Todas as nações sob ditaduras comunistas acharam, em algum momento do processo, que poderiam evitar o pior. Até ser tarde demais
Ilustração: Mossolainen Nikolai/Shutterstock
Rodrigo Constantino
O Brasil é como dejeto na
água: boia, mas não afunda. Essa é a metáfora muito utilizada por algumas
pessoas que lamentam as oportunidades perdidas em nosso país, mas acham que o
pior também será sempre evitado. Não deslanchamos, mas tampouco naufragamos de
vez. Eu mesmo já tive essa percepção quando o PT foi governo no passado, e
brincava nas palestras que tinha de dizer baixinho a minha conclusão: o MDB
salvaria o Brasil de Dilma!
Ocorre que não há nada escrito
em pedra que o Brasil jamais será comunista. Para evitar essa praga é preciso
ter instituições mais sólidas, uma cultura da liberdade mais disseminada, uma
mídia atenta, grupos de interesse bastante organizados e coesos, Forças Armadas
independentes e patriotas etc. Sim, nossa economia é complexa, tem o
agronegócio que é uma potência, as indústrias, os bancos, o comércio e o
varejo, muitos empresários parrudos. Mas nós vimos como foi fácil mandar a
polícia na porta de alguns deles pelo “crime” de apoiar Bolsonaro. E quanto às
Forças Armadas, melhor nem comentar…
O mais votado parlamentar do país sendo
impedido de parlar na praça pública da era moderna sem ter cometido qualquer
crime
O fato é que o comunismo segue avançando, e os comunistas corruptos estão de volta ao poder, com mais sede de poder ainda. E viram como foi fácil dobrar seus adversários, calar os “dissidentes” e inventar narrativas fajutas que a velha imprensa ajudou a divulgar com louvor. Em nome da “democracia”, as liberdades básicas foram destruídas num piscar de olhos. Muitos acharam que ficaria restrito aos mais “radicais” dos bolsonaristas, mas já está claro que o buraco é bem mais embaixo.
Nikolas Ferreira, o deputado
mais votado do país, tem sido alvo de perseguição e censura, como tantos
outros. O Telegram resolveu questionar uma decisão do ministro Alexandre de
Moraes de suspender sua conta, alegando que falta embasamento na denúncia.
Agora vamos pensar um pouco sobre isso: o mais votado parlamentar do país sendo
impedido de parlar na praça pública da era moderna sem ter cometido qualquer
crime! E a mídia em silêncio ou aplaudindo!
A crença de que essa turma
será capaz de frear o ímpeto autoritário petista caso Lula abuse demais do
poder e insista em sua agenda comunista do Foro de SP parece um tanto ingênua.
Não resta dúvida de que o “sistema” tem seus ícones neste governo, que Alckmin
não é vice-presidente por acaso, que Alexandre de Moraes nunca foi petista, que
Arthur Lira e Rodrigo Pacheco tampouco estão casados com a pauta vermelha. Mas
depositar toda a esperança nessa gente é brincar com fogo e menosprezar a
inteligência de figuras como Dirceu.
Meu intuito não é ser
catastrofista ou alarmista, e cantar o fim do Brasil de imediato. Considero
possível o “sistema” podre ser mais forte do que Lula, sim, e que numa eventual
batalha entre titãs, o petista e o Foro de SP sejam os derrotados. Só estou
dizendo que a possibilidade de resultado distinto é real, existe e não pode
jamais ser ignorada. Todas as nações sob ditaduras comunistas acharam, em algum
momento do processo, que poderiam evitar o pior. Até ser tarde demais.
O que mais me assusta é o
esforço de tanta gente em normalizar Lula e seu governo. O presidente diz na
cara dura que apoia os regimes de Cuba, Venezuela e Nicarágua, mas os
“democratas” se mostram decepcionados ou preocupados, com a esperança tola de
que Lula resolva ser mais moderado e passe a condenar os regimes que apoiou a
vida inteira. Não há qualquer base para essa crença ingênua. Lula está sendo
Lula, e não é fingindo que ele é outra coisa que o risco comunista será
afastado.
Quando vejo investidores
gringos elogiando as falas de Fernando Haddad em Davos, fica mais claro ainda
como há uma turma disposta a mergulhar na alienação em prol do conforto ou de
lucros momentâneos. Agora Haddad virou um fiscalista responsável, por acaso?! É
uma piada de mau gosto, de quem escolhe deliberadamente ignorar a essência
petista.
Lenin teria dito que compraria
a corda da burguesia que seria usada para enforcá-la. Às vezes acho que muitos
capitalistas brasileiros agem dessa forma suicida. Eles aceitam participar
desse teatro farsesco de que o Brasil continua vivendo uma normalidade
institucional, para não se dar conta da real ameaça representada pelo PT e o
Foro de SP.
Se os minúsculos Uruguai e
Paraguai se levantam contra o absurdo, condenando o silêncio das esquerdas
diante de abusos ditatoriais no continente, a gigante China aplaude a
“integração regional” e incentiva a luta pela “paz, desenvolvimento e
democracia” dos povos latino-americanos. Teremos a “paz” que ceifou a vida de
milhares em protestos na Praça Celestial, o “desenvolvimento” que produziu só
miséria na Venezuela e a “democracia” de Ortega na Nicarágua, que prendeu todos
os opositores políticos.
É assustador ver a marcha
vermelha da insensatez no continente. E mais assustador ainda é ver a grande
quantidade de brasileiros disposta a fingir que, por algum motivo qualquer, não
há a menor possibilidade de o Brasil seguir no mesmo destino rumo ao abismo
comunista. Quem foi que disse que o Brasil não afunda?
Título e Texto: Rodrigo Constantino, Revista Oeste, nº 149, 27-1-2023
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