Maka Angola
Efectivos da Polícia Nacional
no distrito do Rangel, em Luanda, transformaram a campanha de detenção de
vendedoras ambulantes, as “zungueiras”, num negócio lucrativo em termos
individuais.
No período da tarde de hoje,
um cidadão-repórter do Maka Angola, António Quissanga, testemunhou vários casos
de detenção no Mercado dos Congolenses e arredores. Em troca de liberdade
imediata, os agentes policiais e fiscais do governo provincial de Luanda
exigiam entre 2000 (US $20) e 5000 kwanzas (US $50).
Quando foi detido, Txutxu
Bapema, de 34 anos, encontrava-se junto a um prédio vizinho do Mercado dos
Congolenses. Esteve meia hora na viatura policial de patrulha, com a matrícula
LD-38-60-AZ, da divisão policial do Rangel, juntamente com mais cinco mulheres,
duas das quais carregando bebés, e um jovem.
O cidadão-repórter, a pedido
da família, que se exprime melhor em Lingala, “negociou” directamente com o
agente policial que conduzia a viatura e era o responsável pelas cobranças. A
família oferecia 2000 kwanzas pela libertação de Bapema, o cobrador da polícia
exigia 5000 kwanzas. Txutxu Bapema apenas saiu da viatura que o conduziria à
cadeia quando o cidadão-repórter entregou, nas mãos do agente policial, 3000
kwanzas.
Por sua vez, José António, de
30 anos, foi detido hoje, pela terceira vez este ano. Desde há cinco anos que o
jovem repara telemóveis no Quintalão dos Congolenses. “A polícia vem sempre
buscar-me aqui, na minha bancada”, explicou o técnico.
A primeira detenção de José
António ocorreu a 2 de Janeiro, quando passou três dias na cela do Posto
Policial do Marçal, juntamente com homens, mulheres e crianças. A 28 de Janeiro
foi detido pela segunda vez. “Fiquei apenas uma noite, misturado também com
homens, mulheres e bebés que estavam a ser amamentados pelas mães. Havia muitos
mosquitos, estava tudo abafado e a cheirar mal, mas a polícia nem separava as
mães com as crianças”, relatou António José. O técnico de telemóveis revelou
que teve de pagar 5000 kwanzas à polícia para ser libertado.
“Hoje, paguei 3000 kwanzas e
libertaram-me logo”, afirmou.
José António disse ao Maka
Angola que todos os vendedores do Quintalão, no conjunto, mais de 250, têm pago
diariamente 100 kwanzas cada, à administração local, para custear a limpeza do
espaço. “Os fiscais e a polícia entenderam que já não devemos vender aqui
também. Já não entendemos nada. Indiquem-nos outro local”, lamentou o técnico
de telemóveis.
Deolinda António, de 37 anos,
teve pouca sorte. Investiu 35 000 kwanzas num “balão de fardo” (atacado de
roupa em segunda mão) e perdeu tudo por falta de dinheiro para pagar à polícia.
“Os polícias e fiscais
detiveram-me mesmo à porta do Mercado dos Congolenses, onde eu estava a vender.
Exigiram 2000 kwanzas e eu disse que não tinha, ainda não tinha vendido nada”,
referiu a vendedora.
Segundo Deolinda António,
irritados, os agentes “levaram a roupa e atiraram-na toda para uma fossa [com
dejectos humanos]”.
“Nós estamos à porta dos
Congolenses, para onde nos empurraram, não estamos a fazer lixo. Eles [governo]
devem indicar-nos outro mercado para vendermos. Não têm o direito de tratar-nos
assim. Estão a exagerar”, disse a vendedora.
Por volta do meio-dia, um
outro patrulheiro da Polícia Nacional, com a matrícula LD-75-06-CK, levou a
cabo uma grande operação de extorsão de vendedores ambulantes nas imediações da
Universidade Católica de Angola, no Bairro Palanca.
Os vendedores foram obrigados
a pagar a partir de 2000 kwanzas, comprando assim a garantia de não serem
detidos nos próximos três dias, sem qualquer processo legal.
Título, Imagem e Foto: Maka Angola, 31-01-2014
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