Foto: Jarbas Oliveira/EFE |
Alexandre Garcia
Essas pouco mais de três
semanas do novo governo estão cheias de emoções. Para nós, jornalistas, para os
de governo e para os da oposição, para investidores, empregados e patrões.
Tempos extremamente difíceis para cartomantes, jogadores de búzios, detentores
de bolas de cristal e afins.
Se “no Brasil, até o passado é
imprevisível”, parece que estamos nas mãos do acaso, que vai armando a cada dia
um quebra-cabeça em que seguimos animados pelo consolo de que “a esperança é a
última que morre”. Tudo isso ainda sem o ingrediente mais barulhento da
política, que se exerce principalmente dentro do Legislativo, que reabre quando
janeiro terminar.
É
chavão, mas o Brasil não é um país para amadores; o problema é que faltam
profissionais.
Na Argentina, repetiu-se o susto da moeda conjunta, tentando ligar o peso de quase 100% de inflação com o real de menos de 6%; e o BNDES vai ser de novo internacional – BIDES, talvez; em Davos, foi o medo de termos 120 milhões de pedintes famintos e a sugestão de não se comprar nem um palito de fósforo dos empresários direitistas.
Em Brasília, a surpresa de ter
ao lado do presidente um comandante do Exército de inteira confiança numa
sexta-feira e no sábado já tê-lo destituído por falta de confiança. E ainda
temos a vergonha de Yanomamis vítimas principalmente de desnutrição – 20 mil
pessoas que ocupam num território igual ao de Pernambuco, habitado por 9
milhões. E quem aplica suas economias no mercado, ganha um susto adicional ao
saber que a Americanas deu uma pedalada de 20 bilhões. É chavão, mas não é um
país para amadores; o problema é que faltam profissionais.
Isso sem falar nas
consequências da catarse do dia 8, em que brasileiros destruíram seu próprio
patrimônio, incluindo preciosidades históricas, artísticas e culturais. Agora a
Justiça não quer saber se a pessoa vivia um sonho impossível com fuga da
realidade, pois muitos ainda não entenderam o que está acontecendo. Nada de mal
em haver ideias opostas; o problema é a radicalização, como se o oposto fosse
sempre o mal. É o Deus e o diabo de religião transposto para a política. Não há
debate racional possível.
O país está dividido e não é
de agora. Quem estava contra o governo nos últimos quatro anos agora é governo;
é vidraça. Quem era vidraça, agora é pedra. Só precisa manter a metáfora como
uma imagem, e não sair apedrejando vidros do Supremo ou do Palácio do Planalto
literalmente. Embora seja acaciano, oposição e situação são essenciais para o
embate democrático. Nos últimos quatro anos os dois lados se queixaram. A
tentação agora é dar o troco. Não nos deixeis cair em tentação, porque a carga
de energia potencial está a ponto de transbordar.
Título e Texto: Alexandre
Garcia, Gazeta do Povo, 24-1-2023, 11h
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