domingo, 19 de janeiro de 2014

Alvarás numa Lisboa arruinada

Nuno Castelo-Branco
Uma das situações mais estranhas nesta cidade a saque, consiste na obsessão pela construção de edifícios destinados ao terciário. Por regra substituem antigos prédios de habitação – nomeadamente aqueles construídos na viragem do séc. XIX-XX – e depois permanecem longos anos vazios, sem inquilinos. Por outro lado, muitos daqueles que durante anos serviram como sedes de empresas, subitamente ficam devolutos e fechados sine die, num estiolar evidente a qualquer transeunte.

A zona das Avenidas Novas - a Av. da Rep. incluída -, Duque de Loulé e perpendiculares, Avenida da Liberdade e anexas - entre outras zonas da capital -, possuem muitíssimas dezenas de prédios de escritórios completamente vazios, sem préstimo. Contudo, a CML teima, não se sabe qual a razão, em conceder alvarás de demolição de prédios de habitação e consequentes alvarás de construção para o terciário.

Nos Paços do Concelho, decerto ter-se-ão apercebido da iminência de Portugal se tornar num país cobiçado por todo o tipo de empresas internacionais, ansiosas por aqui definitivamente se estabelecerem. Os impostos são baixíssimos, não existem taxas, concedem-se benesses ao investimento estrangeiro, a justiça funciona, existe pleno emprego, é um país onde a inveja é coisa estranha, e mais importante que tudo isto, Portugal é o novo Kuwait, rebentando de petróleo que jorra pelas torneiras e de gás natural que sai pelos bueiros de todas as ruas. É assim mesmo, escritórios, precisam-se!

Para quem queira um investimento de estalo, aqui está um maravilhoso mamarracho situado diante da Embaixada da Rússia, ao Arco do Cego.


Se este blog se dedicar exclusivamente à postagem de fotos de edifícios de escritórios ao abandono, teremos serviço para um ano inteiro. Não procure mais, pois na sua rua decerto existe um.
Título, Foto e Texto: Nuno Castelo-Branco, blogue “Estado-Sentido”, 19-01-2014

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