sábado, 22 de janeiro de 2011

Vale a pena? - A história de um Mané Pato (IX)


Para atrair os compradores/mutuários, os agente financeiros criaram uma espécie de carência, de 2 ou 3 anos; eram os chamados financiamentos 2/28 e 3/27. Nos 2 ou 3 primeiros anos de financiamentos, o mutuário era agraciado com uma prestação fixa de baixo valor, embutida de juros também baixos! Vencida a carência, o mutuário sofria o impacto de um grande aumento nas mensalidades, já que estas passavam a ser corrigidas pelos índices de mercado, normalmente a taxa libor.

Outro problema paralelo que deve ser considerado, era o perfil dos mutuários. Mais de 80% dos contratos hipotecários emitidos no período mencionado, tinham como devedores os chamados "Ninjas" (no íncome, no job, no asset), ou seja: pessoas que não possuiam emprego definido, e nem propriedades.

O Governo americano possui um programa de garantia para contratos hipotecários para aquisição de casa própria, porém, somente para pessoas comprovadamente de baixa renda, e empregadas; portanto, todos os financiamentos imobiliários contraidos com os "Ninjas", contavam somente com a garantia dos próprios agentes financeiros e das propriedades hipotecadas.

Mas isso não seria problema. Os grandes bancos tinham um plano infalível para resolver a situação das possíveis inadimplências, calcado nos seguintes pontos:

1º - Foram criados fundos de investimentos, com garantia das hipotecas. As quotas eram vendidas a investidores de todo o país, que aderiram em grande número, já que a remuneração era compatível com as melhores taxas do mercado. Com a venda das quotas, os agentes financeiros reabasteciam-se de novos capitais, que eram utilizados para novos financiamentos de imóveis, e assim por diante.

2º - A valorização constante dos imóveis nos Estados Unidos, que alcançava taxa anual quatro vezes superior a inflação oficial, era imprescindível para garantir solidez e liquidez aos investidores.

3 - Finda a carência de 2 ou 3 anos, 90% dos mutuários "Ninjas" não tinham condições de entrar na nova fase de pagamentos, sem inadimplir. Isso porém, também não era problema, pois os agentes financeiros já tinham um plano para a renegociação da dívida, que se fazia quase que automaticamente, com nova carência, porém, sempre com um custo um pouco maior, que incluia naturalmente, as taxas administrativas e "spreads", ponto básico para garantir a boa lucratividade dos bancos. A renegociação era simples, já que a valorização constante dos imóveis aumentava as garantias.

O desastre teve início, a partir do segundo semestre de 2006, quando o mercado imobiliário, devido a uma conjuntura interna, passou a dar sinais de desvalorização. Com a desvalorização, deixaram de existir as garantias ideais para as renegociações das dívidas dos mutuários, que automaticamente passaram a inadimplir em grande número, fazendo com que a situação negativa evoluisse em forma de autêntico "efeito dominó".

A rentabilidade das quotas dos fundos caiu! Os investidores se assustaram, e começaram a correr para sacar seus capitais. Nessa corrida, alguns bancos, sem poder suportar a pressão, interromperam os pagamentos das quotas, o que provocou a intervenção do governo federal através do FED (Banco Central Americano), tentando amenizar o prejuízo dos bancos, e a própria crise, que ainda repercute nos EUA até hoje, com prejuízo global, calculado em meio trilhão de dólares.

Este foi apenas um resumo, pois existem muitas outras questões técnicas que deixei de mencionar, por serem irrelevantes neste contexto.
- Doutor, o senhor acha que essa crise dos EUA pode acontecer aqui no Brasil, com os nossos Bancos? - perguntou Mané Pato III.
- Na verdade, eu não seria tão radical em minhas preocupações, porém, acho que quem investe para receber pecúlio em um prazo longo, corre sim, um grande risco. Se não fosse assim, que necessidade teria o próprio Ministério da Jusciça, através do Procon, de alertar os brasileiros, como vimos lá atrás? Se há o alerta, certamente há o perigo! Não se esqueçam disso!

Vejamos agora,algumas situações paralelas entre a Varig e os Bancos, de nosso pais:
Já vimos que a Varig, pelo menos em tese, que era protegida claramente pelo governo, e que representava nosso país no exterior, com 111 representações e vôos para todos os continentes, com frota de 140 aeronaves, a maioria de grande porte, não poderia em hipótese alguma, ter-se desintegrado, como aconteceu. Aconteceu, porque o governo retirou seu apoio, a partir da posse do Presidente Collor.

E os bancos? Também já vimos que os banqueiros vêm, há 14 anos recebendo toda a ajuda possível do governo Federal, através da política neo-liberal do ex-presidente Fernando Henrique e do atual Presidente Lula, que segue a mesma linha, ampliando o crédito, a juros exorbitantes, e admitindo as taxas de serviços escorchantes que nos são cobradas.

A Varig sentiu o baque, a partir de 1992! Embora pudesse, talvez, utilizar-se de outros recursos, como por exemplo: a redução drástica e imediata do quadro de pessoal e economia também drástica, nas despesas administrativas, mas não o fez a tempo. Ao invés, preferiu utilizar-se ilegalmente de dinheiro que não lhe pertencia, e sim aos aposentados, e futuros aposentados, e para tanto, contou com o apoio indispensável de seus grandes aliados: A própria direetoria do Aerus e o núcleo do Banco Central que fiscalizava então o sistema de Previdência Complementar, já que a SPC não havia ainda, sido criada.

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