
O eurodeputado do PSD, Mário
David, descobriu, após uma aterragem bastante conturbada, que a Air France
efetua treinos de pilotos em voos comerciais. Perante o facto, testemunhado por
si próprio, exige explicações à companhia francesa, à Comissão Europeia e ao
Conselho Europeu.
"Há coisas com as quais
não se deve brincar. Não se admite que façam dos passageiros cobaias,
sobretudo, numa companhia como a Air France, na qual depositamos toda a
confiança", declarou ao Expresso Mário David.
A queixa surge após uma viagem
do deputado, no passado dia 19 de março, de Paris a Lisboa, num voo da Air
France quando, na aproximação à capital portuguesa, as rodas traseiras do avião
tocam no chão e, de repente, a aterragem é abortada e o avião arranca com
velocidade.
A seguir ao primeiro incidente,
o avião fez outra aproximação e um novo "borregar", altura em que o
comandante do avião comunicou à torre de controlo que não aterrava devido a um
"golpe de vento", mas que "na verdade não existiu".
Segundo Mário David, à saída
do avião podia ver-se na ficha de bordo que a tripulação do voo incluía dois
co-pilotos com nomes asiáticos. "Dirigi-me à chefe de cabina e disse-lhe:
Já aterrei mais de 1000 vezes em Lisboa e nunca tive uma situação destas, será
porque desta vez estavam dois co-pilotos chineses?", questionou o
eurodeputado à tripulante, que, irritada, arrancou a ficha de bordo e recusou
dar explicações.
Companhia já encomendou relatório
"O vento era de dez nós
contrários e de 350 graus, uma situação ideal para aterrar no aeroporto de
Lisboa. A justificação não é aceitável, pelo que decidi fazer alguns
telefonemas e vim a descobrir que a Air France tem um contrato de formação de
pilotos chineses", explicou.
Na terça-feira, o eurodeputado
ligou logo para a Air France, tendo pedido para falar com o diretor da
companhia, que já não se encontrava na sede, mas no dia seguinte recebeu uma
chamada a dizer que tinham recebido a sua queixa e que já tinham pedido um
relatório a Paris, e que assim que este estivesse pronto seria avisado.
"Isto passou-se no
aeroporto de Lisboa, com certeza que não aconteceria em Londres ou
Frankfurt", acrescenta o português Mário David.
Depois deste episódio, o
eurodeputado resolveu questionar a Comissão Europeia e o Conselho Europeu sobre
se as companhias aéreas estão autorizadas a fazer treinos durante voos
comerciais, com passageiros, esperando obter uma resposta no prazo de 30 dias.
Apurar responsabilidades
"Porquê uma pergunta
parlamentar à Comissão, quando poderia apenas depositar uma queixa contra a Air
France? Em primeiro lugar, porque gostaria de saber se uma empresa aérea da UE,
e no seu espaço aéreo, pode fazer voos de treino em voos comerciais, com
passageiros", diz Mário David.
No caso de se cumprirem as
normas europeias, o eurodeputado questiona ainda se as autoridades dos países
não devem pelo menos ser previamente avisadas das intenções das companhias.
"Em caso afirmativo, há
ou não a obrigação da concordância das autoridades dos países das rotas em que
tais treinos são efetuados? E assiste ou não aos passageiros o direito de saber
previamente a existência de tais treinos? E é ética e deontologicamente
aceitável que o comandante minta aos passageiros?", interroga-se.
"Embora não sendo
verdade, vamos assumir que o treino é totalmente isento de perigo: mas se um
passageiro, com o susto, sucumbir a uma crise cardíaca, de quem é a
responsabilidade? Do vento?", pergunta ainda Mário David, frisando que a
operação de treino podia não ser intencional, mas mesmo uma aterragem falhada
dos treinantes.
Título e Texto: Liliana Coelho, Expresso,
22-03-2013
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