terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Os inuit

Crianças inuit brincando. Foto: Paul Souders/Accent Alaska

Durante séculos, os Inuit sempre foram chamados de "esquimós" por aqueles que não são Inuit. Os Inuit não mais consideram este termo aceitável. Preferem o nome pelo qual eles próprios sempre se identificaram, Inuit, que significa "povo" em seu próprio idioma, o inuktitut.
Os Inuit habitam vastas áreas em Nunavut, nos Territórios do Noroeste, na costa norte de Labrador e em aproximadamente 25% do norte de Québec. Tradicionalmente, eles habitavam acima da área arborizada na região onde se encontra a fronteira com o Alasca, no oeste, a costa de Labrador à leste, a ponta sul da Baía de Hudson ao sul e as ilhas do alto Ártico ao norte.


Cerca de 55.700 Inuit vivem em 53 comunidades em todo o norte canadense. A população Inuit cresceu rapidamente nas últimas décadas. De acordo com a agência governamental de estatísticas "Statistics Canada", se a tendência continuar, haverá cerca de 84.600 Inuit no norte canadense por volta de 2016.
Os Inuit são um dos três povos aborígines do Canadá, conforme definido pela constituição canadense. Os outros dois povos aborígines são denominados "Primeiras Nações" e "Métis".

Uma cultura enraizada na terra
As origens dos Inuit no Canadá datam de pelo menos 4.000 anos atrás. Sua cultura é profundamente enraizada na vasta terra em que habitam. Por milhares de anos, os Inuit observaram atentamente o clima, as paisagens terrestres e marítimas, e os sistemas ecológicos de sua vasta pátria. Com base nesse conhecimento íntimo da terra e de suas formas de vida, os Inuit desenvolveram habilidades e tecnologias peculiares e adaptadas a um dos ambientes mais inóspitos e exigentes do planeta.


Os Inuit tratavam com o mesmo respeito os seres humanos, a terra, os animais e as plantas. Hoje, continuam tentando manter este relacionamento harmonioso. Tentam utilizar os recursos da terra e do mar com sabedoria para preservá-los para as gerações futuras.
Na caça, seguem tradições e regras rigorosas para ajudar a manter este equilíbrio.
Para os Inuit de Labrador, por exemplo, é proibido matar qualquer animal em sua época de reprodução.
Antes da criação das colônias permanentes nas décadas de 1940 e 1950, os Inuit migravam conforme as estações. Eles estabeleciam acampamentos de verão e de inverno, aos quais retornavam anualmente.
Estes campos sazonais permitiam que os Inuit usassem os recursos da terra e do mar nas épocas do ano em que eram mais abundantes.

Eram transmitidos de geração a geração os conhecimentos tradicionais sobre a história dos Inuit, suas terras e plantas, e sobre os animais selvagens. A família é o centro da cultura Inuit, e cooperação e compartilhamento são princípios básicos na sociedade Inuit.
Eles compartilham os alimentos que trazem da caça, e cada um faz a sua parte para ajudar aos necessitados.
A cultura Inuit foi exposta a muitas influências externas durante o último século. Entretanto, os Inuit conseguiram reter seus valores e cultura. O inuktitut ainda é falado em todas as comunidades Inuit. Ele é também o principal idioma utilizado em programas de rádio e televisão originados no norte canadense, e faz parte do currículo escolar.

Muitas comunidades Inuit continuam a praticar as danças e canções tradicionais, que incluem dança de tambores e canto gutural (canto tradicionalmente executado por mulheres Inuit, que produzem sons guturais). A tradição oral e a narração de estórias ainda permanecem bem vivas na cultura Inuit, com lendas passadas entre as gerações ao longo dos séculos. Tais estórias freqüentemente falam de espíritos poderosos que habitam a terra e o mar, e têm sido uma contínua fonte de inspiração para artistas Inuit, cujas gravuras e esculturas são apreciadas por colecionadores e galerias de arte em todo o mundo.

A época dos primeiros contatos
Os primeiros contatos regulares entre os Inuit e os europeus começaram em meados do século XVII, quando os navios baleeiros europeus chegaram ao Ártico. No fim do século XVIII, a indústria da caça à baleia declinava, e foi substituída pelo comércio de peles. Nas décadas seguintes, um relacionamento econômico baseado no comércio de peles se desenvolveu entre os Inuit e os europeus.

Exceto pelos encontros com os negociantes de peles e alguns exploradores, os Inuit tiveram pouco contato com o resto do Canadá até a década de 1940. Nesta época, o governo canadense já havia começado a marcar presença no Ártico.

O governo encorajou os Inuit a morar em colônias permanentes, ao invés de em seus acampamentos sazonais. As colônias logo começaram a serem apoiadas por destacamentos da Polícia Montada do Canadá (RCMP, Royal Canadian Mounted Police), por serviços de saúde e de assistência social, e por um programa habitacional.

Na década de 1960, os Inuit começaram a formar cooperativas de mercado para facilitar a venda de produtos locais, incluindo gravuras artísticas e esculturas entalhadas que se tornariam famosas em todo o mundo. No fim da década de 1970, as novas colônias centralizadas haviam se tornado uma característica permanente na vida Inuit, com novas escolas e melhores instalações para assistência médica. As rotas aéreas regulares e as telecomunicações ajudaram a conectar as colônias umas às outras e ao resto do mundo.
As comunidades Inuit são governadas por conselhos municipais eleitos. Apoiando estes conselhos existem comitês que tratam de assuntos como caça, pesca, uso de armadilhas, saúde e educação. As escolas Inuit de hoje oferecem um sistema educacional moderno que inclui matérias culturais, como o ensino do idioma inuktitut.

Mulher inuit, 1907. Foto: Biblioteca do Congresso Americano
A economia Inuit actual
Atualmente os Inuit trabalham em todos os setores da economia, incluindo mineração, petróleo e gás, construção, no governo e em serviços administrativos. Muitos Inuit ainda complementam suas rendas por meio da caça.

O turismo é uma indústria crescente na economia Inuit. Guias Inuit levam turistas em passeios com trenós puxados por cães e em expedições de caça, e trabalham em hospedarias para caçadores e pescadores. Cerca de 30% dos Inuit obtêm ganhos trabalhando meio período com suas esculturas, entalhes e gravuras.

A colonização de terras reivindicadas nos territórios do Nordeste canadense e norte de Québec resultaram em recursos financeiros para os Inuit e proveram uma estrutura para iniciar e expandir atividades de desenvolvimento econômico. Os novos negócios emergentes incluem imóveis, turismo, empresas aéreas e empresas pesqueiras em alto mar.

Reivindicações de terras e direitos de Aborígines
Desde meados da década de 1970, os Inuit negociaram várias reivindicações de terras de grande abrangência com o governo federal, com o governo dos Territórios do Nordeste e com o da província de Québec. Tais reivindicações incluem a Baía James e o Acordo do Norte de Québec, assinado em 1975, o Acordo Final de Inuvialuit, assinado em 1984 pelos Inuit do Ártico Ocidental, o Acordo de Reivindicações de Terras de Nunavut, concluído em 1993, e o Acordo de Reivindicações de Terras Inuit de Labrador, assinado em 2005. Cada um destes acordos atende as necessidades de uma região específica. Em todos os casos, o pacote de colonização inclui compensação financeira, direitos às terras, direitos de caça e oportunidades de desenvolvimento econômico. No Acordo de Reivindicações de Terras de Nunavut o governo federal também se comprometeu com a divisão dos Territórios do Nordeste e a criação do território de Nunavut em 1o de abril de 1999.
A empresa Makivik, que representa os Inuit do norte de Québec, rubricou o Acordo de Reivindicações de Terras Inuit de Nunavik com o governo de Nunavut e o governo do Canadá, em preparação às assinaturas.

Organizações Inuit nacionais e internacionais
Até a década de 1970, os Inuit não tinham organizações regionais nem nacionais para representá-los politicamente. Entretanto, nos primeiros anos da década de 1970, emergiu um grupo de novos líderes. Eles fundaram a organização Inuit Tapiriit Kanatami (ITK) em 1971. Os líderes da ITK trabalharam como lobistas para obter mudanças em políticas que afetavam os Inuit e seu papel no Canadá. O resultado de seus esforços foi que o governo federal forneceu financiamentos a longo prazo para ajudá-los a estabelecer organizações Inuit regionais e nacionais. Usando estes financiamentos, as organizações Inuit se concentraram em temas tais como governo autônomo, reconhecimento constitucional dos direitos de aborígines, questões ambientais e reivindicações de terras.

A Inuit Broadcasting Corporation é a organização nacional encarregada dos serviços de transmissão de rádio e TV dos Inuit. Por meio da Television Northern Canada, a organização transmite programas de televisão Inuit nas regiões de Nunavut, Territórios do Nordeste, Norte de Québec e Labrador, bem como no território Yukon.

Além das organizações nacionais e regionais Inuit, os Inuit do Canadá trabalham para apoiar grupos culturais Inuit que cruzam fronteiras internacionais. Em 1977 a Conferência Circumpolar Inuit foi criada para representar os interesses dos Inuit do Canadá, Groenlândia, Chukota (Rússia) e Alasca. A organização trabalha para fortalecer a união entre os Inuit nessas regiões e promove o desenvolvimento sustentável e os direitos e interesses dos Inuit em nível internacional.

A Conferência também dá aos Inuit do Canadá a oportunidade de participarem em projetos e parcerias de desenvolvimento econômico em toda a região circumpolar, e com povos indígenas em outras partes do mundo.

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