Theodore Dalrymple
Há duas origens do
relativismo: abstrata e empírica. Se em princípio você não pode fundar ou
estabelecer qualquer fato – estético ou de julgamento moral – sobre uma
indubitável e metafisicamente correta premissa que todo ser racional possa
aceitar sem antes cair em autoevidente contradição, então decorre que todos os
fatos e julgamentos se encontram em fundação segura e, portanto, são
vulneráveis à crítica. Na realidade, nenhum julgamento pode ser privilegiado em
relação a qualquer outro, ao menos não em meros termos evidenciais.
Portanto a escolha entre eles
permanecerá arbitrária. Daí se define que aquilo que determina a crença de um
homem – tanto faz se isso se refira a um fato ou a um julgamento moral ou
estético – nunca poderá ser critério para uma avaliação honesta da evidência
contra ou a favor. O que conta é aquilo em que o sujeito quer acreditar; e
aquilo em que quer acreditar é, por sua vez, determinado por seus interesses materiais
ou psicológicos, conforme for o caso.
Sem dúvida, nenhum homem vive,
ou mesmo poderia viver, como se o relativismo epistemológico fosse verdade, ou
como se julgamentos morais e estéticos fossem apenas expressões de uma
preferência pessoal ou de uma vontade de poder. Não apenas um ceticismo radical
como esse é psicologicamente impossível (ninguém seria capaz sequer de preparar
um chá, caso adotasse um ceticismo radical em sua vida concreta) como, também,
cai mais ou menos na mesma contradição em que se viu o positivismo lógico.
O positivismo lógico defendia que, por um lado, ou as afirmações seriam empiricamente verificáveis ou seriam tautológicas (isso quer dizer verdadeiras pela definição dos termos no sujeito e no predicado) ou, por outro, estariam desprovidas de sentido, ou seja, meras baboseiras que podem, ou não, encontrar um formato exprimível em sentenças corretas à luz da gramática, mas que não se referem a nada fora de si mesmas, não sendo inerentemente nem verdadeiras nem falsas.
O problema para o positivismo
lógico era que sua própria doutrina não era verificável nem empírica nem
tautologicamente, portanto sofria do mal que acusava. Desse modo, caso isso
fosse verdade, o positivismo lógico também não teria sentido fora de si mesmo
e, como consequência, segundo suas próprias proposições, não poderia ser nem
verdadeiro nem falso.
É certo que a alegação dos
relativistas não é uma bobagem defendida com cautela por pessoas profundamente
inseguras consigo mesmas. Os relativistas fazem afirmações que baseiam sua
força em sua absoluta verdade. Por exemplo, uma escola de relativistas ressalta
o fato de as teorias científicas serem apenas provisórias a fim de negar à
ciência um estatuto de conhecimento superior, ou seja, de ser uma justificada e
verdadeira crença, ou de alcançar qualquer status especial; e alguns vão ainda
mais longe, baseando-se no trabalho histórico-filosófico de Thomas Kuhn, que
afirmava que os cientistas mudavam suas teorias não segundo as evidências, ou
porque as evidências exigiam, mas por uma grande variedade de outras razões:
psicológicas, econômicas, institucionais, etc.
Sabendo-se que sempre existirá
mais do que uma teoria que se destina a dar conta de um fenômeno, a escolha
entre elas é arbitrária, uma questão mais de gosto que de verdade. (A posição
da Navalha de Occam segundo a qual as teorias têm de ser o mais simples
possível na explicação daquilo que se dedicam a explicar é ambígua.
Assemelha-se mais à dica de um chef de cozinha sobre como cozinhar com eficiência
do que uma regra lógica ou a uma verdade contingente sobre o mundo.
Afinal de contas, por que a
teoria mais simples deveria ser sempre a melhor? Na medicina, os médicos tentam
explicar os sintomas de um paciente ao diagnosticar uma única doença que
satisfatoriamente os elucide, mas às vezes os pacientes têm, de fato, mais que
uma doença, e isso ocorre independentemente de o diagnóstico simplificado
explicar ou não todos os sintomas. A maior parte dos médicos já foi enganada,
em algum momento de sua carreira, pela beleza e elegância de sua teoria sobre o
que há de errado com um paciente.)
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Ou seja amigo Descartes. Você não está Descartado.
ResponderExcluirAparecido Raimundo de Souza
de Santo Eduardo, Rio de Janeiro.