sexta-feira, 15 de outubro de 2010

É a politiquice, estúpido

Entre o interesse nacional e o seu próprio interesse político, o PSD parece não hesitar e escolhe o segundo
Não se deixe enganar. José Sócrates e Pedro Passos Coelho não se preparam para abrir uma crise institucional por causa do orçamento. Ambos sabem que, ao ponto em que as coisas chegaram, já não há, já não pode haver, um orçamento de PS e outro, substancialmente diferente, do PSD. É bem verdade que aquele será trágico nas suas consequências sociais e económicas, mas nem por isso se pode dizer que é certo ou é errado. É o que tem que ser, é o que nos é imposto, e nenhum dos dois líderes políticos tem já poder para alterá-lo de forma significativa. Repito, portanto: não se deixe enganar. A crise, que pode bem acontecer, nada tem a ver com o orçamento. Acontecerá a pretexto do orçamento, mas está longe de ser provocada por divergências económicas ou técnicas. Em bom rigor, a questão nem sequer é política. É muito simplesmente do âmbito da politiquice.

Senão vejamos: José Sócrates sabe bem o estado em que deixa o País, sabe bem o que aí vem e o que vai ainda ter de ser pedido aos portugueses. Sabe bem que o seu Portugal cor-de-rosa nunca existiu e que é chegada a hora de pagar a fatura. Mais importante, sabe bem que se deixar o calendário político entregue ao Presidente da República e à oposição, vai ser queimado em lume brando e acabará por assumir sozinho todos os custos do choque com a realidade que o País está já a sofrer. A arrogância com que quer impor um orçamento, recusando qualquer aparência de diálogo (porque é disso que estaríamos a falar), não é assim fruto de uma qualquer convicção sólida, nem decorre de uma estratégia clara para sanear as contas públicas que, de resto, o PS nunca teve. O primeiro-ministro escolheu deliberadamente a via do confronto prepotente porque vê numa crise política imediata a derradeira oportunidade para ensaiar, uma vez mais, a estratégia de vitimização de que é um genial intérprete. Por outras palavras, José Sócrates sabe bem que o País dispensaria uma paralisia institucional de vários meses (com todos os custos sobre o custo da dívida que ela terá) mas põe o seu interesse político e pessoal muito acima dos interesses de Portugal. 
O PSD, tudo parece ainda indicá-lo, pensa nos mesmos termos. O principal partido da oposição sabe que, infelizmente, já não há margem para apresentar uma alternativa de orçamento para 2011 que não agrave, mais ainda, a carga fiscal. Sabe que se estivesse no governo seria forçado a apresentar um orçamento em tudo semelhante ao proposto pelo PS. E embora consciente, ele também, do preço de uma crise política, mantém uma irredutibilidade teimosa na exigência de cedências que sabe impossíveis de aceitar. Porque julga assim servir melhor os seus propósitos eleitorais de médio prazo. Mais uma vez, entre o interesse nacional e o seu próprio interesse político, o PSD parece não hesitar e escolhe o segundo. Crise institucional? Descrédito internacional? Pois eles que venham desde que os portugueses fiquem convencidos que o partido jamais aumentaria os impostos.
Pedro Norton, revista "Visão"

Penso diferente: o PSD, e os partidos que não concordarem com esse orçamento, devem chumbá-lo e PT saudações! Não será esse "chumbo" que vai piorar este pequeno país; alguns histerismos nos "mercados" nos primeiros dias e dias depois os prostitutos mercados continuarão especulando baseados nos cenários que eles estiverem prevendo...
Nesse raciocínio de "interesse nacional" considerar-se-ia alta traição a greve geral marcada para o próximo dia 24 de novembro, quer dizer, seriam traidores os trabalhadores portugueses que protestarão nesse dia contra o tamanho da truta?... Aliás, falando em "interesse nacional", CADEIA para os responsáveis por esta truta. Isso sim, é interesse nacional, se é que entenderam...

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