Terroristas libertados em 1979 sonham com a prisão perpétua dos manifestantes antipetistas
Augusto
Nunes
Passados 43 anos, os
anistiados de 1979 resolveram deixar claro que não esqueceram nada e nada
aprenderam: são essencialmente os mesmos. O tempo obrigou-os a aposentar os
blusões e calças jeans do uniforme de Guevara mirim, muitos até se renderam ao
terno e gravata. Mas o cérebro avariado segue zanzando por sierras
maestras, matas congolesas e selvas bolivianas. Só cabeças com defeito de
fabricação conseguem armazenar tanto ressentimento por tantos anos. Só
rancorosos vocacionais poderiam conceber a palavra de ordem ANISTIA NÃO!,
parida minutos depois da prisão de centenas de manifestantes antipetistas que
estavam em Brasília no domingo em que delinquentes ainda não identificados
depredaram o Palácio do Planalto, o prédio do Congresso e a sede do Judiciário.
Para
os devotos da intolerância, todo brasileiro que não viva fazendo o L é um
bolsonarista, todo bolsonarista é golpista e todo golpista acorda, passa o dia
e tenta dormir planejando atos antidemocráticos
ANISTIA NÃO!, berram em coro
tanto os que nem haviam nascido em 1979 quanto setentões que hoje recordam sem
sustos, em conversas com velhos comparsas, os assaltos, homicídios e atentados
à bomba em que se meteram. Para os guerrilheiros agora entrincheirados em
botequins, não merece perdão nenhum dos integrantes da multidão trancafiada na
cadeia desde 9 de janeiro — e não merecem por terem cometido atos
antidemocráticos. “Não há crime nem pena sem lei anterior que o defina”, recita
já na primeira semana de aula o pior aluno da mais desqualificada faculdade de
Direito. A expressão “ato antidemocrático” nunca deu as caras na floresta de
artigos, parágrafos e incisos que se espalha pelos códigos legais e pela
Constituição. Desde 2019, quando se consumou o parto súbito do inquérito
das fake news, o STF vem ensinando que certos delitos são tão
hediondos que nem precisam existir oficialmente para que seja duramente
castigado quem se atrever a praticá-los.
Da mesma forma que o
coronavírus, o ato antidemocrático se desdobra em variantes que exigem mais
doses de imunizantes. Num primeiro momento, o inimigo concentrou-se no ataque a
alicerces do Estado de Direito, valendo-se de insultos a ministros do STF e de
incontáveis fake news concebidas para desmoralizar urnas
eletrônicas. A segunda onda só foi contida com a revogação da imunidade
parlamentar e amputações da liberdade de expressão. O pico da pandemia de
desinformação foi registrado no clímax da campanha presidencial. Para sufocar o
golpe tramado por bolsonaristas, o TSE conjugou com extraordinária fluência os
verbos censurar, suspender, remover, derrubar, prender e arrebentar. A disputa
pela Presidência terminou. O Tribunal Superior Eleitoral segue usando máscaras.
As liberdades democráticas não foram liberadas do uso de respiradores.
Se depender da seita que tem em Lula seu único deus, logo serão devolvidos à UTI. Para os devotos da intolerância, todo brasileiro que não viva fazendo o L é um bolsonarista, todo bolsonarista é golpista e todo golpista acorda, passa o dia e tenta dormir planejando atos antidemocráticos. É pouco negar apenas a anistia a criminosos desse calibre. Antes precisam ser negados o direito de ampla defesa, o devido processo legal, o acesso a qualquer palavrório que permita ao prisioneiro ao menos saber o que fez para ser encarcerado. Terroristas não devem achar que prisão seja colônia de férias, advertiu o Supremo Carcereiro ao saber da comparação inevitável: as imagens do ajuntamento de presos sem julgamento evocavam campos de concentração. Pero Vaz de Caminha estava certo: aqui, em se plantando, tudo dá.
Cinelândia, Rio, foto: Fernando Frazão/Agência Brasil |
Dá até o que se colheu nas
urnas de 2002: um presidente que nunca leu um livro é promovido a doutor honoris
causa por eruditos que soletram mesóclises no banheiro, um falastrão
que não aprendeu a ler por preguiça vive assinando prefácios que outros
escrevem; um presunçoso sem cura retribui com grosserias a sabujice da plateia
que ri da piada antes que o reizinho nu acabe de contá-la. Não é mesmo para
principiantes descobrir o que leva um país a reprisar o faroeste que termina
com o triunfo do bandido. Desde a primeira festa de posse em Brasília, naquele
longínquo janeiro de 2003, o PT não perdeu uma única chance de mostrar que o
que poderia ter sido um partido acabou reduzido a um bando que se divide em
duas categorias: os incapazes e os capazes de tudo. Nada disso impediu a volta
ao comando de Lula e seus parceiros.
Otimistas sem remédio podem
argumentar que os últimos 20 anos conferiram o status de
Verdade Irrevogável ao que só parecia uma mentira piedosa: o Brasil resiste a
tudo. Sobreviver a oito anos de Lula e cinco de Dilma, admita-se, não é façanha
para qualquer um. Mas o que os persistentes patifes fizeram ou deixaram de
fazer neste primeiro mês de governo adverte: o candidato age como se a aliança
que o apoiou tivesse sido dissolvida no fim da festa de posse. O centralizador
patológico talvez pretenda, em seu derradeiro mandato, ser mais Lula do que
nunca. E está cruzando o verão rodeado por discípulos que adivinham o que o
Mestre quer e o que rejeita. Censura, sim, por exemplo. Anistia, não — a menos
que o anistiado esteja na gaiola por crimes praticados a serviço da seita.
Título e Texto: Augusto Nunes, Revista Oeste, nº 149, 27-1-2023
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