sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Belas histórias de Lisboa

Câmara Municipal de Lisboa, julho de 2013, foto: JP

João Miranda
Cada peça jornalística sobre a cidade de Lisboa é um poço de informação sobre uma cidade disfuncional. Aquilo que na maior parte dos casos é mais um infomercial de António Costa vai revelando nas entrelinhas casos aberrantes de mau governo e prepotência. Três exemplos:

1. Numa reunião da câmara de Lisboa todos os partidos querem passar a imagem que se preocupam com a cultura e com o seu simbolo actual lá no sítio, o cinema Londres. Que fazem então todos os partidos? Aprovam uma moção para embargar as obras no interior do cinema Londres (Câmara de Lisboa procura fundamentação jurídica que lhe permita embargar obras no Cinema Londres). Ficam os serviços da câmara incumbidos de encontrar uma justificação para tal embargo. É um caso de prepotência e arbitrariedade, mas esse não é o foco da notícia. O foco da notícia é: ai, estão todos tão preocupados com a cultura.

2. Esta notícia (Manutenção dos espaços verdes do Parque das Nações vai ser feita por 16 jardineiros, antes eram 70) parece uma notícia banal sobre a gestão dos jardins de Lisboa, mais propriamente sobre uma parte de Lisboa, a zona da Expo. Ao que parece, o novo concurso público para a manutenção dos jardins tem como critério um mínimo de 16 jardineiros. O concessionário anterior tinha 70 jardineiros a trabalhar. E portanto a notícia foca-se na impossibilidade de 16 jardineiros assegurarem a qualidade do serviço. Nas entrelinhas da notícia dá para perceber outras coisas. Percebe-se que o concurso inicial foi mal feito, que o nível de serviço prestado a um jardim deve ter critérios de exigência próximos de um serviço de saúde, que a mentalidade reinante associa qualidade do serviço ao número de pessoas que dele se ocupam e que a gestão dos jardins da câmara de Lisboa é uma confusão com múltiplas entidades com responsabilidade por espaços vizinhos. Percebe-se ainda que até em coisas simples como um jardim há megalomania.

3. O terceiro exemplo é um caso em que António Costa é apresentado a enfrentar a Siemens, empresa concessionária da manutenção dos semáforos, por esta não resolver rapidamente as avarias (António Costa afirma que o serviço prestado pela Siemens na manutenção dos semáforos“não é aceitável”). À medida que se vai lendo percebe-se que a responsabilidade pelo problema é do próprio António Costa. Os semáforos de Lisboa estão velhos (ou há dinheiro para semáforos novos ou para as milhentas actividades de show off que a câmara realiza). Em 2012 fizeram um concurso público contratar a manutenção dos semáforos. Ganhou a Siemens, perdeu a Eyssa-Tesis. Acontece que a Eyssa-Tesis é que tem acesso às peças para os semáforos, a Siemens tem dificuldade em encontrar peças de substituição. O concurso foi mal feito (ninguém se lembrou do problema das peças), a gestão de longo prazo dos semáforos foi mal feita, mas o Costa tem boa imprensa porque enfrenta a Siemens.

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