Fernando Moreira de Sá
Nos últimos dias muito se
escreveu sobre o putativo cenário de eleições antecipadas (ou um governo de
iniciativa presidencial). Pensando com a máxima frieza e o distanciamento
possível, aqui ficam as minhas dúvidas.
Temos cinco partidos (PSD, PS,
CDS, PCP e BE) com votos e "máquinas partidárias" suficientes para
elegerem deputados. Cinco. Desses, três defendem o caminho imposto pelos
credores, a troika. São eles o PSD, o PS e o CDS. Os outros dois, PCP e BE
dizem defender o caminho oposto. Os primeiros, independentemente de uma ou outra
nuance (mais estratégica que outra coisa qualquer), entendem que Portugal deve
permanecer no Euro, na União Europeia e cumprir os seus compromissos com os
credores. Os segundos, defendem a imediata saída do Euro, em matéria de UE são
suficientemente vagos para não se ter certezas e quanto aos compromissos com os
credores...bem, entre renegociar, um perdão e o mais radical "não
pagar" vai um pulinho. Isto, da forma mais reduzida e simplista possível.
Bloco e PCP representam, a acreditar nas sondagens, menos de 20% dos eleitores.
Pelo menos, por agora.
A receita que a troika nos
prescreveu, como se está a ver, não resultou. Na minha opinião, a solução
apresentada pelo Bloco e pelo PCP seria um desastre. Assim sendo, seria
natural, perante o actual estado da nossa economia, que existisse uma
alternativa. E que qualquer um dos três restantes partidos, a solo ou em
conjunto, fossem os primeiros a apresentar um caminho alternativo. Mas não. As
suas agendas estão desfocadas da realidade. As deles e as nossas. Aqui nossas
significa: comentadores, bloggers, jornalistas e outros que tais (pedindo desde
já desculpa pela generalização, algo sempre injusto). Por estes dias, com os
números da economia profundamente negros, com a tragédia do crescimento
constante do desemprego e as notícias aterradoras vindas do Chipre, o
"planeta mediático nacional" discute o renascimento do comentador
Sócrates, as palavras do CDS sobre a remodelação e as inacreditáveis fugas de
informação do Tribunal Constitucional. Ou seja, estamos a falar uns para os
outros, em circuito fechado. No Portugal "profundo" a discussão é
outra: os que ainda guardam algumas poupanças nos bancos, perguntam a quem sabe
(ou a quem julgam que sabe) o que fazer ao dinheiro (tirar do banco e meter em
casa? Abrir conta no estrangeiro?).
Boa parte dos jovens discute com os pais se partem já para Angola, Brasil, Moçambique ou qualquer outro país. Os mais velhos procuram sobreviver e os empresários evitam fechar perante semelhante esbulho fiscal. A esperança, essa, fugiu para parte incerta e o Portugal mediático transformou-se numa caricatura.
Boa parte dos jovens discute com os pais se partem já para Angola, Brasil, Moçambique ou qualquer outro país. Os mais velhos procuram sobreviver e os empresários evitam fechar perante semelhante esbulho fiscal. A esperança, essa, fugiu para parte incerta e o Portugal mediático transformou-se numa caricatura.
Uma verdadeira encruzilhada...
Título e Texto: Fernando Moreira de Sá, Forte Apache, 01-04-2013
Nota: Aqui ao lado, em
Espanha, fruto de mais uma bronca com dinheiros públicos, os ERE - Expediente
de Regulación de Empleo, envolvendo políticos, empresários e sindicalistas
(UGT e CCOO) colocou na agenda a questão da transparência dos dinheiros dos sindicatos.
A UGT e a CCOO (a CGTP espanhola) receberam mais de 30 milhões de euros de
dinheiros públicos sem terem realizado nenhum trabalho. Os números são
incríveis: o governo da Andaluzia entregou aos sindicatos (a troco de garantir
a paz social) mais de mil milhões de euros entre 2001 e 2010. As duas centrais
sindicais receberam, só em 2011 e 2012, mais de 220 milhões de euros de
dinheiros públicos sem qualquer controlo. A prisão de um sindicalista nos
últimos dias, fez acordar a sociedade civil espanhola para esta realidade. É caso
para perguntar: e em Portugal, tudo normal???
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