domingo, 24 de março de 2013

Bolognese escreve ao senador Alvaro Dias sobre os sete anos...

José Carlos Bolognese 

Prezado Senador Álvaro Dias,
Acredito que o senhor irá se manifestar no Senado, sobre o drama dos ex-trabalhadores e aposentados da Varig, que completa sete anos na sexta-feira, dia 12 de abril de 2013. Sendo nosso apoiador de longo tempo, não espero outra atitude de sua parte e sei que o fará se puder.
Senador, se existe algum proveito em se sofrer qualquer injustiça, este é certamente o de nos abrir os olhos e, se tivermos um pouco de inteligência, usar dessa experiência para fazer melhor da próxima vez. No nosso caso, como nos de outros grupos, onde os percalços acontecem em situações limite, ainda que se possa ganhar experiência, não sobra muito espaço para recuperação e fica-se apenas mais sábio, mas sem poder retornar a um estado ideal que se tinha antes, como por exemplo, os empregos e as aposentadorias de pessoas decentes.
Nesses sete anos, tempo em que o nosso grupo sofreu toda sorte de violências que não se podem esperar e aceitar de um estado democrático regido pela lei e garantidor do direito, tudo o que esteve ao nosso alcance foi feito – sem que fosse nossa obrigação por sermos a parte lesada – em matéria de manifestações de todos os modos possíveis, sem no entanto lograrmos alcançar pouco mais do que desculpas infames, promessas imediatamente desmentidas, procrastinações e indiferença total. Não vou, por desnecessário, repetir aqui tudo que outros e eu relatamos acerca dos danos, das medidas que deveriam ter sido tomadas e das responsabilidades na questão Aerus/Varig.
Todavia, como disse antes, aprende-se apanhando. E o que aprendemos – e penso que não falo só por mim mesmo – é que vivemos a anos-luz distantes do que se proclama ser o Brasil uma nação democrática que a todos inclui. De fato, isto nunca foi verdade em nenhum momento da nossa história. Embora haja instituições e documentos determinando, o fato é que o estado, a união ou seja lá o nome que se dê, funciona de forma parcial. Não se pode dizer que não alcance a todos, porém a qualidade deste alcance é que faz toda a diferença.
Destaco um detalhe pessoal. Cometi um engano na minha declaração de renda do ano passado, mas já fui acionado pela Receita Federal e vou pagar o que determinam. E nem acho injusto, mas me é difícil aceitar que o que “erraram” contra mim ultrapasse sete anos sem solução. Além disso, é mais difícil ainda saber que os brasileiros – os que trabalham naturalmente – tenham de repassar às garras do governo cerca de 2600 horas de trabalho em impostos todos os anos, o maior confisco do planeta. Quando o Brasil ainda nem era um país, fez-se uma Inconfidência por menos que isto. Pior ainda é ver essa senhora que ocupa a presidência da República fazer uma viagem inútil para o país, levando a sua corte – que nunca será tratada como os ex-trabalhadores da Varig – apenas para dizer asneiras ao novo Papa e envergonhando os brasileiros decentes. Além de lhes causar prejuízo. Eo caso do ex, viajando e usando de logística paga pelo contribuinte? Não cabe aí acionar a Lei de Responsabilidade Fiscal?
Infelizmente os abusos não param aqui. Nos dez anos desse governo infame, testemunhamos tantos desvios de conduta que é impossível descrevê-los. Mas podemos lembrar desse caso da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, que esconda-se ou não no balanço, já é um “mico” de 1 bilhão de dólares na Petrobrás, isto é, pra nós! É doloroso ver tudo isto acontecer sabendo que todos os recursos desperdiçados nesses escândalos dariam para salvar a Varig muitas vezes e seus trabalhadores preservados de tanta desgraça.
Caro Senador, ao chegar aos sete anos dessa infâmia, eu que sobrevivi vejo a decisão ter chegado à mais alta corte do país, o STF. Confesso que meu sentimento de esperança se confunde com o de mais puro medo. Na minha compreensão, somos colocados numa situação de tudo ou nada, por ser este um degrau de decisão aparentemente terminativa. Se for favorável, aleluia!, mas e se não? Como vamos poder continuar vivendo? Poderemos voltar a comer, vestir, morar, cuidar da saúde, amparar a família ter direito ao lazer, tudo dentro dos padrões de uma democracia operada por um estado ao qual já demos toda a nossa lealdade, mas que nos apunhala pelas costas? Poderemos viver em pleno direito sem que se nos seja atirada a pêcha de predadores da “União”, como não se cansam de afirmar?
Sinto que não é só para nós variguianos que as coisas nesse país devem mudar para melhor. Mas resgatar os nossos direitos violentados há sete anos já seria um bom começo.
Muito obrigado,
José Carlos Bolognese 
65 anos/Comissário de Voo da Varig por 30 anos/Contribuinte do Aerus por 20 anos

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