João van Dunem
era irmão de José van Dunem - morto em consequência do 27 de Maio de 77 - e da
Procuradora Francisca van Dunem. Os dois preconizaram uma querela com Pepetela,
sobre a sua intervenção no "rescaldo" do golpe.
A discussão tende, ao estilo
"Primavera árabe", considerar os apoiantes de Nito Alves/José van
Dunem, vítimas inocentes e, os antagonistas algozes. Vivi a situação e sei que vítimas
houveram de ambas as partes e que quem perdesse, seria a "vítima";
mas inocentes, não. Nenhuma das partes. À época, a tensão indicava a violência
que estava para vir. Não seria mar de rosas para qualquer dos perdedores. Não
discutindo a justeza das razões, as consequências seriam semelhantes.
A discussão não pode é
alhear-se das circunstâncias. Interessa recuar e assistir a fuzilamentos em
praça pública por condenações várias. A insegurança - além da bandidagem e
vinganças "políticas" - ia à situação de alto risco, sempre que algum
grupo de miúdos decidia içar a bandeira de Angola, numa "base de
pioneiros". Os mais distraídos que não pararam o carro e, em posição de
sentido aguardaram o fim da "coisa", incluindo o cantarolar do hino,
sofriam consequências. Se juntarmos os inflamados discursos de Nito Alves, era
um Cocktail explosivo.
Sei que Pepetela, entre
outros, foi um "filtro" de bom senso num momento em que as forças
mais radicais (militares e segurança de Estado), não queriam perder tempo com
"conversas". Não esquecer que, ou se estava a favor ou contra. Não se
admitia a equidistância, a neutralidade, ou a indiferença.
O homem e as suas acções têm
sempre a ver com as circunstâncias. Ignorar isso, não permite a discussão.
Título e Texto: Alberto de
Freitas
PS. Os milhares de elementos
da "família" Van-Dunem (com ou sem hifen), não têm nada a ver uns com
os outros. À época, aos escravos e trabalhadores forçados, era dado um nome
cristão e o apelido do fazendeiro para onde iam trabalhar. Diz-se que os Van
Dúnem sem hifen, são "filhos do chefe de posto". A referida (talvez
mito) personagem, quando apontava o nome na documentação, por ignorância ou esquecimento,
não incluía o dito "tracinho".
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