Valdemar Habitzreuter
É interessante verificar como
o mundo sensível (aquilo que vemos, ouvimos, tocamos, cheiramos e degustamos)
nos proporciona estados emocionais dos mais variados possíveis. Inseridos neste
mundo e em constante contato com as coisas que nos cercam vibramos ou deixamos
de vibrar segundo os humores que nos assaltam ao relacionarmo-nos com elas.
Se prestarmos atenção no que
ocorre com nossos estados emocionais percebemos no fundo uma realidade temporal
e espacial. A realidade espacial é algo óbvio, pois nós e as coisas ocupamos
sempre algum espaço, estamos sempre situados. É claro, se não existissem corpos
e coisas não saberíamos o que é o espaço. As coisas existem no espaço. Não
podemos conceber coisas sem o espaço.
Mas, a realidade temporal é a
mais interessante. O conceito de tempo é completamente diferente do de espaço.
O espaço eu posso dividir. Na minha casa tenho alguns espaços: a sala, dois
quartos, cozinha, etc. Esta casa está dentro de um lote de terra. Este lote
dentro de um loteamento. Este loteamento dentro de um bairro de minha cidade. E
assim por diante ad infinitum. A
última dimensão de espaço seria o universo como um todo englobando todas as
coisas e espaços divisíveis.
A realidade temporal não se
manifesta extensivamente, como se ocorresse dentro do espaço divisível. O tempo
não é divisível, ele é pura duração ininterrupta. É um fluir ou um passar
constante sem interrupção. É um movimento contínuo. Tempo em si é puro
movimento. Se digo passado, presente, futuro não estou dividindo o tempo. Estes
três conceitos estão entrelaçados. São uma coisa só. O passado é um presente
passando e o futuro é um presente que ainda vai acontecer para ser passado. O
presente em si é efêmero. Quando digo ‘agora’ já não é mais agora, já passou.
Mas direis, para que serve o
relógio então? O que tentamos fazer através de relógios é espacializar a duração
para lidarmos com os nossos afazeres cotidianos alocando-os em diversos
horários. Isto é, fazemos de conta como se o tempo fosse espaço e o dividimos
ou o contamos em etapas (etapa para trabalhar, etapa para descansar, etapa para
isso, etapa para aquilo, etc, etc.) Mas o que vigora mesmo é o passamento, sem
ou com relógio. Não podemos parar o tempo e dividi-lo. Se não houvesse relógios
e calendário, mesmo assim estaríamos sujeitos ao simples fluir da duração. Mas,
como precisamos da noção de hora, dia, mês, ano, etc., fazemos de conta que
dividimos o tempo. É claro, isto é necessário para situar-nos ‘espacialmente’na
História. Mas, na realidade o tempo não se deixa dividir, é um fluxo contínuo e
não é palpável.
O tempo como movimento
contínuo, ou este durar sem momentos estanques, mas uma contínua sucessão de
momentos, explica o processo de envelhecimento e desaparecimento das cosias. Se
o tempo não fosse um passamento, que realidade estaríamos vivendo? Seríamos
múmias petrificadas? Mesmo aí incluímos o tempo, porque as coisas no espaço
requerem o tempo para existir, o existir é temporal. As múmias e pedras também
envelhecem e desaparecem. Tudo está sujeito à duração do tempo.
Será, então, que o tempo ou a
duração é a verdadeira e única realidade absoluta na qual tudo o que existe
perfaz sua própria duração? Inclino-me a aceitar isso. A este absoluto da
duração posso dar um nome, posso identificá-lo como Deus. Um Deus em contínuo
movimento existencial de infinita duração dentro da qual aparecem e desaparecem
as durações finitas, que somos nós e as coisas no espaço.
Pois bem, tendo esta noção de
tempo como duração, compreenderemos o que são nossas emoções ou estados da
alma. Nós nos enganamos se tratarmos nossas emoções como se estivessem
localizadas no espaço, ou seja, fazer delas coisas extensivas como se
pudéssemos medi-las. Ex.: hoje, ao final do dia, eu quero medir o amor com que
me dediquei a minha esposa. Posso fazer isso? Claro que não. Uma emoção ou
estado de alma é sempre um aspecto intensivo e não extensivo, não se mede com
fita métrica. A intensidade de uma emoção tem a ver com a nossa interioridade,
com o nosso eu psíquico que não se localiza no espaço, é pura duração
intensiva. Portanto, a duração tem a ver com o sujeito, é um estado de consciência.
As emoções flutuam no interior
de cada um de nós, na interioridade da nossa duração. De um estado de amor eu
posso passar a um estado de raiva, e deste para um estado de inveja que por sua
vez pode ceder a um impulso de ciúme... Todas estas emoções estão interligadas,
não há uma delimitação entre elas, são flutuações contínuas segundo estímulos
recebidos de fora. Meu estado de alma é um movimento onde meu eu experimenta as
diversas emoções que o mundo em seu agito me proporciona.
Você que é um aposentado do Aerus e luta para que um
dia possa ter de volta o pagamento mensal a que você faz jus, vai compreender a
duração como sendo um estado de consciência. Observe o que está acontecendo em
você, em sua alma: há um turbilhão de sucessivas e diferentes emoções dentro de
você (ora ódio ao governo, ora exaltação quando uma notícia promissora aparece,
tristeza quando esta notícia não se concretiza, etc, etc, etc). Já são oito
anos de luta e não há nada de concreto para sua solução. Estes oito anos
representam uma eternidade para você, porque você tem urgência para que este
dinheiro chegue o mais rápido possível para prover suas necessidades básicas e
de seus familiares. Mas, do outro lado, do lado da Justiça, estes oito anos não
representam quase nada, muito pouco tempo, porque não lhe diz nada, a situação
em que você se encontra.
Percebeu o que é duração? É um
estado de alma com suas variantes emocionais. Esta duração de oito anos de
impasse judiciário para você representa uma eternidade, mas para os juízes é
uma ninharia de duração. E, assim, com a duração, você envelhece flutuando de
emoção em emoção, esperando pela maior emoção: o direito à dignidade que lhe
foi surrupiada pelo governo. Caso você morra antes, o governo não lamentará –
incompatibilidade de durações.
Bom, se nossa duração é
finita, quem sabe a morte não nos mergulhará na Duração Infinita. Seria o Aerus
mais seguro, a suprema emoção – a leveza do SER.
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 09-01-2014
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Vou tentar Valdemar, colocar aqui como vejo o tempo, no tempo que não se vê. Creio que para todos nós e isso ocorre em todo o Planeta, o tempo está passando cada vez mais rápido. Os dias, estão cada vez mais curtos. Indescritivelmente mais curtos. Como eu via o tempo? Na horizontal medindo distância. Contudo se colocarmos este mesmo tempo na vertical, vai ser observado que não mais existe presente, passado e futuro, pois tudo vai estar acontecendo ao mesmo tempo Agora.
ResponderExcluirNeste sentido, tudo o que vai acontecer no futuro, já está acontecendo Agora de infinitos modos e maneiras. É só escolher! Sim! Está tudo a disposição! Se um grupo pequeno e consciente chegar a este compreensão, poderá firmar em já está sendo pago o que é devido no Aerus. E aguardar o fluir dos redemoinhos de energia.
São como bumerangues, que cada vez mais rápido acontecem, assim como cada vez mais rápido passa o tempo.
E isso, tem um agravante: Funciona!!, e serve para tudo! Por que não??
Ivan A Ditscheiner