![]() |
Ilustração: Bojesen |
Matthias Horx
Philokypros Andreou,
presidente da Câmara de Comércio e Indústria cipriota fala de guerra: “É como
em 1974, quando os turcos nos invadiram: é um genocídio financeiro!”, dispara
numa entrevista concedida a Die Welt. “O nosso setor financeiro foi arruinado!
Merkel e Schäubel estão a prejudicar pessoas inocentes!”
Genocídio. Humm. A imprensa
alemã gosta de frases fortes. “Confiança em grande perigo!”, “Novo temor pela
Europa!”, “As pessoas irão a correr fechar as suas contas?” É assim que se cria
o pânico contra o qual se procura advertir, evidentemente com total inocência –
apenas fazemos a cobertura dos acontecimentos.
“Sim, temos banqueiros e
dirigentes políticos corruptos, mas somos nós, os cipriotas, que somos as vítimas!”,
declarou Andreou. A sério? O Chipre tem um setor bancário estranhamente
sobredimensionado, poucos negócios, impostos muito baixos. Se, na minha
comunidade, passam o tempo a construir autoestradas, portos e grandes zonas
pedonais, apesar de impostos muito baixos e uma indústria fraquíssima, o
cidadão comum, como eu, não tem realmente nada a ver com isso?
As pequenas poupanças vão ter
de pagar 3% para a resolução da crise do Chipre, as maiores seis ou 10%. Claro
que se poderia aprovar um imposto especial, mas os detentores estrangeiros de
grandes contas recheadas de dinheiro sujo teriam corrido para outras paragens.
Resta, portanto, a solução de um protetorado russo e o habitual circo de
protestos, em que se associa Merkel a Hitler e se levantam suspeitas pueris de
que “a Europa quer destruir o Chipre”.
Democracia não se rege por
regras do consumo
Tenho alguns amigos gregos,
nada ricos, que há muito perceberam que, como cidadãos, fazem parte de um
sistema corrupto. Não são individualmente corruptos, mas sabiam que, em
sociedade, cada um é corresponsável dos erros. Isso é a condição excelente que
permite criar o capital de confiança que garante o futuro de uma sociedade. Foi
exatamente assim que os cidadãos dos países escandinavos reagiram à grande
crise económica que os afligiu nos anos de 1990: assumiram em conjunto as suas
responsabilidades.
Não é a crueldade dos
banqueiros nem a incompetência dos políticos que ameaça a Europa, mas o facto
de se delegar a democracia. A ideia interiorizada de que “os de cima” é que são
responsáveis e culpados de tudo. A tendência para eleger políticos que só
servem para insultar e substituí-los por uns Beppe Grillo de todos os quadrantes políticos.
É sempre a mesma ladainha. A
Alemanha tem problemas de pobreza? A culpa é dos ricos. As nossas escolas não
prestam? Os políticos que corrijam isso. As pensões são insuficientes? O Estado
tem de abrir os cordões à bolsa. É o que se ouve na televisão e nos transportes
públicos. A democracia não me diz respeito e os outros é que pagam.
Queremos controlar tudo sem
nos metermos em nada, ao ponto de termos sociedades obcecadas com a ideia
paranoica de que “os culpados são os outros”. Ora a democracia não se rege
pelas regras do consumo.
Título e Texto: Matthias Horx, PressEurope,
21-03-2013
Relacionados:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-