Theodore Dalrymple
Uma das características da
moderna vida política é a sua profissionalização, de modo que ela atrai,
principalmente, um grupo de pessoas com tamanha avidez por poder e autopromoção
que não se importa de ter de passar pelas humilhações provocadas pela exposição
pública, às quais essa pessoa ficará inevitavelmente sujeita.1
Esse tipo de pessoa se parece
cada vez mais com Lloyd George, o primeiro-ministro britânico. Cera vez foi
perguntado a John Maynard Keynes como ele poderia descrever Lloyd George
sozinho num cômodo. “Quando Lloyd George está sozinho num cômodo”, respondeu
Keynes, “não há ninguém lá.”
Parece que cresce a quantidade
de pessoas com esse perfil, as quais derivam o seu senso de identidade
exclusivamente de um público ou uma plateia, preferivelmente de milhões de
pessoas.
Ninguém morde a mão que o
alimenta, tampouco aquela que poderá alimentá-lo daqui a algum tempo, num
futuro breve, e especialmente quando existem mãos tão generosas como as da
União Europeia. É possível identificar um sujeito que come na mão da EU a um
quilômetro e meio de distância.
Por longo tempo esse sujeito esse sujeito vê o mundo pelos vidros de limusines oficiais, almoça e janta fartamente durante muitos anos (nunca com o próprio dinheiro, é claro) e desenvolve uma langue de bois toda especial, na qual fraseados gramaticalmente solenes são cuidadosamente pontilhados com palavras de conotação positiva, tornando difícil qualquer argumentação contrária.
Este é um tipo de sujeito que
desenvolveu aquele semblante cínico, típico dos antigos membros do Politburo
soviético. É lamentável, mas parece que há um grande número de voluntários – a maioria
medíocres, é claro – para esse tipo de vida. Para essas pessoas, essa seria a
forma eminentemente preferível de ganhar a vida.
Como consequência, mesmo
aqueles que começam com uma predileção
contrária ao projeto europeu logo descobrem, depois de um ou dois reembolsos, que
afinal de contas a coisa não é tão ruim assim. E qual político carreirista
poderia se opor completamente a uma organização de políticos e burocratas cujos
orçamentos nunca foram aprovados pelos auditores?
Esperar que os políticos
abolissem uma organização tão esplêndida em benevolências para a sua classe
seria o mesmo que ver uma federação de açougueiros votar pela implantação do
vegetarianismo compulsório.
1 Isso explica
o motivo pelo qual se percebe na Grã-Bretanha uma crescente diminuição de
políticos com sentimento de honra. Não há mais algo como renunciar ao cargo em
nome do bem público e cair em desgraça depois de ter sido pego com a boca na
botija, ou coisa do gênero. A renúncia dura somente até diminuir a sensação e o
furor causados pelas revelações dos atos ilícitos; depois dos quais, o público,
mais uma vez distraído por milhares de outras sensações e escândalos, simplesmente
esquecerá o que se passou. Então, o político voltará sorrateiramente ao cargo.
Com toda a cara de pau e cabeça erguida, ele não se sentirá em desgraça, apenas
incomodado. Na melhor das situações, ele agirá como se estivesse em desgraça,
mas apenas durante o mais breve período possível, e apenas para causar
impressões.
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