Nome de guerra (se tiver): Ivan
Quando começou a trabalhar? Casa
das Meias, era um menino naquele tempo.
Onde? Marília, Estado de São Paulo
Cargos e funções ocupados: Aero Clube de Marília, SP, piloto
privado.
Curso de pilotos comerciais da
Real Aerovias como aluno. Instrutor nesse mesmo curso.
Admissão em 28 maio de 1957
como copiloto na Real Aerovias.
Após a absorção pela Varig continuei voando. Cmte DC-3. E assim sucessivamente,
Avro 748, Electra, Boeing 727, 707, DC-10, e finalmente Boeing-747.
Complementando: DC-3,
instrutor e checador. Avro 748, instrutor. Electra, instrutor. Boeing 727, instrutor.
Boeing 707, instrutor e checador. DC 10, instrutor.
Em 2003, escrevi um texto.
Não sei se seria relevante, mas falei a verdade.
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REAL-AEROVIAS (CV-440), SE 210 CARAVELLE e L.149 CONSTELLATION. Aeroporto de Congonhas, em 1959. Foto: Romão |
Aposentado?
Sim, pelo Aerus.
Ingressar na aviação era um sonho de infância?
Sim. Diria mais do que um
sonho, nasceu comigo.
Qual foi o avião mais ‘fácil’ de pilotar? E o mais ‘difícil’?
E de qual (ou quais) mais gostou de tripular?
Diria, que não há aviões
difíceis ou fáceis de voar. Todos têm as suas características. É como seus
genes. Basta compreender isso. Creio que o que mais gostei, talvez pelos
momentos da época, foi o DC 3.
Divertidamente, ontem me ligou
um amigo (Cmte Figueiredo), e falávamos sobre o DC3. Ele dizia: “será que os de
hoje conheceriam o DC3? Diriam ser uma lenda?”
E complementei, uma mitologia?
Sim, anos atrás. Gostei mais
de Terra dos Homens, do mesmo autor.
Quando se aposentou?
1992
A Real-Aerovias fechou em 1960 ou 1961?
Não tenho em mente a data
certa. Mas foi por aí, sim.
Então, foram 31/32 anos de Varig…
Sim.
Nesses 32 anos passou por alguma(s) situação crítica?
Diria situações anormais, algumas. Contudo, no que poderia ser considerada como crítica, foi no Electra decolando de Teresina para São Luiz, Maranhão. Após a V1 um pássaro entrou na turbina 3. Aguardei a rotação já pensando “vou para São Luiz” em trimotor, destino final do voo. Foi então que aconteceu o alarme de fogo na 4. Foi feito o procedimento de combate, sendo necessário o uso de uma das garrafas da turbina 2. Aí, não teve jeito, fiz uma longa aproximação, e posei bimotor. No desembarque, estava a bordo o time do Santos. E o Negão Pelé saiu branco. As duas turbinas paradas estavam do lado dele.
Diria situações anormais, algumas. Contudo, no que poderia ser considerada como crítica, foi no Electra decolando de Teresina para São Luiz, Maranhão. Após a V1 um pássaro entrou na turbina 3. Aguardei a rotação já pensando “vou para São Luiz” em trimotor, destino final do voo. Foi então que aconteceu o alarme de fogo na 4. Foi feito o procedimento de combate, sendo necessário o uso de uma das garrafas da turbina 2. Aí, não teve jeito, fiz uma longa aproximação, e posei bimotor. No desembarque, estava a bordo o time do Santos. E o Negão Pelé saiu branco. As duas turbinas paradas estavam do lado dele.
Mas não consideraria esta como
uma situação crítica. Fomos treinados para isso.
O que significa V1?
A velocidade na qual, numa
decolagem, não há mais como interromper. Da V1 para a frente não há mais
condições de frenagem usando-se reversível e freios.
Em 32 anos de atividade é um felícissimo recorde…
Por quê?
Porque em 32 anos ter um único
incidente a reportar é, repito, um felicíssimo (ou abençoado) recorde. Curiosa
e coincidentemente, este ‘perguntador’, também com 32 anos de voo, só tem um
incidente pequenino para contar aos netos…
E lembranças indeléveis, tem?
Xi!... risos, minha caixa de
memórias está meio apagada aos 75, mas há sim, lembranças inesquecíveis. Que
não deveriam ser publicadas. Diria que são íntimas. Respondi à sua pergunta? ;)
Não, mas tudo bem!
Onde gostava mais de pernoitar?
Mas posso responder melhor, sua
pergunta? Não entendi muito bem.
Acho que sou mais movido a
sentimentos do que qualquer outra coisa.
Gostava de pernoitar em Madrid.
Lembranças de pernoites, de passeios, de voos especiais…
Ainda estava taxiando de Madri
para o Rio, quando o Chefe de Equipe me perguntou se poderia fazer um upgrade de uma passageira, para a Primeira
classe. Quando nivelamos, fui vê-la. Muito bonita, alegre e jovial. Foi um papo
realmente muito bom! Hoje, anos depois, omito seu nome, por razões óbvias. Ah!
Foram muitas situações assim. Inesquecíveis.
Dilma Rousseff??
Não votei. Continuo não
votando.
Não, não! Estou perguntando se era ela a passageira do upgrade?...: :D)
Credo! Era não.
Depois da aposentadoria participou (participa) de alguma atividade?
Há uma fazenda, herança de
família. É de lá que tiramos nosso sustento.
Mais pecuária ou mais agricultura?
Pecuária
Bom, aí chegamos a 2004, 2005, 2006… a Varig parece que está com
problemas…
Diria não a Varig que estava
com problemas. Acompanhei isso o bastante para dizer que a “minha gente” estava
e está com problemas. Não a Varig instituição, que terminou. Nós não.
Não entendi bem. Importa-se de clarear?
A Varig, tão falada por tanto
tempo, não existe mais. Nós, sim. Nós existimos.
As nossas necessidades, os
nossos anseios. Creio que devemos nos focar nisso, e não mais na Varig. Quando
mesmo o que fizemos na Varig, também não existe mais. Um dia quando estava na
fazenda, “caiu a ficha” dos problemas dos aposentados de um modo geral. Sim, é
grande o problema.
Compreendo. Você convida a pensar menos no passado, mais no futuro.
Pois é este que nos interessa e incomoda…
Não tanto no futuro nem no
passado, mas no presente. No agora.
Falando do presente, qual a sua opinião sobre a debacle do Instituto
Aerus?
Observo que somos o que
pensamos, e o que dizemos. As palavras da debacle, criam as condições que estão
acontecendo.
Não entendi, você quer dizer que a debacle/o desmoronamento do
Instituto Aerus é uma projeção do que pensamos, do que dizemos?
A resposta foi em função do presente, ou condições atuais. O
que observo dos acontecimentos Varig/Aerus, é a simplicidade de algo que, diria,
move o Universo. Causa e Efeito. Lembra-se do que foi feito à Panair do Brasil?
O que foi feito a
ela?
Existe um documentário a respeito. Chama-se Panair do Brasil. É um DVD, que conta de como a Panair
do Brasil foi tomada por um regime de exceção, e entregue à Varig. O mesmo acontece
agora quando outro regime de exceção tomou a Varig e entregando-a para a Tam. E
tanto na Panair como na Varig, o mesmo problema com seus empregados.
Não foi para a
GOL?
O principal, foi para a TAM.
Como pressente o futuro dos ex-trabalhadores da Varig (entenda-se os
demitidos que até à presente data não receberam os seus direitos trabalhistas)
e dos aposentados e pensionistas Aerus?
Como falamos em causa e
efeito, é só observar que o lado bom, também existe. Ou tudo o que imaginamos,
mais rápido vem acontecendo, quanto mais rápido vem passando o tempo. É muito
poderoso o pensamento humano. Basta ver, o que vem acontecendo no mundo. Somos
atualmente, o “gênio da lâmpada”. Mudar o foco, pode trazer, grandes
resultados. Quando então nós, nos tornamos os efeitos de nossas causas.
Descobrir isto, pode mudar o foco de cada um, e o foco de todos.
Muito obrigado, Ivan. Algo mais que queira acrescentar?
Não Jim, haveria algo a
respeito de minha aposentadoria, e no fato inusitado que provocou esta
aposentadoria precoce. Mas creio não ser relevante. Não importa eu, importa o
todo.
Claro que é relevante. Por favor, o que e como aconteceu?
Foi numa chegada a Nova Iorque.
Estava uma manhã limpa e clara. Cruzávamos uns 12.000 pés, e estava avistando a
pista. Foi então que abaixei-me para guardar algumas cartas desnecessárias. Ao
olhar para fora, vi o avião indicando uma curva de uns 30 graus para a direita.
Não me sentia mal, havia terminado de tomar meu café da manhã. Instintivamente
olhei para baixo e para fora novamente. Tudo normal.
Repeti a operação, avião em
curva de trinta graus para a direita. Olhei para baixo, e para fora. Normal.
Pensei “não vou fazer o pouso”, porque se isso acontecesse junto do chão,
poderia fazer uma correção inexistente, e causar um enorme acidente.
Estranhamente, NYC não estava com a fonia costumeira, com muitos aviões ao
mesmo tempo. Repeti tudo outra vez. Normal. Pousei normalmente.
No hotel à noite, acordei de
madrugada. Estava levando murros nas costas. Não senti medo, mas derrubei a
lâmpada de cabeceira no chão. Ao conseguir acendê-la, parou tudo. Levantei e
olhei no banheiro. Nada. Abri a porta e olhei no corredor. Nada. Dormi normalmente.
Decolamos no dia seguinte para o Rio. Foi meu último voo.
Decolamos no dia seguinte para o Rio. Foi meu último voo.
E então, iniciou-se a minha
caminhada de procura. Terminou? Não, continua.
Segue novamente o link do que
escrevi em 10-03-2003.
Para assistir ao documentário “Panair
do Brasil”, clique aqui.
Conversas anteriores:
Caríssimo leitor, você já assistiu ao documentário "Panair do Brasil", cujo link está no final da entrevista?
ResponderExcluirNão?! Pois olhe, vale muito a pena!
Abraços./-
sempre tivemos o azar de termos governos ditatoriais, corruptos, inclusive este que vivemos hoje, que embora aparentemente democrático, não é.
ResponderExcluirAmei a entrevista Ivan... bom te conhecer melhor.
ResponderExcluirAgradeço isso, Angel. Você disse uma coisa bem real, nós nos víamos e não nos conhecíamos. Que esse conhecimento nos guie agora.
ResponderExcluirTeu amigo,
Ivan