Foram
tempos de glória e a Europa conquistava todas as áreas das experiências
humanas. Por que a Europa está tão acovardada? Seria uma crise de consciência,
fantasma dos erros cometidos? O fato é que depois das duas grandes guerras os
europeus enfraqueceram-se e alinharam-se às ideologias que dobraram até mesmo
os intelectuais, que antes combater as ideias perniciosas, juntam-se numa
espécie de covardia e apologia à barbárie.
É justamente essa lenidade dos intelectuais Europeus e a covardia dos seus homens médio que o escritor britânico Theodore Dalrymple retrata em seu livro A Nova Síndrome de Vichy (2010), porque os intelectuais europeus se rendem ao barbarismo, lançado no Brasil em 2016 pela É Realizações e traduzido por Mauricio G. Righi.
Segundo
Wikipédia, Síndrome
Vichy é uma expressão criada pelo historiador francês Henry Rousso
que representa “a dificuldade, durante décadas, de se admitir o que [de] fato
ocorrerá durante a guerra, e o desejo irresistível de bloquear a memória, ou
reconstruí-la de maneira a não corroer os frágeis elos da sociedade do
pós-guerra”. Se comparado a situação atual da Europa, então esta renasce não
como uma Fênix, mas como nações ressentidas e covardes a se ocultarem atrás das
consequências dos seus atos passados.
Em A Nova Síndrome de Vichy, Dalrymple nos mostra
que a apatia continuou em todos os aspectos da vida do homem europeu.
Entretanto é na massa de intelectuais que este fenômeno encontra apoio e espaço
para a sua proliferação. Os intelectuais se acovardaram e como dissera Ortega
y Gasset, “os homens médios europeus
são boias a deriva ao sabor do vento” e Dalrymple por sua vez,
argumenta:
“A Europa Ocidental encontra-se embrenhada numa condição
estranhamente neurótica e ao mesmo tempo presunçosa e angustiada, oscilando de
modo contínuo entre a complacência e o desespero. Apesar de todo esse sucesso,
há um disseminado senso de iminente obliteração, ou ao menos de declínio, a
permear a Europa.”
Ah
esses intelectuais! Que se prendem ao relativismo e negam as verdades
universais, e dizem que tudo é válido, tudo é permitido, pois para tudo há uma
explicação. Ora, Dalrymple chama este sentimento negativo a sociedade de
relativismo epistemológico e adverte que:
“Elas aceitam, como autoridade que não exista autoridade alguma,
exceto, é claro, o que elas pensam, e que é tão bom quanto o que pensa qualquer
outra pessoa. O peso intelectual é substituído pelo egoísmo.”
Os
problemas na vida do europeu não se referem a problemas financeiros e sim sobre
o motivo da sua existência. Esta experiência dolorosa, passa, sobretudo, pela
ausência de Deus. Pois para a Europa, Deus está morto. E se não há Deus, como
valorizar a família, proteger a terra, defender a moral, bons hábitos e
tradições? O Europeu mediano vive uma vida sem sentido. Reflitamos sobre o que
diz o Dalrymple:
“Para o bem e para o mal, Deus está morto na Europa e não vejo
muita chance de um retorno, exceto no despertar de uma calamidade. Nem tudo foi
perdido da atitude religiosa, entretanto; os indivíduos ainda têm a si mesmos
como absolutamente importantes, mas sem a contrapartida da humildade gerada por
um sentido de obrigação perante o criador.”
Os
problemas dos europeus, só se acumulam. Este é o caso dos recentes casos dos
imigrantes que invadem a Europa sem se desfazer dos seus hábitos e pior,
impondo-os aos anfitriões. Dalrymple adverte que a questão do repúdio de alguns
europeus a esse movimento é evidente e preocupante, sobretudo quando tudo não
passa de maquinações da comunidade europeia encabeçada pela União Europeia.
“Nenhum homem tem em sua identidade somente o aspecto da
nacionalidade.”
“Paradoxalmente, uma união muito próxima entre distintos Estados
nacionais poderia com facilidade gerar um conflito onde, até então, não existia
nenhuma possibilidade. Uma união monetária poderia, em determinadas
circunstâncias algumas das quais parecem estar agora acontecendo deixar os
Estados mais fracos da União diante de uma desagradável escolha entre a
discórdia internacional ou doméstica.”
A
Europa mudou e não foi para melhor. O homem médio europeu não percebe que as
suas escolhas determinam mal o destino de uma grande nação que por muito tempo
representou o orgulho da civilização ocidental. Faltando-lhe a capacidade de
pensar com profundidade, o europeu médio, volta-se para o seu umbigo e perde-se
em frivolidades. Eis o alerta de Dalrymple:
“A manutenção do padrão de vida é tão importante para os europeus
que eles veem os filhos não como herdeiros do que eles próprios herdaram, como
um fator essencial para o significado da vida, mas como obstáculos para o pleno
desfrute da vida, como algo que drena os recursos, um ônus a atrapalhar as
próximas férias em Bali ou em qualquer outro lugar, uma responsabilidade
excessiva a comprometer certas possibilidades, um entrave no caminho do
exercício da escolha.”
“A Europa mudou sem saber como conservar: essa é a sua tragédia.”
Texto:
Leio,
logo penso, 28-2-2018
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