sexta-feira, 16 de outubro de 2020

[Língua Portuguesa] O valor de Camões

Aristóteles Drummond 

Percebe-se nos países de Língua Portuguesa uma sofisticada manobra para retirar a importância de Luís de Camões na unidade da raça, do idioma e das afinidades, que garantem certo prestígio e respeito a nossos países nos ‘fóruns’ internacionais. Prestígio conquistado ao longo dos séculos pelas suas elites mais cultas. 

Vindo de completar 440 anos de sua morte, o grande poeta épico da Língua, modelo de dezenas de grandes nomes aos países lusófonos até nossos dias, tem um papel muito maior do que o meramente literário, pelo que induz r representa na história de uma raça que se fez presente com sua mensagem nos quatro cantos do mundo. 

Deve-se ao mundo intelectual português e brasileiro, em especial, a permanência através dos séculos do conhecimento de sua obra e a interpretação correta de seus valores na formação de uma cultura especial no mundo. 

Para ficarmos no quanto é atual, em Os Lusíadas está a alusão à postura antirracista, multirracial do português, na missão de evangelizar e civilizar regiões remotas daqueles tempos. Exaltada quase quatrocentos anos depois por Gilberto Freyre ao se referir ao luso-tropicalismo. E as interpretações dos historiadores de que as “entradas e bandeiras” no Brasil, que foi o avanço dos bandeirantes na direção do interior do Brasil, Minas e Goiás inicialmente, em comparação à epopeia de Vasco da Gama em “mares nunca navegados”. 

Nestes quatro séculos, Camões foi lembrado e exaltado pelos maiores nomes das letras de Língua portuguesa. E do mundo. 

No século passado, não se pode ignorar a importância dada pelo Estado Novo e por Salazar a Camões, ao promover, inclusive, uma versão para estudantes de Os Lusíadas e as comemorações de seu dia. E mais: a mensagem patriótica de Camões se enquadrava no ideário salazarista de alimentar a autoestima portuguesa enfraquecida pelos anos confusos da República, renovados nas loucuras pós-25 de Abril. 

Quando da Exposição do Mundo Português, a escolha do local, em Belém, poderia estar também associada ao desejo de dar visibilidade internacional aos Jerónimos e à presença ali dos túmulos de Vasco da Gama e Luís de Camões, o que faz todo o sentido, conhecendo-se a subtileza da cabeça do primeiro-ministro. Curioso é que não se fala que a Exposição do Duplo Centenário, em 1940, teve, de certa maneira, repercussão relativamente maior do que a Expo 94. 

Mesmo assim, a esquerda, que não perde tempo em pegar boleia em tudo que é mediático, dominou de certa maneira o Prémio Camões, instituído à luz da criação da CPLP, em 1988. Este, ao premiar intelectuais comunistas, independentemente de seu valor, afronta o governo brasileiro, como este ano, quando deu o prémio ao compositor e escritor Francisco Buarque de Hollanda, que aproveitou o ensejo para atacar duramente o governo e o presidente do Brasil. 

Camões, que esteve em Moçambique e na Índia portuguesa, lutou no Marrocos, é, efetivamente, a referência de que sobrevive, à sombra de sua obra e memória, uma raça, que os que se dedicam ao negativismo da importância da mensagem camoniana nos novos territórios conquistados não conseguem vingar. A obra nos conduz a perceber a facilidade do português em se adaptar e integrar, sem perder a identidade nacional da Língua, da religião e dos valores éticos. 

O intelectual brasileiro Joaquim Nabuco, em palestra sobre Camões, em 1880, no Rio, disse uma frase forte, mas verdadeira: “O teu túmulo será, como o de Maomé, o ímã de uma raça”. 

Camões é dos povos de Língua portuguesa! 

Título e Texto: Aristóteles Drummond, Jornalista brasileiro, Comendador da Ordem do Mérito da República Portuguesa, O DIABO, 9-10-2020 
Digitação: JP, 16-10-2020 

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