segunda-feira, 1 de abril de 2013

Mais uma da imprensa portuguesa (Alberto Gonçalves)

Em 26 de março postei “Mais uma da imprensa portuguesa” sobre mais uma desonesta (e habitual) manchete dessa imprensa, sempre muito atenta a conspurcar o atual governo. E, como não é raro, eis que encontro um artigo de Alberto Gonçalves que escreve muito melhor sobre “o esforço de certo jornalismo (que)concentra-se nos títulos susceptíveis de conspurcar a imagem pública do Governo”:


Espiões e populistas

Alberto Gonçalves

O país, ou o pedacinho dele que ainda liga a estas coisas, estremeceu com a notícia de que o Governo criou um posto de trabalho na Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros para o ex-espião Jorge Silva Carvalho. Dito assim, fica a ideia de que o primeiro-ministro decidiu pessoalmente recrutar um arguido num processo de abuso de poder e violação de segredo de Estado e colocá-lo num cargo de responsabilidade e confiança. Para cúmulo, os media partiram de imediato a ouvir as abalizadas opiniões do PCP e do BE acerca do assunto. As opiniões não foram simpáticas. Pelos comunistas, António Filipe considerou o sucedido "insólito". E a menina que alegadamente manda no Bloco jurou que iria pedir explicações ao dr. Passos Coelho sobre um "caso muito grave para a democracia".

Sem dúvida, não fora a circunstância de uma lei de 2007 determinar a integração no cargo em questão de todos os antigos agentes das "secretas" que tenham cumprido seis anos de serviço ininterrupto. Conforme aconteceu com o mencionado Jorge Silva Carvalho, que aliás processara o Estado a propósito. Todos os alvoroçados perante a notícia se esqueceram de referir que a culpa (se a palavra se aplica) da nomeação é de uma lei esquisita publicada há dois executivos atrás, pormenor que daria à história outro rigor embora lhe retirasse o conveniente impacto.

Hoje, o esforço de certo jornalismo concentra-se nos títulos susceptíveis de conspurcar a imagem pública do Governo. É uma actividade cheia de potencial. Sempre que o carro oficial do dr. Passos Coelho passar veloz ao lado de um cemitério, é possível uma manchete rezar: "Primeiro-ministro indiferente a portugueses que morrem."

Por sorte, não faltam possibilidades para criticar indevidamente o Governo. Por azar, também não faltam razões para criticá-lo devidamente, sobretudo quando há ano e meio desperdiça uma oportunidade ímpar para aproveitar o embalo da crise e, ao menos por desfastio, reformar dois ou três pedacinhos do país - seja na Justiça ou no ensino, no trabalho ou na administração pública. No dia em que a poeira se dissipar, verificaremos que os transtornos do inevitável empobrecimento não serviram para curar uma só maleita pátria: serviram a preservação desesperada do Estado socialista, vulgo social. Mas esse é justamente o aspecto que não convém à inclinação populista dos media condenar: para o populismo, a única virtude do Governo é o seu fatal defeito.
Texto: Alberto Gonçalves, Diário de Notícias, 26-03-2013

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