quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Vide bula


José Manuel
Não existe e nunca existirá um  manual para se fazer uma greve de fome.
A indignação a qualquer ato perpetrado contra o ser humano é que é o motor que dá a partida a um protesto dessa natureza.
Se bem estruturado, e o histórico desses protestos, como o de Mahatma Gandhi que obteve a independência da Índia, nos faz entender que ele, Gandhi, acreditava na desobediência civil sem violência, como forma de protesto e na greve de fome como arma política.

Também acredito nessa poderosa arma, se bem colocada em nível internacional e amparada por organizações de direitos humanos, torna-se uma poderosa ferramenta, pois os políticos não gostam nada disso, muito menos em épocas de eleições.
Tem lugar quando as instituições públicas não estão cumprindo seu fiel papel e quando não existem outros remédios legais possíveis que garantam o exercício de direitos naturais, como a vida, a liberdade e a integridade física. (Wikipédia)

Existem dois tipos de pessoas que não podem fazer uma greve de fome:
As primeiras são aquelas que não se indignam, as que acham um tormento não terem os seus direitos respeitados, mas que também não fazem nada para tal, as que sempre estão comodamente em casa esperando que "alguém" faça algo por elas e elegem sempre um simbólico representante.

As segundas, obviamente por razões estritamente de saúde, não podem e não devem tentar. Mas este é um universo relativamente pequeno, se formos pensar em torno de 20.000 pessoas.

Antes de fazer a primeira greve, que teve a duração de cinco dias, consultei um especialista, sobre os aspectos negativos que poderiam ocorrer face à minha decisão. Para a minha surpresa, recebi a informação de que alguns dias sem a ingestão de alimentos sólidos não traria o menor risco à minha integridade, muito pelo contrário, seria até benéfico, desde que observasse a hidratação e o repouso necessários. É desnecessário dizer que apenas o primeiro item pôde ser  fielmente executado, mas ao contrário de alguns prognósticos pouco otimistas, o objetivo foi alcançado e aqui estou escrevendo repleto de saúde.

O que mais me impressionou, foi o relato daquilo que poderia me afetar no período do protesto: a parte psicológica.
Segundo ela, eu não iria suportar as pessoas olhando para mim com pena, e isso sim, poderia acarretar algum transtorno psíquico. Ora, para quem está há sete anos sem salário e sem dignidade, isso para mim foi como um piquenique ao ar livre, pois me deu uma oportunidade ímpar de observar os meus semelhantes e tirar as minhas conclusões. Foi mais ou menos como a experiência do homem enjaulado no jardim zoológico. Fascinante.

Hoje eu tenho uma visão sobre esse tipo de protesto, e para iniciantes é como tomar um remédio em que se tem que olhar a bula primeiro. 
Por exemplo:
Consulte sempre o seu médico
Uso adulto - você deve saber o que está fazendo.
Como funciona - existem várias pesquisas sobre o assunto.
Indicações - todas a vezes que você for ultrajado.
Quando não devo usar - quando você não estiver indignado.
Quando devo usar - quando você notar que as esperanças começam a falhar e que o tempo limite está se esgotando. Normalmente acontece quando o Natal está próximo.
Advertência só faça se você tem certeza do objetivo que quer atingir.
Interações - antes de iniciar você deve interagir com os seus pares.
Riscos - analise sempre as suas limitações.
Modo de uso - o tempo fica inteiramente a seu critério.
Reações adversas - ao sentir desconforto pare imediatamente.
Super dosagem - cabe a você exclusivamente prosseguir ou não de acordo com o seu estado.
Atenção: Este remédio é única e exclusivamente para o retorno da sua saúde física, espiritual e financeira. Cabe apenas a você fazer uso dele,com a eficácia que se espera do mesmo.
Título e Texto: José Manuel, ex-tripulante Varig, 67 anos, e pensando… 16-10-2013

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