
Henriques Tomás, pai da
vítima, disse ao Maka Angola que o agente não identificado atingiu o seu filho
no abdómen, por volta das 17h00, tendo causado a exposição de parte dos
intestinos.
“O meu filho parou no
controlo, que é uma corda atravessada na estrada, por ordem do polícia. Atrás
dele vinha outro moto-taxista, e o agente mandou-o parar também e exigiu o
pagamento para passarem o controlo”, explicou o pai. O segundo moto-taxista,
não identificado, recusou-se a pagar os 500 kwanzas (US$ 5) que lhe foram
exigidos─ aquilo a que os jovens locais chamam de “taxa de extorsão” ─ e
protestou verbalmente contra o comportamento policial.
“O polícia começou a
espancá-lo, e o jovem decidiu defender-se. Então, o polícia foi buscar a arma
na tenda e, enquanto isso, o jovem fugiu”, disse Henrique Tomás.
Testemunhas locais
corroboraram que o agente, irritado com a fuga do segundo motociclista,
transferiu a sua fúria para Carlos Xavier, que aguardava “pacientemente” por
uma decisão sua.
“O polícia acusou o Carlos de
ter facilitado a fuga do outro moto-taxista e deu-lhe uma bofetada. O jovem
refilou”, explicou Fernando Muaco, activista local que acompanhou o caso. “Sem
mais nem menos, o polícia acusou o Carlos de ser igual aos outros
[motociclistas, na argumentação sobre os seus direitos ] e disparou contra
ele.”
Segundo Fernando Muaco, os
residentes da aldeia de Cambala acorreram ao local para prestar assistência e
protestar contra a violência policial. Ainda de acordo com este interlocutor,
os agentes reagiram com um forte tiroteio para defenderem o colega e
dispersarem a comunidade, mas não causaram mais vítimas.
A odisseia para se conseguir
prestar os primeiros socorros a Carlos Xavier demonstra o estado degradante da
lei e da ordem, bem como da saúde, nesta região rica em diamantes.
“Fomos ao Comando Municipal da
Polícia Nacional no Cuango denunciar a ocorrência e solicitar assistência para
os primeiros socorros, mas o oficial de dia disse que só avaliariam a situação
no dia seguinte”, revelou o pai da vítima.
“Fomos ao hospital do Cuango e
disseram-nos que não tinham condições para prestar assistência médica ao Carlos
e não podiam aceitá-lo.
Fomos ao delegado municipal da
saúde no Cuango pedir autorização para transportar o doente numa ambulância
para Cafunfo, mas ele disse-nos que as estradas não estão boas e que não dá
para usar a ambulância”, lamentou Henriques Tomás.
Como alternativa, a família
teve de alugar uma carrinha, por US$ 100, para transportar o ferido num
trajecto de 50 quilómetros, entre a vila sede do Cuango e o sector de Cafunfo.
No Hospital Central de
Cafunfo, o médico chinês de serviço começou por exigir à família que assinasse
um termo de responsabilidade, isentando-o da eventual morte do ferido.
De seguida, teve de
deslocar-se à sua residência para recolher alguns equipamentos necessários à
realização de uma intervenção cirúrgica para remover a bala alojada no abdómen
de Carlos Xavier.
Em todo esse processo, no
Hospital de Cafunfo, a vítima não recebeu qualquer tipo de assistência até
entrar para o bloco operatório, às 23h00. Faleceu às 23h57.
“Aqui, nessa região das
Lundas, as autoridades são malignas. Os dirigentes são desumanos, não têm
coração. Não sei mais o que dizer”, concluiu o pai.
Garimpeiro Congolês Alvejado
Entretanto, na manhã do mesmo
dia, um agente do Posto Policial do Lucola, no município vizinho de Xá-Muteba,
alvejou nas costas o garimpeiro Tonton Lidalala, de 32 anos, quando este tentou
escapar.
Fernando Muaco, que acompanhou
o internamento do cidadão do Congo Democrático no Hospital Central de Cafunfo,
referiu que a vítima se encontrava a garimpar na área de Lucola, junto ao Rio
Lui.
Título, Imagem e Texto: Maka Angola, 25-01-2014
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