quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

[Livros & Leituras] Em defesa do preconceito – a necessidade de ter ideias preconcebidas

No pensamento atual, ter preconceitos (aceitar ideias como verdadeiras, sem questioná-las) significa ser racista, bitolado e retrógrado (dentre outros adjetivos), quando o ideal seria todos serem livres-pensadores e questionarem tudo que lhes ensinam.

Neste livro, porém, Dalrymple aponta que a verdadeira razão para o surgimento desse ideal de liberdade de pensamento é que não queremos ter nossas ações restritas; desejamos poder fazer o que bem entendemos, quando bem entendemos. Influenciados pelo racionalismo de Descartes e Mill, rejeitamos qualquer autoridade sobre nosso comportamento moral, seja essa autoridade a religião, a história ou as convenções sociais, e isso faz com que percamos importantes reguladores de comportamentos antissociais. Se não nos autopoliciarmos, a lei é a única força que pode conter nossos comportamentos antissociais e os conflitos resultantes – o que muitas vezes faz com que governos se tornem autoritários.

Como escreve o autor: “É necessário bom senso para saber quando um preconceito deve ou não ser abandonado”. E bom senso é algo que tem sido esquecido na nossa luta contra os preconceitos ruins, que são deixados de lado junto com os bons.

Eis o que escreveu Rodrigo Constantino:

Pela brevidade do espaço, quero me ater, neste momento, a apenas uma obra, a de Theodore Dalrymple, Em defesa do preconceito: a necessidade de se ter idéias preconcebidas. A Editora é É Realizações. Não se trata de uma resenha ou um resumo, apenas de um breve comentário de quem quer ajudar a combater o preconceito e está saturado dele, pois são direitos individuais que estão em jogo.

Toda a obra é muito fácil de ser entendida, para os sensíveis. Se Dalrymple quisesse mesmo defender o preconceito será que sua obra teria sido publicada em seu país ou mesmo traduzida para o nosso? Esse meu argumento já é um ponto de partida para início de conversa e fazer com que os discordantes, ao menos, se olhem nos olhos por um breve lapso de segundo.

Em primeiro lugar, a obra de Theodore Dalrymple nos deixa um aviso: nascemos e devemos ser preconceituosos, sim! Isso choca, obviamente, mas tem uma explicação mais do que lógica e ela não enaltece o preconceito. Se não tenho condições de convencer para esse bem, então que o leitor ao menos acredite em Theodore Dalrymple e siga adiante.

Os conhecimentos e as ideias preconcebidas, esse o conceito que Dalrymple traz e que, injustamente, é visto pelo politicamente correto como  preconceito, deve nortear nosso pensar e nosso agir social. Nos dias de hoje, falar que o preconceito deve ser defendido significa uma desumanidade tal como a de Hitler no seu tempo. Nos termos hodiernos, palavras machucam, idéias contrárias ao senso comum devem ser evitadas. Essa oposição ao debate sobre o preconceito só afirma a natureza ressentida da cultura atual, mimada por direitos e mais direitos, naquilo que Theodore Dalrymple escreve na sua obra, negação de reciprocidade limitadora. Ou seja, o direito de hoje, tem-se entendido, deve ser exercido sem a consciência do outro, apenas para satisfazer o ego.

Nesse sentido, o preconceito (lembrando: idéias preconcebidas!) é que ajuda, quando não é fundamental, a livrarmos de nós mesmos, de nossa inconsciência do pecado original, de nossa vontade de nos aniquilarmos ou apenas os outros, quando esses nos causam, assim pensamos, algum dano. O preconceito, assim chamado por quem o venera, é que é a nossa fonte de vida sem a qual nada de civilização poderia ser possível. Ao desprezo da experiência humana, da tradição, do legado cristão, das instituições que temos em nossa cultura, enfim, de tudo que existe em nossa bagagem consciente, tudo que foi criado com muito custo seria destruído, inclusive o próprio ser humano.

Geralmente os grupos de esquerda sentem-se afrontados com postagens, textos, artigos, etc., de grupos de direita que parecem ser preconceituosos. Mas essas manifestações são legítimas e dentro do padrão legal. Geralmente, havendo, portanto, exceções, trata-se de manifestações legais e que nada tem a ver com homofobia, racismo, sexista, machismo, enfim, não existe nenhum ponto que ataque a pessoa ou a sua dignidade. Devo lembrar a grande revolução que o vocábulo preconceito se nos apresenta nos dias de hoje, como instrumento da política abusiva e manipuladora de mentes e de almas.

Por exemplo, dizer que se é contra ou se tem algumas ressalvas contra o Estado de bem-estar social soa meio preconceituoso, pois quem não quer que os vulneráveis sejam atendidos, não é mesmo? Aqui, não há que se falar em preconceito quanto à pessoa necessitada ou grupos específicos. O que se quer é o despertar da consciência do indivíduo no sentido de que ele venha, mais do que aprender a pescar, aprender a pensar em pescar. Figurativamente, existe todo um potencial humano enorme para além da atividade da pesca, só que o Estado, além de querer dar o peixe, quer ensinar a pescar.

Nossa mente não deve ser uma página em branco, como ele alude brilhantemente no capítulo 21. O ser humano foi feito para pensar e raciocinar, ter opiniões, ideias e crenças, viver do seu jeito e não ser uma máquina manipulável. É impossível que nossa mente seja uma folha em branco, no sentido questionado pela teoria da tábula rasa. Nossa mente nunca foi e é impossível ser reativa de uma forma passiva. Nossa mente reage aos nossos comandos e sempre de acordo com algum preconceito que estabelecemos por nossa lei do certo e do errado. Nem mesmo a aleatoriedade de nossa atenção existe, porque a própria natureza indica a diferença entre um homem e um leão que quer nos devorar, reagindo nossa mente e preconceito moral a esse comando de sobrevivência. Dalrymple, baseado em Adam Smith (Teoria dos sentimentos morais), tem o preconceito (naquilo de ser idéias preconcebidas) algo inato ao ser humano, que prediz nossa lei moral. O homem já nasce preconceituoso, com certas predisposições, propensões e pressuposições, ainda que no curso de sua vida possa fazer escolhas. Informa Dalrymple que o único povo que deixou de ser preconceituoso teve um fim trágico, pois abandonou a lei do certo e do errado, agindo impulsivamente para a própria sobrevivência. Os Ik. Turnbull seguiram os conselhos de John Stuart Mill e de Hobbes e se deram mal.

Essa obra aponta o dedo na nossa cara não para julgar ou para condenar, mas para nos ajudar a sermos pessoas melhores no nosso dia-a-dia. Essa obra veio para quebrar paradigmas, o da homofobia, do racismo, do sexismo, do machismo, das verdades abstratas, quase sempre escondidos ou instrumentalizados por esses vocábulos; ela veio para tirar o automatismo do politicamente correto. Enfim, para sermos menos preconceituosos.

A cortina do preconceito está aberta e só não a vê quem não quer ou finge que não quer. O mundo não é formado apenas por uma lente de contato que nos diz, todos os dias ao acordarmos se não estivermos já preparados para as boas novas, que tudo deve ser do jeito que coletivistas querem. A liberdade é o maior de todos os bens que Deus deu aos seres humanos. Tanto que sacrificou um filho para nos dar exatamente isso, liberdade! O preconceito, este sim, trata-se de uma maldita herança legada de verdadeiros preconceituosos, racistas e xenófobos de tempos de guerra e sangue, como Hitler e outros genocidas humanitários. Agora temos que suportar o silêncio ou lutar contra ele, numa postura libertária que tem na própria palavra preconceito o objeto ou instrumento de guerra.

Rodrigo Constantino, Gazeta do Povo, 8-6-2017


CRÍTICA | EM DEFESA DO PRECONCEITO, DE THEODORE DALRYMPLE
por ANTHONIO DELBON 14 de janeiro de 2019

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