sábado, 25 de janeiro de 2014

Polícia Mata por 500 Kwanzas no Cuango

Maka Angola

Um agente da Polícia Nacional matou ontem, no município do Cuango, província da Lunda-Norte, o motociclista Carlos Xavier, de 19 anos.
Henriques Tomás, pai da vítima, disse ao Maka Angola que o agente não identificado atingiu o seu filho no abdómen, por volta das 17h00, tendo causado a exposição de parte dos intestinos.

“O meu filho parou no controlo, que é uma corda atravessada na estrada, por ordem do polícia. Atrás dele vinha outro moto-taxista, e o agente mandou-o parar também e exigiu o pagamento para passarem o controlo”, explicou o pai. O segundo moto-taxista, não identificado, recusou-se a pagar os 500 kwanzas (US$ 5) que lhe foram exigidos─ aquilo a que os jovens locais chamam de “taxa de extorsão” ─ e protestou verbalmente contra o comportamento policial.

“O polícia começou a espancá-lo, e o jovem decidiu defender-se. Então, o polícia foi buscar a arma na tenda e, enquanto isso, o jovem fugiu”, disse Henrique Tomás.
Testemunhas locais corroboraram que o agente, irritado com a fuga do segundo motociclista, transferiu a sua fúria para Carlos Xavier, que aguardava “pacientemente” por uma decisão sua.

“O polícia acusou o Carlos de ter facilitado a fuga do outro moto-taxista e deu-lhe uma bofetada. O jovem refilou”, explicou Fernando Muaco, activista local que acompanhou o caso. “Sem mais nem menos, o polícia acusou o Carlos de ser igual aos outros [motociclistas, na argumentação sobre os seus direitos ] e disparou contra ele.”

Segundo Fernando Muaco, os residentes da aldeia de Cambala acorreram ao local para prestar assistência e protestar contra a violência policial. Ainda de acordo com este interlocutor, os agentes reagiram com um forte tiroteio para defenderem o colega e dispersarem a comunidade, mas não causaram mais vítimas.

A odisseia para se conseguir prestar os primeiros socorros a Carlos Xavier demonstra o estado degradante da lei e da ordem, bem como da saúde, nesta região rica em diamantes.
“Fomos ao Comando Municipal da Polícia Nacional no Cuango denunciar a ocorrência e solicitar assistência para os primeiros socorros, mas o oficial de dia disse que só avaliariam a situação no dia seguinte”, revelou o pai da vítima.

“Fomos ao hospital do Cuango e disseram-nos que não tinham condições para prestar assistência médica ao Carlos e não podiam aceitá-lo.
Fomos ao delegado municipal da saúde no Cuango pedir autorização para transportar o doente numa ambulância para Cafunfo, mas ele disse-nos que as estradas não estão boas e que não dá para usar a ambulância”, lamentou Henriques Tomás.

Como alternativa, a família teve de alugar uma carrinha, por US$ 100, para transportar o ferido num trajecto de 50 quilómetros, entre a vila sede do Cuango e o sector de Cafunfo.
No Hospital Central de Cafunfo, o médico chinês de serviço começou por exigir à família que assinasse um termo de responsabilidade, isentando-o da eventual morte do ferido.

De seguida, teve de deslocar-se à sua residência para recolher alguns equipamentos necessários à realização de uma intervenção cirúrgica para remover a bala alojada no abdómen de Carlos Xavier.
Em todo esse processo, no Hospital de Cafunfo, a vítima não recebeu qualquer tipo de assistência até entrar para o bloco operatório, às 23h00. Faleceu às 23h57.
“Aqui, nessa região das Lundas, as autoridades são malignas. Os dirigentes são desumanos, não têm coração. Não sei mais o que dizer”, concluiu o pai.

Garimpeiro Congolês Alvejado
Entretanto, na manhã do mesmo dia, um agente do Posto Policial do Lucola, no município vizinho de Xá-Muteba, alvejou nas costas o garimpeiro Tonton Lidalala, de 32 anos, quando este tentou escapar.

Fernando Muaco, que acompanhou o internamento do cidadão do Congo Democrático no Hospital Central de Cafunfo, referiu que a vítima se encontrava a garimpar na área de Lucola, junto ao Rio Lui.
Título, Imagem e Texto: Maka Angola, 25-01-2014

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