segunda-feira, 15 de outubro de 2012

"À Pátria tudo se dá e nada se pede, nem mesmo compreensão!"

Fernando Batalha 

Estive em Lisboa recentemente e, em visita à Torre de Belém, roteiro turístico obrigatório, notei, nas proximidades, a existência de um aquartelamento. Por natural curiosidade dirigi-me para lá onde vi tratar-se de um museu, denominado Museu da Liga dos Combatentes (uma espécie de associação dos ex-combatentes da FEB), aberto à visitação pública. Entrei e percorri o extenso logradouro durante quase duas horas, surpreendendo-me com a ampla cobertura da guerra travada pelas forças armadas portuguesas, de 1969 a 1974, como objetivo de manter o domínio colonial em Angola, Moçambique e Guiné Bissau. Procurei, posteriormente à visita, que voltarei a narrar mais adiante, reconstituir, através de numa enquete com militares e civis, gente do povo, o clima político institucional em Portugal antes da guerra. É voz corrente em Portugal entre os remanescentes da era de Salazar que o governo sentia-se enfraquecido popularmente e que grassava entre os militares forte descontentamento com o regime de exceção que detinha o poder desde 1926. A guerra teria sido uma decisão política, tomada por políticos sem ouvir os chefes militares, que, certamente, a desaconselhariam. Tomada a decisão, participaram da campanha, que durou quase cinco anos, 1.300.000 expedicionários, dos quais 130.000 morreram em combate, 20.000 desaparecidos e 50.000 inválidos! Em 25 de abril de 1974, iniciou-se uma rebelião de capitães que se recusavam a dar continuidade a uma guerra que, desde seu início, sabia-se perdida e sobretudo injusta. Da rebelião dos capitães resultou a renúncia do 1º. Ministro Marcelo Caetano, e, assim, o encerramento da era Salazar. Esse movimento ficou conhecido como a Revolução dos Cravos, assim denominada em decorrência da homenagem prestada pelo povo aos militares, aos quais ofertavam, à guisa de gratidão, nas ruas de Lisboa, cravos, uma flor tipicamente portuguesa. Exatamente dois anos depois, ou seja, em 25 de abril de 1976, não por mera coincidência, dia em que se deu a Revolução dos Cravos, o general António Spínola devolvia pacificamente o poder aos civis, com a convocação de eleições gerais e a promulgação de uma nova Constituição. O 25 de abril foi batizado como O DIA DA LIBERDADE. 
E como estão, hoje, os militares em Portugal? Esquecidos pelo poder público, são tratados como cidadãos de segunda classe com salários aviltados e sem perspectiva de carreira; o poder de fogo das FF AA está em nível crítico, devido ao desgaste e à obsolescência de seu material bélico, não obstante as FF AA serem consideradas pelo povo português como a instituição mais confiável do país. 
À PÁTRIA TUDO SE DÁ E NADA SE PEDE, NEM MESMO COMPREENSÃO! É o que quis dizer no comentário (ver abaixo) que deixei no Livro de Visitas ao Museu da Liga dos Combatentes. 
Qualquer semelhança com o Brasil pós Revolução Democrática de 31 de março de 1964 não é mera coincidência...
Título e Texto: Fernando Batalha, 15-10-2012

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