[O cão tabagista conversou com…] Edi Oliveira: “caramba, trabalhei tanto, paguei tanto, acreditei, confiei tanto, e agora nem para papel higiênico servem essas promissórias...”

Nome completo: Edi Jaci Oliveira

Nome de guerra: Jaci (1976) e depois, a partir de 1980, Edi Oliveira

Quando e onde começou a trabalhar: Em 4 de maio de 1976 iniciei o curso de Comissária na Escola de Comissários da Varig e em junho comecei a voar…

O curso só durou um mês?

Não. Na verdade, comecei o curso em março, mas só em maio assinei o contrato de trabalho. A data de 4 de maio é, na verdade, quando assinei o contrato de trabalho, deixando de ser aluna para ser funcionária efetivada.

Então começou a voar em 1976… em que equipamento?

No meu amado e querido Electra (l -188 a), e também nos Boeing-737/727. No final do ano, comecei a fazer os BSB (4 pernas) de Boeing 707. Em 1979 me inscrevi no curso de aperfeiçoamento em inglês que a Varig abriu para Comissários, e quem tirasse o 1º lugar, iria direto para o voo internacional. Eu tirei o 1º lugar e fui para a RAI (Rede Aérea Internacional) em setembro de 1979.

Para os DC-10?

Primeiro nos B-707 e logo depois tirei a carteira do DC-10.

Lembra dos primeiros voos na RAI?

Sim, é claro! Fiz o meu 1º voo na RAI no dia 03 de setembro de 1979. Foi um Miami, com escala em Caracas!

Esse Miami não terá sido no DC-8?

Não! Com certeza foi de B-707. Nunca tirei a carteira do DC-8, mas gostaria de ter voado nele.

Sim, você tem razão, o PP-PDS encerrou a carreira na Varig em 1975. Ficou encostado no hangar de Porto Alegre até 1977, quando uma empresa americana adquiriu a aeronave e a utilizou até 1981, ou seja, 20 anos depois de ser fabricada.

DC-8, PP-PDS, foto: Christian Volpati

Eu detestava o DC-8, tinha uma galley traseira que era uma EME, um forno que era outra EME... difícil de trabalhar nela. Durante muito tempo “odiei” o voo para Miami por associá-lo a esse avião…

Nessa época de início na Internacional alguma lembrança indelével?

Sim, uma lembrança e tanto!

Conheci no meu primeiro voo, um americano que foi meu noivo e com quem quase me casei! Ele era uma pessoa maravilhosa (ainda é, está vivo, e é um advogado de renome em Nova Iorque), mas eu escolhi a aviação!

Qual (ou quais) o pernoite de que mais gostava?

Londres, Roma, Madrid e Lisboa! Adorava!

E qual o avião em que mais gostava de trabalhar?

Sabe de uma coisa? Eu amava todos, mas o meu xodó sempre foi o Electra! Verdade!

Foto retirada daqui

Então, você começou a voar em junho de 1976, e em setembro de 1979 foi para a RAI-Rede Aérea Internacional. E voou até…?

Bem, voei até março de 2004, quando fiz o acordo de aposentadoria antecipada. Até hoje tenho mais da metade das promissórias para receber!...

Nesse período, de 1979 a 2004, alguma (as) recordação que queira dividir conosco?

Sim, voei até 2004. Sim, tenho muitas recordações, mas são tantas que precisaria escrever um livro!

Ora, e por que não escreve?

Atualmente, não estou nem com cabeça e nem com grana para fazer isso. Quem sabe, daqui a algum tempo?

Pois é, falando de grana, diga-nos, por favor, qual é o seu pensamento quando olha para as suas promissórias na gaveta?

Meu amigo, meu pensamento é: caramba, trabalhei tanto, paguei tanto, acreditei, confiei tanto, e agora nem para papel higiênico servem essas promissórias... é verdade... é o que penso...

Quando saiu em 2004 abraçou alguma atividade?

Tentei, mas não consegui. Sou enfermeira formada pela UFF (Universidade Federal Fluminense), mas por estar há muito tempo sem exercer a função, não consegui trabalho. Pensava em fazer uma pós-graduação em centro cirúrgico, pois é a minha especialidade, mas, quando ia me matricular, veio o golpe do Aerus e tudo foi por água abaixo. Daí por diante, tentei e só levei "nãos" pela cara. No único lugar que consegui através de amigos, trabalhei por 41 dias em período de experiência em uma clínica, sem ganhar um tostão sequer, nem para a passagem, e fui muito humilhada. Tentei outras coisas, mas não deu e aí desisti.

Aí foi acompanhar os estertores da Varig, é isso?

Bem, se acompanhar os estertores da Varig foi juntar-se aos colegas para tentar salvá-la, a resposta é sim!

Tentar salvá-la?! Como assim?

Bem, “tentar salvá-la” é uma maneira de dizer... quem sou eu, uma "ninguém" sem eira nem beira, nem ramo de figueira", para fazer isso...

Quis dizer que juntei-me aos colegas "camisas amarelas", para engrossar a tropa, foi isso que eu quis dizer...

“Camisas amarelas”?!

Sim, era como chamávamos a TGV (Trabalhadores do Grupo Varig).

E o que conseguiram?

Como você pôde vivenciar, Jim, não conseguimos nada! Fomos "barrados" pelo "governo dos trabalhadores" e seus emissários, e pelo "nosso" bravo SNA... aí estamos nesta merda. Ninguém acreditou quando falávamos, nem mesmo nos quase dois anos de CPI na Alerj. Só no ano passado é que a verdade começou a aparecer... para quê? Agora é muito tarde...

Você acredita em Acordo entre o governo e os ex-trabalhadores da Varig?

Você está perguntando daquela época ou de agora com o Aerus?

De agora, da atualidade…

Olha, para mim, "se" sair algum acordo, será pura e simplesmente para servir de "massa de manobra" na campanha política do governo... se sair!

Mas será algo com muitas perdas para nós...

Espero muito, muito mesmo… estar errada!

 

Conversas anteriores:

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