A única justificação plausível
para a longa entrevista do eng. Sócrates à RTP passaria pela apresentação
formal de um pedido de desculpas pelos erros cometidos em seis anos de
desmiolada governação. Passou-se exactamente o contrário: o homem continua impermeável
à realidade, não admitiu um só erro e distribuiu culpas por tudo o que se movia
e move em seu redor. Portugal está como está graças à crise internacional, à
Lehmann Brothers, a Cavaco Silva, ao actual Governo, ao "Correio da
Manhã" e aos biltres sortidos que teimam em difundir
"narrativas" (sic) mentirosas sobre a excelsa competência e
personalidade do ex-primeiro-ministro. Ele acerta sempre, logo, por definição,
os que dele discordam falham sempre.
Convém reconhecer que, apesar
de intrinsecamente tontas, na prática estas alucinações funcionam. Não obstante
a brutal inépcia de que já deu provas, o eng. Sócrates continua a dispor de um
número considerável de seguidores fervorosos. Pior: mesmo entre os adversários
há quem lhe atribua o tipo de características que constituem o chamado
"carisma", virtude exaltada em sociedades primitivas e que quando não
suscita veneração suscita uma espécie de asco respeitoso. Ou medo. Donde as
expectativas de índole diversa fomentadas pelo regresso da criatura e o sucesso
de audiências do regresso propriamente dito.
Perante isto, impõe-se uma questão: as pessoas andarão maluquinhas? Bem espremido, o eng. Sócrates merece tanta consideração quanto o título que precede o nome. Em matéria de ridículo, demonizá-lo equivale a beatificá-lo, no sentido de se lhe dar a importância que ele evidentemente não possui. O mito do "animal feroz", que o próprio mitómano inventou a ver se colava, colou de facto e tornou-se um dado adquirido a fiéis e a inimigos, os quais deveriam parar para pensar no exagero em que incorrem.
Descontado o folclore alusivo,
a que se resume afinal o eng. Sócrates? A pouquito, uma mediocridade arrogante
e uma calamidade política que subiu na carreira à custa de manha, sorte e
atraso de vida. Foi justamente o atraso de vida que proporcionou o típico
encanto de alguns face à prestação televisiva da passada quarta-feira (27-03).
Não importa que o eng. Sócrates tenha passado a entrevista a exprimir-se em língua-de-trapos (repetiu em 57 ocasiões a palavra "narrativa", nenhuma no contexto adequado), a contar mentirolas cabeludas, a desfilar desfaçatez e a exibir impertinência perante jornalistas aliás meigos. Não importa que compare uma dívida pública agravada em prol da propaganda eleitoral com os empréstimos necessários para atenuar os efeitos da bancarrota que a propaganda provocou. Não importa que explique o luxo de Paris com uma dívida privada e hilariante. Não importa que, com a discutível excepção do ataque às trapalhadas do PR, a prestação do eng. Sócrates roçasse o patético. Importa insistir que o "animal feroz" se mostrou preparadíssimo e mantém uma relação privilegiada com as câmaras. Mário Soares considerou a entrevista "brilhante" e, notoriamente excitado, um antigo funcionário do portento proclamou: "Sócrates ama a televisão e a televisão ama Sócrates."
Não importa que o eng. Sócrates tenha passado a entrevista a exprimir-se em língua-de-trapos (repetiu em 57 ocasiões a palavra "narrativa", nenhuma no contexto adequado), a contar mentirolas cabeludas, a desfilar desfaçatez e a exibir impertinência perante jornalistas aliás meigos. Não importa que compare uma dívida pública agravada em prol da propaganda eleitoral com os empréstimos necessários para atenuar os efeitos da bancarrota que a propaganda provocou. Não importa que explique o luxo de Paris com uma dívida privada e hilariante. Não importa que, com a discutível excepção do ataque às trapalhadas do PR, a prestação do eng. Sócrates roçasse o patético. Importa insistir que o "animal feroz" se mostrou preparadíssimo e mantém uma relação privilegiada com as câmaras. Mário Soares considerou a entrevista "brilhante" e, notoriamente excitado, um antigo funcionário do portento proclamou: "Sócrates ama a televisão e a televisão ama Sócrates."
Seria cruel interromper o
idílio, que de resto prosseguirá em doses semanais a partir de Abril. Os fiéis
do eng. Sócrates aproveitarão para se deliciar com o exercício e os que vêem no
sujeito a origem do Mal poderão entreter-se a exorcizá-lo. Pelo meio, é
possível que, programa após programa, laracha após laracha, uns tantos ganhem
bom senso e comecem a reduzir aquela lamentável figura à sua verdadeira
dimensão, a de um vendedor de patranhas que, orientado pela vaidade,
fundamentado na inépcia e sustentado por pasmados e oportunistas, ajudou mais
do que qualquer outro a arruinar o país. Sendo certo que os estudos em Paris
não ensinaram nada ao eng. Sócrates, talvez os portugueses que por cá pagam a
factura do seu intelecto aprendam uma ou duas coisinhas.
Título e Texto: Alberto Gonçalves, Diário de Notícias, 31-03-2013
Políticos como "comentadores da atualidade", só em Portugal... Um país exemplarmente democrático! Além dos telejornais, não de notícias, mas panfletos político-partidários, temos comícios televisivos dia sim, dia sim... Um luxo!
Há apenas dois anos o país era o mais rico do mundo socialista, não devia nada a ninguém, tinha PEC (Programa de Estabilidade e Crescimento) atrás de PEC... autoestradas, aeroportos, trens de alta velocidade, Hugo Chávez como dileto amigo... até que a Direita INVENTOU uma tal de Troika (FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu) e começou a gastar o dinheiro, ou melhor, o superavit acumulado. Em dois anos, só dois anos, esbanjou a riqueza que os socialistas souberam acumular, com disciplina, sobriedade e seriedade. Um lixo!
Políticos como "comentadores da atualidade", só em Portugal... Um país exemplarmente democrático! Além dos telejornais, não de notícias, mas panfletos político-partidários, temos comícios televisivos dia sim, dia sim... Um luxo!
Há apenas dois anos o país era o mais rico do mundo socialista, não devia nada a ninguém, tinha PEC (Programa de Estabilidade e Crescimento) atrás de PEC... autoestradas, aeroportos, trens de alta velocidade, Hugo Chávez como dileto amigo... até que a Direita INVENTOU uma tal de Troika (FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu) e começou a gastar o dinheiro, ou melhor, o superavit acumulado. Em dois anos, só dois anos, esbanjou a riqueza que os socialistas souberam acumular, com disciplina, sobriedade e seriedade. Um lixo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-