Prezado Senador Álvaro Dias,
Acredito que o senhor irá se
manifestar no Senado, sobre o drama dos ex-trabalhadores e aposentados da
Varig, que completa sete anos na sexta-feira, dia 12 de abril de 2013. Sendo
nosso apoiador de longo tempo, não espero outra atitude de sua parte e sei que
o fará se puder.
Senador, se existe algum
proveito em se sofrer qualquer injustiça, este é certamente o de nos abrir os
olhos e, se tivermos um pouco de inteligência, usar dessa experiência para
fazer melhor da próxima vez. No nosso caso, como nos de outros grupos, onde os
percalços acontecem em situações limite, ainda que se possa ganhar experiência,
não sobra muito espaço para recuperação e fica-se apenas mais sábio, mas sem
poder retornar a um estado ideal que se tinha antes, como por exemplo, os
empregos e as aposentadorias de pessoas decentes.
Nesses sete anos, tempo em que
o nosso grupo sofreu toda sorte de violências que não se podem esperar e
aceitar de um estado democrático regido pela lei e garantidor do direito, tudo
o que esteve ao nosso alcance foi feito – sem que fosse nossa obrigação por
sermos a parte lesada – em matéria de manifestações de todos os modos
possíveis, sem no entanto lograrmos alcançar pouco mais do que desculpas
infames, promessas imediatamente desmentidas, procrastinações e indiferença
total. Não vou, por desnecessário, repetir aqui tudo que outros e eu relatamos
acerca dos danos, das medidas que deveriam ter sido tomadas e das
responsabilidades na questão Aerus/Varig.
Todavia, como disse antes,
aprende-se apanhando. E o que aprendemos – e penso que não falo só por mim
mesmo – é que vivemos a anos-luz distantes do que se proclama ser o Brasil uma
nação democrática que a todos inclui. De fato, isto nunca foi verdade em nenhum
momento da nossa história. Embora haja instituições e documentos determinando,
o fato é que o estado, a união ou seja lá o nome que se dê, funciona de forma
parcial. Não se pode dizer que não alcance a todos, porém a qualidade deste
alcance é que faz toda a diferença.
Destaco um detalhe pessoal.
Cometi um engano na minha declaração de renda do ano passado, mas já fui
acionado pela Receita Federal e vou pagar o que determinam. E nem acho injusto,
mas me é difícil aceitar que o que “erraram” contra mim ultrapasse sete anos sem
solução. Além disso, é mais difícil ainda saber que os brasileiros – os que
trabalham naturalmente – tenham de repassar às garras do governo cerca de 2600
horas de trabalho em impostos todos os anos, o maior confisco do planeta.
Quando o Brasil ainda nem era um país, fez-se uma Inconfidência por menos que
isto. Pior ainda é ver essa senhora que ocupa a presidência da República fazer uma viagem inútil para o país, levando a sua corte – que nunca será tratada
como os ex-trabalhadores da Varig – apenas para dizer asneiras ao novo Papa e
envergonhando os brasileiros decentes. Além de lhes causar prejuízo. Eo caso do ex, viajando e usando de logística paga pelo contribuinte? Não
cabe aí acionar a Lei de Responsabilidade Fiscal?
Infelizmente os abusos não
param aqui. Nos dez anos desse governo infame, testemunhamos tantos desvios de
conduta que é impossível descrevê-los. Mas podemos lembrar desse caso da compra
da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, que esconda-se ou não no balanço,
já é um “mico” de 1 bilhão de dólares na Petrobrás, isto é, pra nós! É doloroso
ver tudo isto acontecer sabendo que todos os recursos desperdiçados nesses
escândalos dariam para salvar a Varig muitas vezes e seus trabalhadores
preservados de tanta desgraça.
Caro Senador, ao chegar aos
sete anos dessa infâmia, eu que sobrevivi vejo a decisão ter chegado à mais
alta corte do país, o STF. Confesso que meu sentimento de esperança se confunde
com o de mais puro medo. Na minha compreensão, somos colocados numa situação de
tudo ou nada, por ser este um degrau de decisão aparentemente terminativa. Se
for favorável, aleluia!, mas e se não? Como vamos poder continuar vivendo?
Poderemos voltar a comer, vestir, morar, cuidar da saúde, amparar a família ter
direito ao lazer, tudo dentro dos padrões de uma democracia operada por um
estado ao qual já demos toda a nossa lealdade, mas que nos apunhala pelas
costas? Poderemos viver em pleno direito sem que se nos seja atirada a pêcha de
predadores da “União”, como não se cansam de afirmar?
Sinto que não é só para nós
variguianos que as coisas nesse país devem mudar para melhor. Mas resgatar os
nossos direitos violentados há sete anos já seria um bom começo.
Muito obrigado,
José Carlos Bolognese
65 anos/Comissário de Voo da Varig por 30 anos/Contribuinte do Aerus por 20 anos
65 anos/Comissário de Voo da Varig por 30 anos/Contribuinte do Aerus por 20 anos
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