Não são os “negacionistas” que sobre a contenção da Covid já disseram tudo e o seu contrário, num desnorte que nos últimos dias chamou a atenção de várias juntas psiquiátricas
Alberto Gonçalves
Porém, esse não é o ponto. O
ponto é que, conforme acontece nas nações menos afeiçoadas a preceitos
democráticos, a prepotência e a inaptidão precisam de bodes expiatórios para
não parecerem tão prepotentes e inaptos. E os “negacionistas” vêm a calhar. Mas
não calha bem.
Começo por notar que os
“negacionistas” não prejudicam ninguém: não são eles que propagam a Covid aos
cidadãos cumpridores que, justamente por não serem “negacionistas”, não violam
as 7.329 (em atualização) regras do “confinamento”, não se expõem a riscos
desnecessários e nunca se cruzariam com um negacionista. Se pensarmos um
bocadinho, é impossível por definição os cidadãos cumpridores apanharem o vírus,
pelo que os hospitais, a estarem repletos, estão repletos de “negacionistas” a
sofrer o justo castigo. Fora isto, há mais uns pormenores.
Não são os “negacionistas” que
aplaudiram as restrições à liberdade até estas se revelarem tão catastróficas
na saúde quanto na economia, momento aproveitado para exigir mais restrições e
ilibar o governo no processo: antes do recorde de casos e mortes, o dr. Costa
era um líder forte e redentor, agora é um santinho brando e com uma ponta de
azar.
Não são os “negacionistas” que
difundem notícias falsas ou seletivas acerca da “eficácia” dos “confinamentos”,
e da sua aplicação “idêntica” em “todos” os países.
Não são os “negacionistas” que
forçam “confinamentos” propensos a criar mutações agressivas no vírus e nas
cabecinhas.
Não são os “negacionistas” que
proíbem os espaços e as atividades ao ar livre, onde o vírus mal se propaga ou
não se propaga de todo, para enfiar as pessoas em casa, após convívio caloroso
nos transportes públicos, nos supermercados e, até ontem, nas escolas.
Não são os “negacionistas” que
identificam a especial perigosidade do vírus em postigos, bancos de jardim,
livros, cuecas, na água em “take away” e, depois das 20h00, na pinga.
Não são os “negacionistas” que culpam Trump, Johnson e Bolsonaro pelos efeitos da Covid nos respectivos países e isentam os nossos amados líderes da mesmíssima coisa.
Não são os “negacionistas” que
atropelam o (escasso) consenso científico e o mero bom senso para se limitarem
a abolir, obrigar e punir, de acordo com os índices de popularidade e falta de
vergonha.
Não são os “negacionistas” que
tratam os portugueses como criancinhas particularmente retardadas, com direito
a prendinhas pelo Natal e a tautau pelos abusos subsequentes.
Não são os “negacionistas” que
sobre a contenção da Covid já disseram tudo e o seu contrário, num desnorte que
nos últimos dias chamou a atenção de várias juntas psiquiátricas.
Não são os “negacionistas” que
andam há quase um ano a ignorar os lares de velhos, os quais contribuem com
cerca de um terço das mortes “de” ou “com” Covid.
Não são os “negacionistas”
que passaram anos a louvar o “melhor serviço nacional de saúde do mundo” ao
mesmo tempo que lhe retiravam verbas e o deixavam no estado desgraçado que já
se constatava antes da Covid.
Não são os “negacionistas” que
por fanatismo ideológico recusam a colaboração dos hospitais privados, exceto
através de ameaças tresloucadas de “requisição civil”, uma brincadeira que
levaria os proprietários a fechar o tasco e os respectivos médicos a fugir em
debandada da Venezuela.
Não são os “negacionistas”
que, para disfarçar a debilidade dos hospitais públicos, condenam à morte
milhares de pacientes com doenças pelos vistos arcaicas como cancros, enfartes
e aborrecimentos afins.
Não são os “negacionistas”
que se passeiam escusadamente por lares, hospitais e escolas, acompanhados por
repórteres aos magotes e um genérico cheirinho a Terceiro Mundo.
Não são os “negacionistas” que
elaboraram um plano de vacinação ridículo no papel e inexistente na prática:
além do orgulho pelo maior número mundial de infectados e mortos, justifica-se
cantar o hino pela menor percentagem de vacinados em todo o Ocidente, conquista
que nos demorou apenas três semanas a alcançar.
Não são os “negacionistas” que
arruínam pela falência centenas de milhares de famílias para fingir que se
tomam “medidas” e “decisões”, a cargo de criaturas que nunca trabalharam na
vida.
Não são os “negacionistas” que
ouvem e reproduzem o palavreado canalha dos governantes sem uma dissidência,
uma questão, uma duvidazinha sequer.
Não são os “negacionistas” que
celebram “Abris” e “Primeiros de Maio” e “Avantes!” com especiais proximidade e
carinho, no fundo para celebrar o privilégio de alguns face à ralé.
Não são os “negacionistas” que
exigem a prisão domiciliária da população em peso, desde que o salário dos
privilegiados não seja partilhado com os sacrificados para efeitos de
“solidariedade” e “união”, penduricalhos tão bonitos na conversa fiada.
Não são os “negacionistas” que
alimentam o medo destinado a transformar indivíduos adultos em bonecos servis,
e uma sociedade num laboratório de experiências doidas.
Não são os “negacionistas” que
escarnecem da pobreza que provocam a “salvar vidas” (desculpem) enquanto
estrafegam o saque em “investimentos” na TAP e na banca.
Não são os “negacionistas” que
espalham o caos e a irracionalidade para simplificar a conquista do Estado e
atafulhá-lo com detritos em forma de gente.
Não são os “negacionistas” que
usam a Covid para uma ofensiva furiosa contra tudo o que tenta respirar fora da
órbita estatal, de hospitais a escolas, passando pela internet e pela liberdade
em suma.
Não são os “negacionistas” que
defendem a concessão de mais poder a quem usou o poder que já tinha para
espalhar mentiras, desfilar arbitrariedade e exibir uma brutal incompetência.
Não são os “negacionistas”, nem a “estirpe inglesa”, nem o frio, nem o sector privado, nem o Natal que fazem com que Portugal caia nesta criminosa miséria: são vocês.
Título e Texto: Alberto Gonçalves, Observador, 23-1-2021
Marcação de Texto: JP
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José Veiga
ResponderExcluirOnde está o Diabo, perguntavam.
Aí o têm, a transformar o país, de acordo com as estatísticas, no maior inferno pandémico sobre a terra.
Campeões do Mundo, celebra o cartoon do “António”.
Genericamente, os média, que nesta matéria ridicularizavam Trumps e Bolsonaros, domados desde há muito pelo politicamente correto e por mais alguém, veem o fogo (como não vê-lo?) mas calam quem o soprou/não o combateu.
Apontam-se razões, mas não há culpados.
Ou então culpado é todo o mundo e ninguém! O “povo”!
Negacionismo no seu esplendor!
O negacionismo dos media é visível na forma como não temos reportagens do interior dos hospitais nesta altura. Antes, de Itália, de Espanha, dos EUA e do Brasil, eram com fartura.
ResponderExcluirAgora, em Portugal, acontece a maior mortandade dos últimos 40 anos e não há reportagens para amostra! Quer maior prova de que os média foram comprados?
Até o Observador, que recusou, acabou a fazer uma parceria com a TVI, que aceitou, para receber indiretamente do dote mediático. Um apoio em 'outsourcing'. A regra é seguir o guião do governo: neste momento, nem reportagens do interior dos hospitais. Mesmo com momentos de crise históricos a acontecer nos mesmos.
Portugal com mais 15.333 casos e 274 mortes
ResponderExcluirNovos máximos desde o início da pandemia. Vice-presidente Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, avisa que a variante sul-africana do coronavírus pode estar já disseminada em Lisboa.
A cada 5 minutos morreu uma pessoa com Covid-19
Por minuto, houve 11 pessoas a ficarem infetadas com o coronavírus, segundos números deste sábado. E a cada dois minutos, houve um doente que teve de ir para os cuidados intensivos.
Observador, 23-1-2021
Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay !
ResponderExcluirEste covid é o cão chupando manga e esta vencendo esta guerra,onde todos nõs somos perdedores!
https://coronavirus.jhu.edu/map.html