domingo, 6 de outubro de 2013

O complexo de vira-lata

José Manuel

Larry Rohter - 2004  (The New York Times):
Escrevendo nos anos 1950, o dramaturgo Nelson Rodrigues viu seus compatriotas afligidos por um senso de inferioridade, e cunhou a frase que os brasileiros hoje usam para descrevê-lo: "o complexo de vira-lata". O Brasil sempre aspirou a ser levado a sério como uma potência mundial pelos pesos-pesados, e portanto dói nos brasileiros que líderes mundiais possam confundir seu país com a Bolívia, como Ronald Reagan fez uma vez, ou que desconsiderem uma nação tão grande - tem 180 milhões de pessoas - como "não sendo um país sério", como Charles de Gaulle fez.
Wikipédia

É duro, duríssimo ler algo deste tipo, que atinge não só a pátria, como a todos os seus filhos que lutaram a vida inteira para que isso nunca sequer se aproximasse da realidade.
Mas está aí e não foi escrito pelo jornalista americano que apenas o relatou. Foi escrito por um dos maiores dramaturgos brasileiros, e ele sabia o que estava dizendo. Mas, por quê?
Por que isso acontece em um país onde seus habitantes, acham que as suas cidades são as mais bonitas do mundo, o seu futebol é o melhor do mundo, as suas mulheres  as mais bonitas o seu povo tem mais calor humano e ele povo se considera apenas o melhor?

Vejamos:
Na década de 80 o país impulsionado por uma indústria pujante e conflitos no Oriente Médio, produziu o melhor tanque de guerra já idealizado, superando inclusive em diversos quesitos o famoso tanque americano "M1A1 Abrams " quando os dois foram testados nos desertos da Arábia.
Derrotou nos testes finais, o Chalenger, o Amx-40, o C-1 europeus e novamente o americano.
Era o EE-T1 Osório, totalmente desenvolvido por engenheiros  brasileiros, na empresa Engesa.

A falta de disposição do governo brasileiro demonstrou-se, principalmente, pela pequena atuação tanto na política em prol do produto, tanto quanto na ajuda financeira diante da situação precária da Engesa. A ausência de dinheiro para o Exército Brasileiro em adquirir o EE T1 Osório foi interpretada pelo mercado como sendo, na verdade, uma falta de interesse do mesmo no produto. Levando a conclusão de que se nem o próprio Exército Brasileiro compra o tanque, então os compradores de outros certamente não iriam comprá-lo. O primeiro Osório de pré-série foi vendido como sucata, seus equipamentos devolvidos (canhão, optrônicos, motor, transmissão...) aos fabricantes para aliviar as dívidas. Patrimônio foi vendido e em 1993 a Engesa faliu. Era o fim da linha. (fonte Wikipédia )

Em 1927, nascia aquela que viria a ser a mais genuína marca brasileira, a quinta marca em valor na América Latina, tecnologia de ponta, excelência em manutenção de aeronaves, tendo um dos maiores parques aeronáuticos do mundo, reconhecido no exterior como um dos melhores no setor. Capital intelectual de primeira, tanto técnico como burocrático, foi detentora de cinco prêmios mundiais em serviço de bordo.
Essa empresa chamava-se VARIG, bandeira brasileira nos céus do mundo, orgulho de cidadãos e funcionários, funcionando por muitos anos até como a melhor embaixada do Brasil no exterior.

No dia 20 de agosto de 2010, a Justiça do Rio de Janeiro decretou falência da antiga Varig, além de mais duas empresas do grupo, a Rio Sul Linhas Aéreas e a Nordeste Linhas Aéreas. O comunicado oficial foi feito pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ). Segundo o tribunal, o pedido foi feito pelo próprio administrador e gestor judicial do grupo, Licks Associados, que alegou que a 'Viação Aérea Rio Grandense' não tinha condições de pagar suas dívidas.
A antiga Varig faliu sem ver o fim da ação que cobrava da união cerca de R$ 4 bilhões por perdas com o congelamento de tarifas nas décadas de 1980 e 1990. Após o ano de 2003 até o último dia de existência da Varig, o Governo do Brasil devia à Varig cerca de R$ 7,0 bilhões que, se fossem pagos, provavelmente a Varig não teria falido. A empresa ganhou a questão no Superior Tribunal de Justiça  (STJ), mas a disputa judicial seguiu para o Supremo Tribunal Federal, onde ainda não foi julgada.
(fonte wikipédia )

Campinas foi considerada por muitos anos a cidade referência em hospitais de ponta na área médica. Os médicos brasileiros foram reconhecidos mundialmente nas áreas de cirurgia plástica, como o Dr. Ivo Pitanguy, em cardiologia, com o Dr. Jesus Zerbini, Dr. Adib Jatene em cirurgia torácica, e muitos outros em muitas áreas. Temos a reconhecida Fundação Oswaldo Cruz, especializada no desenvolvimento de vacinas e reconhecida no exterior. Hoje estamos importando médicos cubanos.

O governo petista tem algumas marcas na área de saúde, conforme noticiei aqui no dia 22 de agosto. Entre 2002, último ano do governo FHC, e 2005, terceiro ano já do governo Lula, o número de leitos hospitalares havia sofrido uma redução de 5,9%. Era, atenção!, A MAIS BAIXA EM TRINTA ANOS! Números fornecidos pelo PSDB? Não! Por outra sigla: o IBGE. Em 2002, havia 2,7 leitos por mil habitantes. Em 2005, havia caído para 2,4. A OMS recomenda que essa taxa seja de 4,5. “Ah, Reinaldo, de 2005 para cá, já se passaram oito anos; algo deve ter mudado, né?” Sim, mudou muito! O quadro piorou enormemente: a taxa, agora, é de 2,3 — caiu ainda mais. E caiu não só porque aumentou a população, mas porque houve efetiva redução do número de leitos púbicos e privados disponíveis: só entre 2007 e 2012, caíram de 453.724 para 448.954 (4.770 a menos).
(fonte Reinaldo Azevedo - veja.com)

O Brasil se encontra a um passo de deter o recorde em montadoras de carros em suas fronteiras. Dentro de pouco tempo teremos nada mais, nada menos, que 21 montadoras estrangeiras operando em território nacional.
Só para entender, os Estados Unidos, o Japão, a Alemanha e a Coreia do Sul  juntos, não chegam a essa cifra.
O que estará por trás dessa quantidade enorme de indústrias automotivas, se não temos nada que se compare a uma malha viária que suporte tal indústria, uma mão-de-obra altamente deficitária e defasada e um poder aquisitivo reconhecidamente pífio de sua população?

Sobram exemplos de empresas nacionais que tentaram se aventurar no setor. Uma após a outra, todas falharam: Romi, Vemag, Miura, FNM, Puma, Gurgel... O mercado era bom, mas elas precisavam de capital, marca, design, apoio do governo, tecnologia. Tudo ao mesmo tempo. E, em cada caso, ao menos uma característica incorreta do produto ficava evidente.
A Romi, por exemplo, fez em 1958 um carro para duas pessoas, quando as famílias brasileiras tinham, em média, seis. A Vemag era brasileira, mas sua tecnologia, alemã: fechou em 1967 comprada pela Volkswagen.

A Puma tinha design, mas não tinha capital. A Gurgel conseguiu algum capital na bolsa, fez campanhas publicitárias nacionalistas, mas seu carro saía caro e o design era de gosto discutível. Para piorar, nenhum desses fabricantes conseguiu construir uma marca forte. Justo no Brasil, onde nomes consagrados como Ford, GM, Fiat e Volkswagen estão gravados na mente e no coração dos consumidores brasileiros. A ausência de uma montadora nacional pode ser explicada, sobretudo, pelo pouco apoio que o governo brasileiro deu para os empreendedores. Empresários de outros países emergentes encontraram ambientes quase iguais ao do Brasil, mas tiveram o apoio do Estado. (fonte Isto É - dinheiro)

O que se faz com ativos brasileiros  é incompreensível a qualquer raciocínio e não esqueçam o que está acontecendo com a Petrobras, 60 anos a 5ª maior petroleira do mundo e suas ações desastradas em Pasadena, Bolívia, Argentina, além dos leilões inexplicados de suas principais reservas.

Nossos principais planos de saúde que, apesar de seus preços extorsivos, nos atendem melhor pelo menos do que a saúde pública, estão sendo vendidos a grandes investidores internacionais.

Apesar de termos a 3ª maior indústria aeronáutica do mundo, o governo federal prefere comprar da Airbus, seu concorrente, um trambolho enorme de milhares de dólares, sem a menor necessidade, para levar a passeio, seus súditos mais e menos ilustres. Por quê?
Então, Nelson Rodrigues, será que você tinha o poder da paranormalidade, ou você era apenas um gênio que percebeu antes de todos o caminho para o desastre e a vocação deste povo?
Título e Texto: José Manuel, 06-10-2013

Um comentário:

  1. Jonathas Filho.
    Quando comecei à ler esse texto me deparei com a minha vergonha me olhando sorrateiramente. Quando cheguei no meio, a minha vergonha me olhava de frente, olhar fixo e penetrante que dizia nas mais duras palavras: "E você é brasileiro Jonathas!" e comecei à chorar. Chorei por mim, pelos meus pais, irmãos, filhos, netos, amigos, colegas de trabalho, vizinhos, conhecidos e por todo povo desse país. Somos enganados todos os dias, desde que aqui se instalou o egoísmo e a ganância de uns poucos mas, que juntos criaram a famosa CORRUPÇÃO que tem sido a mãe de todos os males e que impunemente contamina à quase todos os segmentos dessa nossa sociedade, curiosamente conhecida como Sanatório Geral.
    Jonathas Filho

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