As cenas de depredação em Brasília não justificam o que o estamento quer justificar: o maior autoritarismo da história brasileira em nome da ‘democracia’
Flavio Morgenstern
O que aconteceu em Brasília no dia 8 de janeiro tem todos os ingredientes de uma “revolta de massa”: um coletivo confuso e revoltado, sem pautas claras. Sempre causam destruição. O Nobel de Literatura Elias Canetti já explicara, em Massa e Poder, que tais massas marcham para prédios públicos que sejam símbolos do poder. Já Ortega y Gasset, em A Rebelião das Massas, explica que “as massas populares costumam procurar pão, e o meio que empregam costuma ser o de destruir as padarias”.
Isto posto, nada pode ser pior para explicar a balbúrdia e para supostamente “evitá-la” do que a narrativa reducionista do estamento (poder público, mídia e classe falante): a de que é preciso aumentar o já indesculpável autoritarismo brasileiro para combater supostos “golpistas”, “terroristas” e os chamados atos “antidemocráticos”. Tal verborreia paranoica e totalitária só causou mal ao país — porque ela é mentirosa e ditatorial.
Com a repetição goebbelsiana de termos sem passá-los pela reflexão, tem-se a impressão de que o Brasil está à beira do Quarto Reich. Enquanto a mídia descreve o cenário de “terrorismo”, mostra imagens em sua quase totalidade de gente simples, com rostos pobres e cansados — ao invés de vídeos de causar pesadelos por semanas como os do Estado Islâmico.
Enquanto a mídia só repete as
mesmas imagens de depredações, esconde os muitos vídeos mostrando que a maioria
estava pedindo para ninguém quebrar nada a uma minoria que, desesperada como
sói, partiu para a depredação momentânea. Curiosamente, em junho de 2013, black
blocs eram apenas “uma minoria de vândalos”, em expressão que ficou
marcada pela repetição automática. Por que agora termos como terroristas e
golpistas são usados em idêntica repetição?
A minoria de 2023, tratada com termos reservados apenas a facínoras, cometeu o crime óbvio de depredação. O que não justifica os crimes igualmente elencados na legislação que o outro lado comete reiteradamente — e não apenas num domingo de fuzarca.
Aliás, sejamos francos. O que
você mais teme: um conjunto momentâneo de pessoas, em sua
maioria simples, que resolve imitar a esquerda e arrebentar um prédio público
uma vez na vida por desespero, ou burocratas com cargo vitalício, aboletados na
máquina pública e agindo acima da Constituição, eliminando
todas as liberdades do povo em ritmo acelerado todo santo dia?
De um lado, temos uma espécie
de ala radical da torcida da Portuguesa — ou do Aparecidense, incapaz de lotar
um terço de um estádio pequeno. De outro, numa lista não exaustiva, censura,
quebras de sigilo em massa, buscas e apreensões, prisões arbitrárias,
inquéritos ilegais e antidemocráticos sem fim, mais censura — inclusive prévia
—, bloqueio de bens, concentração de poder, proibição de questionamento, leis
criadas ignorando legisladores eleitos, proibição de críticas, dúvidas e
questionamentos, demonização oficial de discordantes, culminando com campos de
concentração — enfim, a ditadura. Qual dos dois lados é mais perigoso?
É difícil para alguém com um
pingo de senso do ridículo acreditar que o maior perigo para o Brasil foi uma
turma desesperada querendo auditoria eleitoral? Nenhum grito por uma ditadura,
nenhum desejo de sangue, nenhum incêndio — como percebido por Alex Baur, da
revista suíça Die Weltwoche —, nenhum
perigo para a vida normal do país, nada de ganas por destruir um dos Poderes da
República e concentrá-lo entre os seus cupinchas. Aliás, estes dois últimos
elementos são cirurgicamente identificados no outro lado. E não em um domingo,
mas em todas as horas de todos os dias, feriados inclusos.
A diferença de meios é
patente: um lado tinha acampamentos que viraram uma invasão desesperada depois
da eferverscência. A ação dura poucas horas. De outro, burocratas com todo o
sistema a seu favor: polícia, Ministério Público, políticos, mídia e — oh,
ironia — Forças Armadas. Fora o apoio internacional. Do lado dos “vândalos”,
raros com alguma passagem pela polícia, ou que assuste quem cruze com eles na
rua. Do lado dos engalanados burocratas de terno, o fim da liberdade.
Os perigosos “terroristas
bolsonaristas”
O componente sádico é forçar a
pecha de “bolsonarista” indiscriminadamente — o mesmo termo é utilizado para
uma massa com vândalos no meio, e para qualquer um que não tenha passado os
últimos anos inventando desculpas para os descalabros do PT e do estamento.
Assim, “bolsonarista” é quem invade prédios e destrói pinturas e quebra
gabinetes, e “bolsonarista” é quem não vota em corrupto. É com estas categorias
que se “pensa” hoje.
Nunca que a mídia ou os
operadores do Direito utilizariam um termo de maneira tão elástica se afetasse
alguém de esquerda — como citar traficantes sempre marcando que são “lulistas”
roxos já nas manchetes.
Pelo contrário: o candidato
que sobe no Complexo do Alemão com boné “CPX” sem segurança ainda tem apoio da
mídia, que alega ser “fake news” que a sigla seja a de uma facção
criminosa. Mas a mesma mídia noticia fingindo terror que Lula teme por sua
segurança — como se cada tiozinho corado de sol fosse um general ariano
operador de uma câmara de gás. Já quando se sabe que a segurança da Praça dos
Três Poderes foi misteriosamente relaxada pouco antes do fatídico 8 de janeiro,
a notícia merece no máximo um pé de página.
É muito fácil culpar
caminhoneiros com quarta série completa, que passaram meses comendo arroz com
ovo na porta de quartéis por desespero e como única esperança de se sentirem
ouvidos e representados. E na inculpação coletiva — laboração geneticamente
totalitária — vão se criminalizando idosos e crianças, filhos de gente pobre e
aposentados que usaram seu tempo livre para algum ato de patriotismo — ainda
que sem entender os próprios meios disponíveis —, enfim, famílias inteiras
desesperançadas com sua própria situação.
O menoscabo elitista de um
certo senhor que debochou de picharem “Perdeu, mané” nas dependências do STF
(por terem escrito “perdeu” com um L), não tem nada de elevado: é apenas nojo
pelo povo simples — isto logo após esta terrível chacota com os anseios de
pessoas comuns que, expressando-se bem ou não, gostariam de uma mínima
participação no processo de auditoria democrática.
Ora, quem tem obrigação de ter
uma linguagem que não seja de “mané” são as altas autoridades. Estas também têm
obrigação de seguir a lei, e não inventar “políticas”, conversar com imitadores
de foca que fazem propaganda partidária aberta e postar músicas como “Já vai
tarde” na semana eleitoral. É difícil crer que um juiz norte-americano, europeu
ou de qualquer país com instituições sérias não enfrentaria a própria lei — e
as grades — por partidarismo.
Na verdade, todos sabem do
óbvio: a esquerda e o estamento passaram o domingo soltando fogos, por
finalmente terem uma narrativa modelo “Capitólio brasileiro” para vender. Devem
ter brindado com champanhe de R$ 50 mil a garrafa e lagosta.
Agora, têm a desculpa perfeita, pela qual tanto ansiavam, para ser
os ditadores que sempre foram — com beneplácito da mídia, que deveria
vigiá-los.
Tratar aquela gente simples,
incluindo idosos, como “terroristas, antidemocráticos golpistas e bolsonaristas
fascistas”, e depois chamar 49,1% do país pelo mesmo termo, não é apenas um erro:
é uma senha nada disfarçada para o totalitarismo.
Título e Texto: Flavio Morgenstern, Revista Oeste, 16-1-2023, 19h11
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Meu Deus, destruíram brazzzzzzilia? Coitada!!! Ela está bem? Foi socorrida? Está em algum hospital do SUS? Está sendo bem ratada, digo tratada? Quando posso ir fazer uma visita?
ResponderExcluirAparecido Raimundo de Souza
de Santo André São Paulo
FOTO LEGENDADA ACIMA.
ResponderExcluirPOLICIAL À ESQUERDA, COM O CACETETE PRONTO PARA ENFIAR NO RABO:
- Pessoal, vamos partir pra cima e dar uma surra no ônibus. Já viram um buzu apanhando?
POLICIAL AO LADO DO PRIMEIRO SOLDADO À ESQUERDA:
- Eu, pelo menos, até hoje, não... mas e os passageiros?
- Que se fodam...
Aparecido Raimundo de Souza
de Santo André, São Paulo