domingo, 17 de janeiro de 2021

[As danações de Carina] Quando os cartões de crédito nos deixam na rua da amargura

Carina Bratt

Uma coisa que precisamos levar a sério. Aliás, caras amigas e leitoras, muito a sério, caso contrário, correremos o risco de ficarmos loucas. As nossas despesas diárias, notadamente as que fazemos utilizando os famosos e práticos cartões de crédito.

Tomem cuidado. Se policiem. Atenção redobrada, com aqueles cujas bandeiras nos oferecem saldos grandiosos, limites estratosféricos, e que nos apresentam um leque infindável de facilidades e total e irrestrita ausência de obstáculos. Estes são os piores vilões.

Se não colocarmos os pés no freio (de preferência os três), nos veremos envolvidas numa bola de neve difícil de sairmos inteiras e ilesas, e sem as incômodas e estafantes dores de cabeça. Carecemos, logicamente, de um amontoado de coisas.

Entre elas, objetos de uso doméstico são os que mais se perdem e se destacam num rol interminável, como no mesmo espirro, as famosas bugigangas para embelezamentos pessoais, neles incluídos as academias, os salões de beleza, as manicures, as pedicures etc.

O percurso mais fácil e largo para a ‘gastança desenfreada’, sem dúvida, os charmosos shoppings. As suas mil lojas disto e daquilo, estão lá, borbulhantes, chamativas, com as portas abertas e não só elas, as gargantas das vendedoras, escancaradas e o desejo imenso de venderem de tudo, até o que não existe, para atingirem as respectivas metas, e engordarem os ganhos para equilibrarem seus salários.

Estas criaturas, caríssimas, se vocês tiverem tempo de observarem, nos devoram de olhos engordurados, fazem de tudo, para arrancarem de nossas bolsas e carteiras, os ricos trocadinhos e centavos que conseguimos guardar. A nossa feminilidade é luxuriante e extremamente obesa e cara.

A nossa imagem e o nosso apuro, aliadas à nossa apresentação no cotidiano do dia a dia, nos arrancam os cabelos. A sociedade, por sua vez, não fica atrás. Exige muito de nós. Diria que nos massacra, nos espezinha. Se não estivermos atentas, nos deixa peladas, literalmente, sem mencionarmos a auto estima para baixo, a grau zero.

Tenho várias amigas que entraram em depressão exatamente por gastarem mundos e fundos e depois não conseguirem se livrar das faturas dos cartões de crédito. Não devemos esquecer, todo começo de mês, as lojas (as famosas, então...) se lembram de nós. E como lembram...

Se levarmos em conta, agora visto por outro ângulo, que todo começo de um novo mês, precisamos estar renovando os estoques de sapatos e vestidos, lingeries e camisolas, anéis e pulseiras, relógios entre outras novidades supérfluas...

Trocentos acessórios indispensáveis para uma boa apresentação pública, se levarmos isto em conta e dermos uma ‘maneirada’, conseguiremos seguir em frente sem a neurastenia de um colapso fatal.

Neste balaio de gatos tentando devorar o mesmo e indefeso ratinho, se não estivermos conscientes, ficaremos não em ‘papos de aranhas, mas em palpos das mesmas’, o que não deixa de ser enfadonhamente degradante e desprezível. Olhemos, pois os freios. Pé neles, repetindo, os três. Vamos gastar? Vamos. Sempre?

Sim, com certeza, sempre! Vamos seguir as nossas vidas sem estancarmos no desvio da ‘retrogralidade’ ou da caducidade excessiva. Entretanto, observando o recato do decoro, sem deixarmos de lado, a seriedade, a discrição, a prudência e, sobretudo, a firmeza do comedimento.

Resumindo os gastos com cartões de crédito, mantendo os olhos nas cobras que nos rodeiam e os outros, nos botes que elas pretendem nos dar. Para nos livrarmos das faturas tresloucadas, em primeiro plano, a cautela. A moda nos fascina? Sim, logicamente.

Mas temos acima de tudo que preservarmos um objetivo definido, ou dito de forma mais clara, nos precavermos, aconteça o que acontecer. Se faz urgente nos contermos, nos enlaçarmos no pescoço do bom senso contra os excessos, os abusos, as exorbitâncias e as superficialidades. Sem deixarmos, lado igual, de sermos piegas e assustadiças ou rotuladas de antigas e quadradas.

Se não dermos atenção, a estes preceitos simples, correremos o risco de sermos tachadas e criticadas de ‘pobretonas’ ou ‘cafonas’, porém, raciocinem, amigas, parem e pensem, contem até mil, vamos gastar, usar nossos cartões de crédito, sem que eles nos façam prisioneiros de sua fúria descomedida, de sua fome voraz de nos levar para o buraco da perdição e da insensatez.

Nesta hora, caras amigas e leitoras, toda a calma do mundo. Temos, por obrigação, o direito pleno e assegurado de sermos independentes, livres e donas de nossos narizes. O nosso trabalho diário exige uma boa aparência, e, para isto, não podemos esquecer dos desodorantes íntimos dos perfumes... E outros despautérios e baboseiras sobressalentes.

Em fluxo contrário, nossos chefes nos olharão com olhos fechados. ‘Fulana é simpática, bem apessoada, tem um corpo magistral, todavia, se veste e se apresenta como uma mendiga’. Percebam: a nossa fome pela vaidade, a nossa gula pela ostentação e pela arrogância caminham paralelamente, lado a lado, de braços dados...

Agarrado a isto, de unhas e dentes, os nossos gastos em demasia, em destemperança. Lembrem: jamais, em tempo algum, as contas a serem pagas poderão nos escravizarem, ou nos emparedarem entre a obsessividade de galgarmos degraus altos demais, numa escada sem fim, sem teto, sem borda e sem seguro garantido.

Olhem a prudência. Tentemos assegurar um auge, um ápice, um cimo infalível. Em oposto, além de não alcançarmos o pico da vitória, poderemos levar um tombo colossal e nos rebentarmos, caindo de cabeça, num buraco negro do qual jamais conseguiremos sair ilesas e sem as contradições impostas pelos remendos e retoques de uma boa cirurgia.

Título e Texto: Carina Bratt, de Vila Velha, no Espírito Santo, 17-1-2021

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