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Uma nação vive de realidades e não vai
acabar por causa de uma eleição. Só que, mais cedo ou mais tarde, esse governo
vai ser obrigado a oferecer resultados
J. R. Guzzo
presidente Lula e o seu
governo, a cada dia que passa, se mostram mais e mais convencidos que vão ficar
aí para sempre, mandando neste país pelo resto da vida — eles e muita gente
boa, com certeza. Foram colocados no poder por uma coligação de forças que não
admitia mais, por razões e interesses diversos, que Jair Bolsonaro continuasse
governando o Brasil. Mas acham que estão lá porque fizeram uma revolução
“popular”, ou coisa que o valha, e no seu entender isso lhes dá uma escritura
de propriedade do Brasil, com autorização plena para eliminar o regime em vigor
e colocar em seu lugar mais ou menos o que bem entendem, ou que vierem a entender.
Estão deslumbrados em ter a polícia a seu favor; descobriram os encantos de
governar o país com a repressão. Podem prender gente. Podem proibir
manifestações de rua dos adversários. Podem censurar de alto a baixo as redes
sociais, inclusive cassando a palavra de deputados da oposição. Dão como
líquido e certo que a máquina do Poder Judiciário não vai punir nunca mais os
políticos da “esquerda”, não importa o que fizerem; depois de todo o trabalho
que deu para acabar com ela, ninguém vai inventar uma nova Operação Lava Jato a
esta altura do jogo, não é mesmo? A mesma máquina, segundo acreditam, vai
julgar legais todas as ilegalidades que fizerem. Não veem a hora de meter
Bolsonaro na cadeia. Acham que a República Socialista do Brasil, com Lula no
papel de Nicolás Maduro, está finalmente ao alcance da mão.
PT quer usar vandalismo em Brasília para apressar ações no TSE que tornem Bolsonaro inelegível: https://t.co/Rz5WSNbh5W
— Gazeta do Povo (@gazetadopovo) January 19, 2023
Será isso mesmo, no mundo real? A situação, na data de hoje, está para lá de ruim e, como comprova a experiência, pode ficar pior ainda, ou mesmo muito pior — a caixa d’água das desgraças, sabe-se bem, é coisa que não enche nunca. O Brasil, pela primeira vez desde o regime militar, tem presos políticos; diz que não tem, como faz o governo de Cuba, mas tem. O cidadão acusado de praticar “atos antidemocráticos” não está mais protegido pela Constituição ou pelo resto das leis atualmente em vigor no Brasil. Desapareceu o sistema de provas. O sujeito pode ser preso por estar perto do crime. O dono de um ônibus é responsável pelos atos praticados pelos passageiros depois que desembarcam — e dar dinheiro para se fazer uma manifestação legal é crime contra a democracia.
Uma conversa particular pelo WhatsApp pode ser considerada tentativa de golpe de Estado. Um governador de Estado é afastado do cargo por medida cautelar, como se fosse um servente de prefeitura. O ministro da Justiça, transformado em chefe nacional de polícia, é o homem mais importante do governo. Abriu-se, no alto do Poder Judiciário, uma questão nova: é preciso, segundo dizem, “discutir” a liberdade de reunião. O direito de falar nas redes sociais não existe mais; depende estritamente, agora, de permissão por parte da autoridade pública. É tudo isso, e muito mais — e o conjunto da obra, com três semanas de governo Lula, é de terra arrasada, com mais arraso pela frente e a construção diária de um futuro sem esperança.
Esse
governo, mais cedo ou mais tarde, vai ser obrigado a oferecer resultados na
vida real — não existe a alternativa de não fazer nada, ou acumular problemas
não resolvidos, e se dar bem
Só que construir desastres pode ser mais complicado do que se pensa; ações praticadas hoje não significam resultados amanhã, e más intenções não se transformam automaticamente em más realidades. Lula e os radicais que ocupam todos os cargos com alguma importância real no seu governo querem, sem dúvida, trocar o regime atual do Brasil por alguma coisa que não sabem bem o que é, mas parece um cruzamento de Venezuela com Daniela Mercury — pelo menos é o que dizem todo dia, em voz cada vez mais alta. A questão é ver se conseguem fazer o que querem. Há, desde logo, um problema essencial: Lula montou, objetivamente, um governo monstruoso, e governos com esse grau de deformação não costumam ganhar campeonatos.
É difícil, na verdade, descobrir alguma coisa certa no que se fez até agora. Mais da metade dos ministros tem dificuldades sérias com o Código Penal. Uma ministra se chama “Daniela do Waguinho” — como pode dar certo alguém que tem um nome desses? Suas relações são cidadãos conhecidos como “Jura”, “Babu”, “Marcinho Bombeiro”, “Fabinho Varandão” — gente metida com homicídio, extorsão e milícias do Rio de Janeiro. A última notícia a seu respeito, com três semanas no cargo, é que desviou R$ 1 milhão de verbas de campanha servindo-se de gráficas fantasmas. É verdade que o seu cargo tem importância abaixo de zero. Mas o que dizer do ministro teoricamente mais importante, o da Fazenda, que declara não entender nada de economia — e confunde Conselho Monetário Nacional, que faz a política de defesa da moeda, com Comissão de Valores Mobiliários, que fiscaliza operações na Bolsa? É por aí, nome a nome, que se vai — num circo de aberrações que tem o bezerro de três cabeças, a mulher-gorila e o Luís XV de escola de samba.
Esse governo, mais cedo ou
mais tarde, vai ser obrigado a oferecer resultados na vida real — não existe a
alternativa de não fazer nada, ou acumular problemas não resolvidos, e se dar
bem. Uma deformidade básica da administração Lula é sua ideia fixa de destruir
coisas — já acabou com a Secretaria de Alfabetização, anulou decretos sobre a
posse legal de armas, tirou o Brasil do acordo internacional sobre o aborto,
eliminou o programa de educação digital, está sabotando a nova lei do
saneamento. E quando acabar a lista de objetivos a destruir — vão fazer o quê?
Só tem sentido demolir uma casa para fazer outra no lugar, e até agora o
governo Lula não mostrou a menor inclinação, ou competência, para construir
nada; sua única proposta para o mundo das coisas reais, até agora, é cobrar de
novo o imposto sindical. Governos não costumam ficar mais fortes ressuscitando
impostos mortos, nem podem sobreviver de miragens como a “moeda sul-americana”,
ou o arroz orgânico do MST. Têm de encarar, por exemplo, a inflação — e qual é
o seu plano a respeito do assunto? Lula recebeu um Brasil com inflação abaixo
dos 6% ao ano; vai reduzir para 3%? A pobreza extrema, segundo os números Banco
Mundial, é hoje a menor desde 1980, quando os índices mundiais de miséria
começaram a ser medidos; está em menos de 2% da população.
E então: o governo vai ser
capaz de diminuir essa cifra, ou pelo menos impedir que ela aumente nos
próximos anos? O desemprego, hoje, é o mais baixo desde 2015; só no ano passado
foram criados mais de 2 milhões de novos empregos. A República Socialista do
Brasil vai fazer melhor? A atual renda média do trabalhador está acima de R$
2.700 por mês; vai passar a 3.000 no fim deste ano? O saldo da balança
comercial em 2022 foi superior a US$ 60 bilhões — e por aí vai. Em cada um
desses itens, e em tantos outros, o governo vai ter de mostrar serviço. Criar o
Ministério do Índio é fácil; criar emprego é outra história. Promessas de
censurar as redes sociais não geram renda, e dizer que “120 milhões de pessoas”
passam fome no Brasil, como acaba de fazer a ministra do Meio Ambiente, não
produz miseráveis que não existem. Não adianta nada, aí, contar com a “narrativa”.
As apresentadoras da Rede Globo podem ficar o resto da vida falando umas com as
outras através das paredes, mas não seguram o índice de inflação, nem colocam
salário no bolso de ninguém.
Bons resultados, de verdade,
são ainda mais críticos quando se considera que o governo Lula é uma armação
minoritária; o fato, no mundo das coisas reais, é que a maioria do povo
brasileiro não gosta de Lula, nem do PT, e nem do que eles pregam. São os números
que dizem isso. Nestas últimas eleições, segundo os dados do próprio TSE, 60%
dos eleitores não votaram em Lula — ou votaram em Jair Bolsonaro, que teve uma
votação praticamente rachada no meio com ele, ou não quiseram votar.
Subtraindo, além disso, quem votou a seu favor unicamente por medo ou aversão a
Bolsonaro, quantos sobram, de fato, entre os 215 milhões de brasileiros? Para
país acostumado a não ter liberdade, como China, Rússia ou republiquetas
latino-americanas do eixo Cuba-Nicarágua, não faz diferença se o governo tem ou
não tem maioria. Mas não está claro se no Brasil a coisa é igual — sobretudo
quando o presidente da República se recusa terminantemente a reconhecer a
existência de 58 milhões de cidadãos que votaram no seu adversário final. Ao
contrário: declarou guerra a essa gente toda, como se multiplicar inimigos
fosse uma obra de governo.
Também há, em consequência
direta da rejeição de Lula, um Congresso complicado. Na Câmara dos Deputados o
PT e seus aliados, incluindo aí PSB e PDT, têm 25% das cadeiras — e não se vê
bem como o Sistema Lula conseguirá mudar o regime tendo três quartos dos
deputados federais contra ele. Todo mundo sabe, é claro, que boa parte do
Congresso brasileiro é venal — mas há outra parte que não é, e isso cria um monte
de dificuldades práticas. Vão fazer o quê? Substituir a Câmara e o Senado por
uma “assembleia popular” comandada pelo Diretório Nacional do PT? Congresso que
funciona, por pior que funcione, é sempre um problema sem solução — ou se
fecha, ou será preciso conviver com ele. O fato, do ponto de vista político, é
que existe aí um governo doente, controlado por extremistas que se julgam o
exército vencedor de Fidel Castro descendo da Sierra Maestra, mas são apenas um
aglomerado de militantes que não conseguiriam, juntos, produzir uma caixinha de
chicletes.
Não está explicado, até agora,
como um governo amarrado com barbante vai “mudar a sociedade”; é difícil, mesmo
com muito esforço, transformar em Nicarágua, Bolívia ou coisa parecida uma
economia de US$ 1,5 a US$ 2 trilhões como a do Brasil, baseada em sistemas de
produção essencialmente privados e operados numa dinâmica capitalista que
possivelmente já avançou para além do ponto de não retorno. É algo que não
parece estar dentro da capacidade de um governo que imagina criar um Brasil
mais rico se juntando com o Peru, ou no qual o ministro mais ativo é um
especialista em conservação de miséria — governou o Maranhão durante oito anos
seguidos e, ao sair, seu Estado continuava disputando o campeonato nacional da
pobreza extrema. Que grande apoio das massas se pode conseguir desse jeito?
O Brasil não vai viver durante
anos a fio de discurso, de cara feia ou de eliminação das liberdades; vai
cobrar resultados de Lula, e Lula armou um governo com gente incapaz de produzir
resultados. Uma quantidade cada vez maior de pessoas vai querer que se vire a
página das eleições, que o poder público forneça o mínimo de paz para o Brasil
produzir e que haja o grau de tranquilidade indispensável para que cada um
trabalhe, cuide da própria vida e tenha um pouco mais de esperança, saúde e
dinheiro no bolso. É inútil, para isso tudo, um governo cuja prioridade é
colocar na cadeia um homem que acaba de receber quase 60 milhões de votos.
Igualmente inútil, e destrutivo, é ficar achando que o Supremo Tribunal Federal
é o único problema do país, ou que o Brasil precisa de uma “intervenção
militar”, ou que se vão construir soluções bloqueando estradas em Mato Grosso.
Uma nação vive de realidades; não vai acabar por causa de uma eleição. A vida
continua. O jogo só acaba quando tiver acabado.
Título e Texto: J. R. Guzzo,
Revista Oeste, nº 148, 20-1-2023
Que parágrafo interessante – e lindo!
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FOTO UM. FULA E ALEALEALEALEALEALEAAA...Ande AleandredepressaDemais.
ResponderExcluirFula:
- Eu se fosse você, tirava esse trocinho vermelho do pescococoço...
Aparecido Raimundo de Souza
de Santo Eduardo, RJ
É só tirar a escada...
ResponderExcluirAparecido Raimundo de Souza
Santo Eduardo, Rio de Janeiro