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Uma reprodução de Angela
Merkel e Nicos Anastasiades no Carnaval de Limasol, Chipre, em março de 2013.
Imagem: AFP
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John Müller
A culpa por esta última crise
do euro não é dos cipriotas, é de Angela Merkel e do seu Governo, e não percam
tempo à procura de explicações. A culpa não é de um setor bancário
hipertrofiado que chegou a deter 128 mil milhões em ativos, num país com um PIB
de 17 mil milhões: é de Merkel.
A culpa não é dos bancos que
não hesitaram em aceitar 21 mil milhões de oligarcas russos e outro tanto de milionários árabes (de difícil
justificação), sem fazer perguntas, como chamaram a atenção, em novembro de 2012, os serviços secretos alemães.
Estavam a praticar o International Personal Banking e a "otimização
fiscal" e Merkel, em contrapartida, é de moral protestante.
A culpa não é sequer dos
gestores que, por patriotismo (Chipre é metade grego), investiram 50% – sim,
50% – em obrigações gregas, apesar de saberem que corriam o risco de perder
tudo. Não: é de Merkel.
A culpa não é de Sigmar
Gabriel, o simpático líder social-democrata alemão, que retirou à chanceler
todas as hipóteses de bater em retirada: "Não posso imaginar os
contribuintes alemães a salvarem bancos cipriotas, cujo modelo de negócio se
baseia na ajuda à evasão fiscal”. Não: a culpa toda é de Merkel, claro.
Acabar com a mama do
sistema financeiro
Tão-pouco é do patético
ex-Presidente cipriota, o comunista Dimitris Christofias, um autocrata formado
no Komsomol soviético (daí, talvez, tantas contas russas), que nem sequer
consultava os seus ministros, o parlamento ou o Banco Central. The
Guardian, um diário insuspeito de animosidade, acusou-o, em dezembro, de
conduzir o país "para uma situação lamentável". Foi Christofias quem
teimou em manter no porto o barco com armas para o Hezbollah, que explodiu em
2011 e levou pelos ares a única central elétrica do país.
Também apoiou o presidente de
um dos grandes bancos, o Marfin Laiki, quando este transferiu a sua sede para a
Grécia, apesar da oposição do Banco Central. A sua última parvoíce foi não
negociar a integração da sua banca com a banca grega, quando foi decidido o
famoso cancelamento parcial. Aí, este génio da economia, afundou o país. Mas
não: a culpa é de Merkel.
Tão-pouco parece que a
responsabilidade seja do brilhante sucessor, Nicos Anastasiades, um dirigente fraco que aposta na cartada de "culpar a
Europa por tudo o que tenho de fazer". Anastasiades apoia-se em meias
verdades para depauperar os depósitos do seu povo, em vez de começar por
apresentar a fatura aos acionistas e aos credores dos bancos. Mas, claro, isso
implicaria acabar com a mama do sistema financeiro que criaram e do qual
esperam continuar a viver. Schäuble recordou ontem que o assalto aos
depositantes não é uma ideia alemã. Mas não: a culpa é de Merkel.
E é também de Merkel, por
permitir que o tal Anastasiades jogue agora com o prestígio da zona euro, como
antes fez Papandreu. E porque, há quatro anos, não foi firme e não vetou a
entrada de Chipre na moeda única. Porque se deixou enganar pela certificação da
OCDE de que eram cumpridas 40 normas antibranqueamento. E, já agora, de
Christine Lagarde, do FMI, que a apoiou. Recordam-se de quem entregou ao
ministro grego a lista de evasores fiscais, aquela que se perdeu? O que não saberá Lagarde
sobre a banca cipriota! Mas não: a culpa é de Merkel. E é melhor que seja,
porque qualquer outra consideração deixar-nos-ia desprotegidos perante a nossa
própria ignorância.
Título e Texto: John Müller, PressEurope,
19-03-2013
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