Cristina Miranda
Não entendo como ao longo dos séculos ainda não se abandonou a terminologia esquerda e direita, com origem na Revolução Francesa. Pior do que isso foi atribuir uma carga negativa à Direita, de tal modo que ninguém se quer identificar com ela, quando deveria ser precisamente o oposto. É à Esquerda que devemos as ligações aos piores ditadores de sempre, chacinas em massa, privação absoluta de liberdades, fome, miséria e injustiças.
A História não
mente. Agora mesmo a Venezuela
é bom exemplo disso. Mas, curiosamente, nas escolas, ainda hoje passam
a ideia que ser de esquerda é ser pelos desfavorecidos das classes
trabalhadoras. Ser de direita é ser pelos ricos e opressores. Nada mais
falso.
Com efeito, foi com a Revolução
Francesa em 1789-1799 que a terminologia surgiu. Quando os jacobinos
(radicais alinhados com a baixa burguesia e trabalhadores) e girondinos
(moderados com tendência à conciliação e com boa articulação com a alta
burguesia e nobreza) se reuniram no salão da Assembleia Constituinte para
redefinir os destinos da França, os primeiros, em busca de representatividade e
legitimidade política, sentaram à esquerda; os segundos, à direita, dando lugar
a novos modelos políticos, sociais e culturais que viriam a espalhar-se pela
Europa.
A Revolução Francesa era
expressamente progressista influenciada pelo Iluminismo francês. E os
girondinos, mesmo ligados à tradição, estavam inseridos nesta perspectiva. Dito
de outra forma, todos, quer uns quer outros, lutavam à época contra a monarquia absolutista,
divergindo apenas na forma de chegar à sociedade ideal.
Curiosamente, foram os
radicais jacobinos que protagonizaram o Período
do Terror, onde defendiam o terrorismo de Estado, liderado por
Robespierre e que supostamente pretendia fazer uma perseguição aos girondinos,
mas que acabou por ser um extermínio de todos os opositores considerados
inimigos da revolução, inclusive alguns dos próprios jacobinos que haviam
sempre apoiado a mesma. Isto não vos lembra nada?
Nasceu a partir daqui o comunismo, socialismo, fascismo, liberalismo e por aí fora. Na sua base, todos querem uma sociedade mais justa com direitos iguais, sem pobreza, onde todos têm igualdade nas oportunidades. Porém, é a forma de lá chegar que os distingue profundamente. Os comunistas e fascistas acreditam que é no fim das classes sociais com um Estado forte totalitário, que concentra em sim toda a atividade econômica, distribuindo depois a riqueza consoante as necessidades de cada um, que está a sociedade perfeita e justa.
Os sociais-democratas e os
liberais entendem que, pelo contrário, o Estado deve ser reduzido, deixando
livre a economia para fluir e gerar riqueza, que depois fortalece o Estado
Social de modo a que este assegure direitos fundamentais aos mais carenciados.
Ora, a História já
comprovou as duas teorias. Os primeiros deram origem a ditaduras, algumas sanguinárias,
sobre uma sociedade de pobreza extrema, manietada, oprimida, sem direitos e
estão em vias de extinção no Globo.
Os segundos, a sociedades que
prosperam e crescem a olhos vistos, carecendo apenas de uma maior regulação e
controlo, projetando-as a níveis de desenvolvimento jamais registradas antes do
século XIX. Dá que pensar. Afinal qual é o modelo amigo dos pobres?
Acredito que é por mera
ignorância nas escolas que leva pessoas a pensar que são de “esquerda” sem na
realidade o serem. Porque quem defende o fim das injustiças sociais, da
erradicação da pobreza, tem forçosamente de ser apoiante de uma corrente ideológica
social-democrata ou liberal. Nunca outra.
Porque é precisamente ao
estimular fortemente a economia, dando liberdade e espaço às pessoas para
prosperarem e criarem postos de trabalho, que uma sociedade cresce para a erradicação
da pobreza e nunca o contrário. Isto, claro, enquanto o Estado Social se dedica
apenas a promover o bem-estar dos cidadãos.
As correntes comunistas, pelo
contrário, são desenvolvidas por burgueses e ensinam um grupo a viver à sombra
do Estado, prometendo prosperidade porque sabem que não podem assumir o poder
sozinhos. Precisam de criar uma clientela à volta deles no Estado, bem “alimentada”
com promessas de bons salários e muitos direitos que lhes assegure o voto. E depois,
em nome da igualdade, condicionam as liberdades de todo um povo para governar sem
“opositores”.
Por isso não há cá direita nem
esquerda. Há apenas pessoas que acham que o Estado tudo lhes deve garantir sem
terem de se esforçar muito, e outros que acreditam que é no trabalho e
liberdade individual que se conquistam as coisas.
Sem demagogias e filosofias
baratas. Trata-se apenas, numa linguagem simples, de lutas entre as cigarras e
as formigas.
Só isto.
Pela Esquerda, se vai para a direita, e, pela direita, não se vai lugar nenhum...
ResponderExcluirAparecido Raimundo de Souza
de Santo Eduardo, RJ