Henrique Neto
Nem “vírus”, nem “covid”, nem
“saúde”, nem “pandemia”. A ‘Palavra do Ano 2020’, eleita pela maior fatia dos
40 mil internautas que participaram na votação ‘online’ promovida pela Porto
Editora, é uma palavra antiga e integralmente portuguesa, tão portuguesa que
entra na composição da alma nacional: a palavra “Saudade”. Uma bela surpresa.
Desde 2009 que a Porto Editora
organiza a eleição da ‘Palavra do Ano’. Num período em que a saúde do corpo
parece constituir a preocupação maior e mais generalizada, seria expectável que
a escolha recaísse, por exemplo, em “covid” ou “pandemia”. E, de facto, estas
duas palavras também subiram ao pódio, mas em segundo e terceiro lugares,
respectivamente.
A ‘Palavra do Ano 2020’, por
excelência, é afinal aquela que trata da saúde da alma: “Saudade”, a mais
votada de todas por 26,8% dos internautas leitores.
A lista de palavras sujeitas a
votação foi construída com base nas pesquisas efetuadas no Dicionário da Língua
Portuguesa, em www.infopedia.pt, no
trabalho permanente de observação e acompanhamento da realidade da Língua
Portuguesa levado a cabo pela Porto Editora e nas sugestões feitas através do
sítio www.palavradoano.pt, explica o
grupo editorial.
A Saudade acompanha Portugal desde o alvor da nação, como parte constitutiva da nossa natureza como povo, ideia e movimento. É expressão do nosso sentir, modo do nosso amar, tonalidade do nosso olhar, fogo da nossa consciência, versículo do nosso rezar, inspiração do nosso pensar.
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Quadro "Saudade", Almeida Júnior, 1899, Pinacoteca de São Paulo |
Encontramo-la escrita já nos nossos textos mais antigos, soprada de século em século, cerzida sempre em nós como bordado.
Teixeira de Pascaes foi o seu
primeiro grande poeta contemporâneo, Leonardo Coimbra o seu filósofo. E com ele
e depois dele a revista ’A Águia’, a Escola Portuense da Filosofia Portuguesa,
Álvaro Ribeiro e José Marinho, os seus discípulos e os discípulos dos
discípulos que de geração em geração a vêm cantando.
Quem diria? – na sociedade materialista do século XXI, a palavra Saudade renascendo em meio da banalidade e do oblívio Nem tudo está perdido.
Título e Texto: Henrique Neto, o Diabo, nº 2297, 8-1-2021Digitação: JP, 15-1-2021
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Vejo muitas especulações sobre a palavra "SAUDADE".
ResponderExcluirDizem que deriva disto e daquilo e que não há em nenhuma outra língua algo que signifique "saudade".
Genericamente deriva do latim e vem de solitate, “isolamento, solidão”, soidade e suidade, soedade, suydades, até chegar à saudade atual.
Nas outras línguas românicas, soledad do espanhol, solitudine do italiano, solitude do francêsou soidade do galego.
Dizem que não há sinônimos para saudade, isso é mentira.
SAUDADE para nós nada mais é que uma DOR profunda cujo mal está em nossas lembranças.
A DOR sem causa conhecida precisa ser pesquisada.
A dor com causa conhecida precisa ser tratada.
A DOR que temos de nossas lembranças é incurável.
FUI...
P.S. Investigando um pouco mais descobri que na língua romena "saudade" é chamada de "durere"...