segunda-feira, 25 de março de 2013

Desabafo!

Rosa Maria Custódio
Li a mensagem do colega José Carlos Bolognese e acabei escrevendo isso que aqui colo, depois de dar uma corrigida em alguns erros de digitação e complementar algumas ideias. O nossa carma é coletivo, mas a carga que cada um carrega neste mundo é individual!
Eu compartilho de toda essa indignação que vivemos, mas sei que podemos fazer muito pouco diante da vilania e insensibilidade desse governo. Na História do Brasil e mesmo mundial, não falta injustiçados. Para que eles existam, tem um grupo bem grande de pessoas tirando proveito. Quando alguém diz que um governo é corrupto, pensa apenas nos que estão nos primeiros escalões. Mas os aproveitadores estão em todos os lugares, são nossos vizinhos, frequentam os lugares comuns de qualquer mortal, e estão convictos de estarem fazendo a sua parte: ganhando o seu dinheiro, sem se importar de onde e como vem. O mundo é habitado por seres egoístas na sua maioria.
Por outro lado, eu não aguentaria ficar lidando com essas forças inescrupulosas que estão se infiltrando em todos os setores da política brasileira. Eu me aposentei aos 52 anos, com 70% do AERUS, porque não estava aguentando nem a aviação! A regulamentação, a escala desumana, a falta de respeito da nossa Gerência naqueles anos, principalmente com os mais antigos, aqueles que fizeram a empresa crescer! Quase todo o mês eu estava indo ao médico. Tinha insônia e não conseguia dormir, apenas duas ou três horas por noite. Foi um tempo horrível na minha vida! Eu sabia que se ficasse mais tempo perderia o resto da minha saúde. Hoje eu levo uma vida simples, mas bem mais saudável! Sinto falta de muita coisa, mas procuro fazer o que gosto e estou me dedicando a vários projetos que estavam engavetados por falta de tempo e de ânimo. Levou muito tempo para que eu voltasse a ver a VARIG com bons olhos, porque os últimos anos foram horríveis! E quem ficou trabalhando ainda mais tempo, sofreu muito mais.
Teve um gerente que resolveu tirar os cargos dos Chefes de Equipe, ele se considerava o tal. Muitos foram sacrificados e um dia chegou a minha vez. Eu me senti muito injustiçada e não vi ninguém levantar um dedo para me defender. Cada um procurava garantir o seu lugar, seu emprego, seu ganho. Tem momentos na minha vida, quando fico extremamente decepcionada e me sinto aviltada, que fico sem ânimo, sem vontade de enfrentar a realidade injusta e as pessoas que vão causando o mal aos outros sem piedade. Eu fiquei arrasada por algum tempo, mas depois criei coragem e escrevi uma longa carta ao nosso Diretor de Operações, naquela época. Como consequência, pouco tempo depois, os colegas recuperaram os cargos e eu também. Mas o gosto amargo continua na minha boca. Nem todos, na Varig, foram santos. Nem todos, na sociedade, são santos. E cada um vai seguindo o seu caminho... Estou escrevendo isto e sentindo um nó na garganta. Tenho 61 anos de vida. Trabalhei e estudei a vida inteira! Trabalhei de graça, como voluntária, muitas vezes. Agora quero me dedicar aos projetos que ficaram na gaveta (porque durante o tempo de aviação, só com muito sacrifício conseguíamos fazer alguma coisa além de cumprir as escalas de voo!) Agora quero fazer aquilo que acredito e que me proporciona um sentido de realização na vida. Todo o santo dia eu me vejo como passageira neste mundo e daqui não vou levar nada do que pertence ao mundo da matéria!
Por isso e outras coisas que não falei, não esperem que eu vá levantar bandeiras nos aeroportos e ficar reclamando dos maus políticos, porque eles sempre existiram. E o povão está tão dependente que continua acreditando no canto das sereias... a minha situação pode ser até confortável, mas eu conheço pouquíssimas pessoas que trabalham como eu ainda trabalho! Desde que levanto, bem cedo, até a hora de dormir, por volta das 23 horas! Estou escrevendo a minha história, com muito trabalho e essa história vai ficar para meus familiares e amigos, com as tintas que eu mesmo faço, usando o que consigo juntar com minhas próprias mãos!
Foi muito difícil começar a escrever livro e já estou no terceiro. Este livro que estou terminando (Comissárias de Voo & suas histórias de vida) é uma homenagem que faço às minhas colegas de voo e à minha profissão. Não tem nada nele que possa denegrir a imagem de alguém, muito menos da empresa. As pessoas que não me são gratas, não merecem que eu escreva sobre elas. Procuro fazer o melhor que posso, em qualquer circunstância. E vou seguindo em frente até meu último suspiro.
Título e Texto: Rosa Maria Custódio, 24-03-2013

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6 comentários:

  1. SÓ TENHO UMA PALAVRA SOBRE TUDO ISSO:
    LAMENTÁVEL............
    FERNANDES

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  2. Valeu a publicação, amigo Jim!
    Um desabafo, é um desabafo...
    parabéns pelo seu trabalho!
    Abraços,
    Rosa Maria

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  3. Eu é que agradeço, pois gostei muito do texto.E repito o que escrevi na mensagem: você esbofeteou a hipocrisia!
    Abraços de carinho./-

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  4. Fiquei fascinado com o relato de Rosa Maria e lhe dou os parabéns por não ter sucumbido diante das injustiças. Gostaria de saber como adquirir seu livro sobre as comissárias.
    Abraços,
    Otacílio

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  5. Agradeço suas gentis palavras, Otacílio. O livro está em processo de revisão... Asim que ficar pronto, avisarei! Vou passar mais informações para o Jim Pereira, pois estou fazendo uma promoção de vendas antecipadas e, em contrapartida, publicarei o nome das pessoas que participarem na página "Apoio Cultural", no próprio livro. Faço isso para custear a gráfica, pois os preços estão salgados...
    Abraço,

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  6. Jim,

    Farei questão de ler este livro. Como você já sabe, tenho grande afinidade com este pessoal que trabalha ou trabalhou na aviação. Não sei se já lhe disse, sou um frustrado por não ter seguido uma carreira na aviação. Meu sonho de criança era ser piloto. Não consegui. Hoje, tenho uma filha adotiva que está na Real Força Aérea Australiana e já pilota um Cessna de um amigo nosso e tirou o brevet de piloto comercial. Tem 18 anos de idade e breve vai pilotar jatos de combate.

    Quero ler este livro sobre as aeromoças, estas fantásticas mulheres que alegram os vôos e, sobretudo, transmitem segurança aos medrosos de voar.
    Otacílio Guimarães

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