Carina Bratt
Amigas leitoras, acreditem:
Todas nós vivemos emparedadas
dentro de uma cadeia enorme de limites. Por mais que estudemos, por mais
diplomas que viermos a colecionar, ao longo da vida, estaremos sempre
atreladas, ou melhor, amarradas, pés e mãos, à uma série infindável de metas
que nos são impostas no dia após dia, pela sociedade.
A sociedade é uma vilã. Uma megera indomável, renascida dos escombros dos idos medievais, ou mais precisamente dos tempos dos homens e das mulheres que viviam em cavernas. A sociedade é suja, nojenta e hipócrita. Pegajosa, grudenta, sufocante. Sobretudo sufocante. Exige muito de nós e, em contrapartida, não nos oferece absolutamente nada.
Bailarina na janela, Agnaldo Passos |
Apenas uma lista de cobranças e exigências, a maioria delas, sem
fundamentos lógicos. Estamos, a bem da verdade, sinalizando, com todas as
letras, que não somos totalmente livres, nem absolutamente desimpedidas,
independentes e donas de nossos narizes e destinos. Não importa o tempo de vida
que passaremos por aqui, na constância inconstante, do habitual.
Sempre esbarraremos nas malditas linhas intrincadas e cheias de
impedimentos e atoleiros, nos proibindo, nos freando, ou dito de forma mais
direta, nos obstaculando, nos bloqueando de todas as formas para não seguirmos
em frente e sermos completamente felizes e realizadas.
A cada dia, acreditem, a cada dia esta sociedade nojenta e abjeta que nos
encarcera (de braços dados com a educação, irmanada à religião e as
disparidades advindas dos berços familiares) seguirá nos atribuindo novas
demarcações, nos direcionando para onde deveremos seguir ou não, isto se
quisermos viver sem atropelos e problemas vindouros.
A sociedade, assim como a vida, ambas nos constrangem, nos ameaçam, nos vedam os passos. Nos aprisionam, nos fazem literalmente cativas, nos envolvem em malhas e correntes, talingas e amarras difíceis de nos vermos desafogadas e amenizadas de seus embaraços.
Claro que não mencionamos aqui somente os desprazeres do agora-cotidiano,
todavia, englobamos também os obscuros que nos chegam advindos de todos os
quadrantes, que nos pegam de saias justas, nos empurrando, contra as nossas
vontades, às gaiolas das opressões, as mesmas que nos impedem de deslancharmos
em busca de nossos sonhos e objetivos.
Daí afirmarmos viver agarradas às limitações. Aos contratempos os mais
intrincados. Exemplos? Teríamos um calhamaço invejável. Vejamos apenas dois ou
três. Carecemos votar. Se não tivermos com as obrigações eleitorais em dia,
estaremos mortas. Não existiremos. Deixaremos de ser seres humanos e passaremos
a viver, às margens da vida.
De igual forma, agora, com a chegada da vacina da Covid-19. Se não nos
submetermos a ela, não poderemos sair do país. Seremos vistas como criaturas
retrógradas, superadas, marginalizadas. Passo igual, o WhatsApp acabou de
anunciar que a nossa privacidade, foi pras cucuias.
Significa dizermos que tudo o que falarmos, em nossas mensagens ou
escrevermos, estará num enorme e gigantesco casarão Big Brother Brasil, com
todos os nossos bate papos entre amigos e parentes, à disposição das
autoridades constituídas. Perguntamos, amigas leitoras: para onde foi a nossa
intimidade? Para onde fugiu o nosso direito garantido de não sermos
monitoradas, ou de não nos vermos reconhecidas ‘pela aí?’.
Cadê a tal privacidade de não termos mais nossos registros preservados ou
publicados? Cadê a nossa soberania, a nossa individualidade? Amigas e amadas,
tudo nos foi tirado, na força, na marra, na ilegalidade. Rasgaram a
Constituição Federal. Queimaram, às escondidas, os nossos direitos de
professarmos as nossas contrariedades.
Daqui para pior. Sempre para pior. Logo seremos surpresadas com outras
barbáries. Breve chegará o momento em que, para sairmos de nossas casas, para
irmos à farmácia, à padaria, ao dentista, ao supermercado, teremos de prestar
contas, às milícias.
Nossos passos serão monitorados pelos poderosos, pelas autoridades constituídas,
pelas polícias federal, civil e militar... Ou correremos o risco iminente de
irmos parar atrás das grades. Estão lembrados do jornalista Oswaldo Eustáquio?
Alguém sabe, de fato e de direito, o que aconteceu com ele? Daí, batermos na
tecla de não sermos livres e soltas, na verdadeira acepção da palavra.
A nossa liberdade, queridas amigas, a nossa autonomia, a nossa alforria,
a emancipação em toda a sua formosura ficou num distante passado. Se perdeu na
febre de num longínquo remoto do qual não nos sobrou nada. Apenas boas
recordações de quando ainda éramos desnubladas e nos sentíamos gente. Grosso
modo, e em resumo, seremos, dentro em pouco, sequoias caídas na floresta. Acaso
as amigas, ainda que 'por breve comentar', ouviram falar na extinta Amazônia?
Título e Texto: Carina
Bratt, de Linhares no Espírito
Santo, 31-1-2021
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