Carina Bratt
Uma coisa que precisamos levar a sério. Aliás, caras amigas e leitoras, muito a sério, caso contrário, correremos o risco de ficarmos loucas. As nossas despesas diárias, notadamente as que fazemos utilizando os famosos e práticos cartões de crédito.
Tomem cuidado. Se policiem. Atenção redobrada, com aqueles cujas
bandeiras nos oferecem saldos grandiosos, limites estratosféricos, e que nos
apresentam um leque infindável de facilidades e total e irrestrita ausência de
obstáculos. Estes são os piores vilões.
Se não colocarmos os pés no freio (de preferência os três), nos veremos
envolvidas numa bola de neve difícil de sairmos inteiras e ilesas, e sem as
incômodas e estafantes dores de cabeça. Carecemos, logicamente, de um amontoado
de coisas.
Entre elas, objetos de uso doméstico são os que mais se perdem e se
destacam num rol interminável, como no mesmo espirro, as famosas bugigangas
para embelezamentos pessoais, neles incluídos as academias, os salões de
beleza, as manicures, as pedicures etc.
O percurso mais fácil e largo para a ‘gastança desenfreada’, sem dúvida,
os charmosos shoppings. As suas mil lojas disto e daquilo, estão lá,
borbulhantes, chamativas, com as portas abertas e não só elas, as gargantas das
vendedoras, escancaradas e o desejo imenso de venderem de tudo, até o que não
existe, para atingirem as respectivas metas, e engordarem os ganhos para
equilibrarem seus salários.
Estas criaturas, caríssimas, se vocês tiverem tempo de observarem, nos
devoram de olhos engordurados, fazem de tudo, para arrancarem de nossas bolsas
e carteiras, os ricos trocadinhos e centavos que conseguimos guardar. A nossa
feminilidade é luxuriante e extremamente obesa e cara.
A nossa imagem e o nosso apuro, aliadas à nossa apresentação no cotidiano do dia a dia, nos arrancam os cabelos. A sociedade, por sua vez, não fica atrás. Exige muito de nós. Diria que nos massacra, nos espezinha. Se não estivermos atentas, nos deixa peladas, literalmente, sem mencionarmos a auto estima para baixo, a grau zero.
Tenho várias amigas que entraram em depressão exatamente por gastarem
mundos e fundos e depois não conseguirem se livrar das faturas dos cartões de
crédito. Não devemos esquecer, todo começo de mês, as lojas (as famosas,
então...) se lembram de nós. E como lembram...
Se levarmos em conta, agora visto por outro ângulo, que todo começo de um
novo mês, precisamos estar renovando os estoques de sapatos e vestidos,
lingeries e camisolas, anéis e pulseiras, relógios entre outras novidades
supérfluas...
Trocentos acessórios indispensáveis para uma boa apresentação pública, se
levarmos isto em conta e dermos uma ‘maneirada’, conseguiremos seguir em frente
sem a neurastenia de um colapso fatal.
Neste balaio de gatos tentando devorar o mesmo e indefeso ratinho, se não
estivermos conscientes, ficaremos não em ‘papos de aranhas, mas em palpos das
mesmas’, o que não deixa de ser enfadonhamente degradante e desprezível.
Olhemos, pois os freios. Pé neles, repetindo, os três. Vamos gastar? Vamos.
Sempre?
Sim, com certeza, sempre! Vamos seguir as nossas vidas sem estancarmos no
desvio da ‘retrogralidade’ ou da caducidade excessiva. Entretanto, observando o
recato do decoro, sem deixarmos de lado, a seriedade, a discrição, a prudência
e, sobretudo, a firmeza do comedimento.
Resumindo os gastos com cartões de crédito, mantendo os olhos nas cobras
que nos rodeiam e os outros, nos botes que elas pretendem nos dar. Para nos
livrarmos das faturas tresloucadas, em primeiro plano, a cautela. A moda nos
fascina? Sim, logicamente.
Mas temos acima de tudo que preservarmos um objetivo definido, ou dito de
forma mais clara, nos precavermos, aconteça o que acontecer. Se faz urgente nos
contermos, nos enlaçarmos no pescoço do bom senso contra os excessos, os
abusos, as exorbitâncias e as superficialidades. Sem deixarmos, lado igual, de
sermos piegas e assustadiças ou rotuladas de antigas e quadradas.
Se não dermos atenção, a estes preceitos simples, correremos o risco de
sermos tachadas e criticadas de ‘pobretonas’ ou ‘cafonas’, porém, raciocinem,
amigas, parem e pensem, contem até mil, vamos gastar, usar nossos cartões de
crédito, sem que eles nos façam prisioneiros de sua fúria descomedida, de sua
fome voraz de nos levar para o buraco da perdição e da insensatez.
Nesta hora, caras amigas e leitoras, toda a calma do mundo. Temos, por
obrigação, o direito pleno e assegurado de sermos independentes, livres e donas
de nossos narizes. O nosso trabalho diário exige uma boa aparência, e, para
isto, não podemos esquecer dos desodorantes íntimos dos perfumes... E outros
despautérios e baboseiras sobressalentes.
Em fluxo contrário, nossos chefes nos olharão com olhos fechados. ‘Fulana
é simpática, bem apessoada, tem um corpo magistral, todavia, se veste e se
apresenta como uma mendiga’. Percebam: a nossa fome pela vaidade, a nossa gula
pela ostentação e pela arrogância caminham paralelamente, lado a lado, de braços
dados...
Agarrado a isto, de unhas e dentes, os nossos gastos em demasia, em
destemperança. Lembrem: jamais, em tempo algum, as contas a serem pagas poderão
nos escravizarem, ou nos emparedarem entre a obsessividade de galgarmos degraus
altos demais, numa escada sem fim, sem teto, sem borda e sem seguro garantido.
Olhem a prudência. Tentemos assegurar um auge, um ápice, um cimo
infalível. Em oposto, além de não alcançarmos o pico da vitória, poderemos
levar um tombo colossal e nos rebentarmos, caindo de cabeça, num buraco negro
do qual jamais conseguiremos sair ilesas e sem as contradições impostas pelos
remendos e retoques de uma boa cirurgia.
Título e Texto: Carina Bratt, de Vila Velha, no Espírito Santo, 17-1-2021
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