Fernando Batalha
Estive em Lisboa recentemente
e, em visita à Torre de Belém, roteiro turístico obrigatório, notei, nas
proximidades, a existência de um aquartelamento. Por natural curiosidade
dirigi-me para lá onde vi tratar-se de um museu, denominado Museu da Liga dos Combatentes (uma espécie de associação dos ex-combatentes da FEB),
aberto à visitação pública. Entrei e percorri o extenso logradouro durante
quase duas horas, surpreendendo-me com a ampla cobertura da guerra travada
pelas forças armadas portuguesas, de 1969 a 1974, como objetivo de manter o
domínio colonial em Angola, Moçambique e Guiné Bissau. Procurei, posteriormente
à visita, que voltarei a narrar mais adiante, reconstituir, através de numa
enquete com militares e civis, gente do povo, o clima político institucional em
Portugal antes da guerra. É voz corrente em Portugal entre os remanescentes da
era de Salazar que o governo sentia-se enfraquecido popularmente e que grassava
entre os militares forte descontentamento com o regime de exceção que detinha o
poder desde 1926. A guerra teria sido uma decisão política, tomada por
políticos sem ouvir os chefes militares, que, certamente, a desaconselhariam.
Tomada a decisão, participaram da campanha, que durou quase cinco anos,
1.300.000 expedicionários, dos quais 130.000 morreram em combate, 20.000
desaparecidos e 50.000 inválidos! Em 25 de abril de 1974, iniciou-se uma
rebelião de capitães que se recusavam a dar continuidade a uma guerra que,
desde seu início, sabia-se perdida e sobretudo injusta. Da rebelião dos
capitães resultou a renúncia do 1º. Ministro Marcelo Caetano, e, assim, o
encerramento da era Salazar. Esse movimento ficou conhecido como a Revolução
dos Cravos, assim denominada em decorrência da homenagem prestada pelo povo aos
militares, aos quais ofertavam, à guisa de gratidão, nas ruas de Lisboa,
cravos, uma flor tipicamente portuguesa. Exatamente dois anos depois, ou seja,
em 25 de abril de 1976, não por mera coincidência, dia em que se deu a
Revolução dos Cravos, o general António Spínola devolvia pacificamente o poder
aos civis, com a convocação de eleições gerais e a promulgação de uma nova
Constituição. O 25 de abril foi batizado como O DIA DA LIBERDADE.
E como estão, hoje, os
militares em Portugal? Esquecidos pelo poder público, são tratados como
cidadãos de segunda classe com salários aviltados e sem perspectiva de
carreira; o poder de fogo das FF AA está em nível crítico, devido ao desgaste e
à obsolescência de seu material bélico, não obstante as FF AA serem
consideradas pelo povo português como a instituição mais confiável do país.
À PÁTRIA TUDO SE DÁ E NADA SE
PEDE, NEM MESMO COMPREENSÃO! É o que quis dizer no comentário (ver abaixo) que
deixei no Livro de Visitas ao Museu da Liga dos Combatentes.
Qualquer semelhança com o
Brasil pós Revolução Democrática de 31 de março de 1964 não é mera coincidência...
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