sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Um horizonte que ainda não percebemos

Não consegui identificar a autoria da belíssima imagem
Este texto foi escrito por Cláudio Magnavita, em 17 de outubro de 2006
Estas linhas estão sendo escritas em plena travessia do Atlântico. Estou a bordo do avião de uma empresa européia que, por ironia do destino, é comandada por quatro brasileiros que no início deste milênio comandavam a Varig.
Neste espaço do Planeta Terra, durante cinco décadas, as constelações que brilharam no céu tiveram como companhia diária pelo menos uma dezena de estrelas brasileiras que cortavam a noite transportando brazucas e, na sua fuselagem, além do mitológico Ícaro, uma bandeira verde-amarela identificando a origem dos aviões da Varig. Neste dia 17 de outubro de 2006, apenas um único ponto de luz estará fazendo a mesma travessia, trata-se do MD11, que valentemente tem unido o Brasil a Frankfurt, a única rota da companhia a atravessar o Atlântico. No solo europeu dezenas de lojas estrategicamente localizadas - e que juntas geravam mais de 100 milhões de dólares de receitas por mês - estão fechadas. Funcionários treinados durante décadas e com um network para negócios estão de braços cruzados.

Apesar de todo o capital que está sendo investido na tentativa de manter a marca viva, o cenário é bem diferente do de apenas dois anos. Numa noite como esta, teríamos, além de Frankfurt, vários outros vôos: Paris, Londres, Lisboa, Amsterdã, Munique, Copenhague e Roma. Teríamos no mínimo duas mil almas voando sobre a proteção da Estrela Brasileira.
Mas que país é o nosso que permite que esta constelação se apague, que ignora a sua importância como fator gerador de divisas e de riquezas? O Brasil é um país excepcional. Nosso hino canta a nossa riqueza e pujança, mas nossos dirigentes comandam há décadas a nação como se pilotassem o tratorzinho de um sítio onde se planta só bananas.
Deixamos que a Varig parasse de cruzar os céus do mundo. Numa noite como essa, outras estrelas estariam indo para Miami, Nova York, México, Los Angeles e Toronto, só para continuarmos no Atlântico Norte. Não se trata apenas de aviões transportando pessoas, eles são apenas a parte mais visível desta gigante operação que envolve infra-estrutura aeroportuária, centrais de reservas, lojas e equipes de vendas mundo afora. O Brasil está perdendo tudo isso. Perdendo uma cultura de vender o País no exterior. Se as lojas da Varig eram as nossas embaixadas extra-oficiais, perdemos uma importante rede de diplomatas do turismo e dos negócios.
As linhas poderão até ser repassadas para neófitos, mas dificilmente a cultura e o enraizamento em cada mercado serão os mesmos. É só ver o que aconteceu com a Transbrasil, a Vasp e agora a TAM no exterior. Perdemos as cores verde-amarelas nos aeroportos principais e achamos tudo isso muito bom. Não temos vergonha. Podemos continuar voando nos polidos aviões da American Airlines ou nas fidalgas européias como se estivéssemos em casa. Afinal, somos cidadãos do mundo e não nos importamos que todo o recurso desse transporte seja enviado para pagar salários e manter empregos no exterior, afinal, somos um país rico e globalizado.
Para compreender o que aconteceu com a Varig e o suplício que beirou a tortura chinesa (sem trocadilhos) que ela enfrentou, é só reler os artigos que publicamos nos últimos anos. Relatamos as diferentes tentativas externas para saquear e/ou destruir a empresa e a brava resistência da Varig e dos variguianos aos ataques que vieram de todos os lados. No final, estes ainda tentam segurar no chão a nossa estrela.
Olho para o céu na tentativa de ver o derradeiro vôo da estrela brasileira e, ao contemplar a imensidão do universo, mantenho a esperança de ver de volta o brilho verde-amarelo nesta noite estrelada. Envergonhado, fecho os olhos pensando nas dezenas de rostos de tolos patrícios que reduziram toda esta constelação a uma só e valente estrela nesta travessia do Atlântico.
Cláudio Magnavita é presidente da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo (Abrajet), membro do Conselho Nacional de Turismo e diretor do Jornal de Turismo.
Outubro de 2006

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