilha e tivesse os Estados Unidos ou países latinos por fronteira seca. Não
tenho certeza, mas acho que ele tem razão. Arremata as suas elucubrações com
uma questão que está na cabeça de todos: será que ainda querem tentar de novo?
Realmente não sei, mas, como diz a
cita preambular, loucura é ficar fazendo sempre a mesma coisa e esperar
resultados diferentes. Nunca podemos duvidar da estultice humana. Há sempre a
possibilidade de um maluco beleza fazer a seguinte proposta: Vamos tentar de
novo?
Um bom domingo para todos.
Título e Texto: Pedro Frederico Caldas
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