Governo e Supremo disparam um ataque sem
precedentes ao conjunto de leis em vigor no Brasil, aos direitos civis do
cidadão e às liberdades públicas
J. R.
Guzzo
O Brasil não teve uma mudança
de governo no dia 1º de janeiro de 2023 — está tendo, pelo que mostra a
observação dos fatos, uma mudança de regime. Em apenas uma semana, a nova
gestão do presidente Lula tinha 1.500 presos num ginásio de esportes em
Brasília — nunca houve isso em nenhuma ditadura brasileira do passado, e com
cenas que lembram o Estádio Nacional de Santiago do Chile no golpe do general
Pinochet. Foi decretada intervenção federal em Brasília.
O governador, eleito três
meses atrás já no primeiro turno, foi deposto do cargo por três meses.
Já existe, antes mesmo do novo
Congresso entrar em funcionamento, uma CPI pronta para fazer acusações
criminais contra adversários do governo.
Foi convocada a Brasília a
Força Nacional de Segurança, um grupo extraído das polícias militares para
atuar em locais onde não há presença policial regular — convocada para
Brasília, uma das cidades mais policiadas do país.
Há um pedido de extradição,
sem base legal, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, que teve de internar-se
no hospital dos Estados Unidos para cuidar de efeitos da facada que quase o
matou em 2018.
Apareceram até tanques de guerra
nas ruas da capital, depois que tinham acabado a invasão e a depredação do
Congresso, do Supremo e do Palácio do Planalto no domingo dia 8 de janeiro.
A eleição de Lula, ao que
parece, não foi suficiente; vê-se agora que foi um passo, entre outros, para a
formação de um Brasil sem oposição real.
Está em execução neste momento
um projeto que pretende manter o país sob o controle de uma coligação entre o
STF e o Executivo, através do Ministério da Justiça e do restante do aparelho
de repressão do Estado.
A situação de ilegalidade que tem estado em vigor nos últimos anos por ação do Poder Judiciário, e que levou Lula de volta à presidência da República depois de suas condenações por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, está sendo confirmada — em vez de um retorno à normalidade após as eleições, que terminaram exatamente com o resultado que queriam, o governo e o Supremo disparam agora um ataque sem precedentes ao conjunto de leis em vigor no Brasil, aos direitos civis do cidadão e às liberdades públicas. E a “pacificação” do país, que Lula pregou durante toda a sua campanha eleitoral? Não existe, simplesmente.
O que existe é o contrário da
paz: prisões em massa, ameaça de processar penalmente milhares de pessoas,
censura nas redes sociais e mais todo um arsenal repressivo de multas, bloqueio
de contas bancárias e intimações para depor na Polícia Federal.
A
eleição de Lula, ao que parece, não foi suficiente; vê-se agora que foi um
passo, entre outros, para a formação de um Brasil sem oposição real
A Lei Maior do Brasil, na
prática, não é mais a Constituição Federal de 1988 — é o inquérito perpétuo,
sem limites e ilegal que o ministro Alexandre Moraes conduz há mais de três
anos para punir o que ele, a esquerda e a mídia chamam de “atos
antidemocráticos” e “desinformação”, crimes que não existem na legislação
brasileira — não, certamente, da forma como são apresentados, e não com a
finalidade de fazer perseguição política. Este inquérito, em violação a toda legislação
brasileira, não tem data para ser encerrado. É conduzido em sigilo. Não está
livremente aberto aos advogados dos indiciados. Toma decisões sem o
indispensável processo que as leis exigem. Acusa, investiga, condena e aplica
punições — tudo ao mesmo tempo, e segundo a vontade de uma pessoa só, o
ministro Moraes. Não está sujeito a nenhum recurso, ou a qualquer tipo de
apreciação superior. Não toma conhecimento da existência do Ministério Público,
único órgão do Estado brasileiro autorizado por lei a acusar alguém neste país.
É o Ato 5 do regime de exceção que está sendo imposto ao país neste momento.
Como um presidente que
prometia há pouco um “Brasil Feliz”, a “volta” da “democracia” e o “fim da
ditadura de direita” pode acabar a sua primeira semana de governo com 1.500
pessoas presas numa espécie de campo de concentração em Brasília? A face
verdadeira da “nova ordem” é essa que está se vendo aí. Sua prioridade não é
começar uma administração diferente da anterior, executar um plano de governo,
ou cumprir compromissos de campanha — é eliminar o outro lado, e trocar o
Estado de Direito pela força policial em que se transformou o STF no Brasil de
hoje. O Sistema Lula, com o apoio ativo do Supremo, não está propondo um
confronto político com os adversários, ou uma disputa legítima com a oposição —
está numa ação de vingança, ou de profilaxia.
Desde o dia 1º de janeiro está
deixando claro que o seu programa de governo começa com a eliminação dos
“inimigos”, ou quem está contra; vai se fazer tudo, digam o que disserem as
leis, para garantir que o “outro lado” não volte nunca mais a existir
politicamente na vida nacional. Não há, por parte do presidente e das forças
que o apoiam, nenhum gesto de conciliação. Ao contrário, o recado é: “Vocês vão
ser presos, multados, censurados. Suas contas no banco vão ser bloqueadas.
Vocês não vão poder exercer livremente suas atividades. Vocês vão perder o
emprego”.
Não
há terroristas que levam cadeirinhas de praia para cometer atos de terror —
terrorista joga bomba, mata gente e explode estação de trem; golpista não dá
golpe de estado sem tropa, canhão e comando militar. Mas dois erros, se efetivamente
houve dois erros, não fazem um acerto — e se houve mais culpados a única saída
é punir a todos por igual
Não se trata de uma suposição. “As prisões não são uma colônia de férias para golpistas”, afirmou o ministro Alexandre de Moraes, do STF, ao comentar as observações de que estaria havendo tratamento desumano para os presos de Brasília. Disse, também, que “não se pode tratar de forma civilizada” os acusados e que “não haverá apaziguamento” com os que ele acusa de serem “golpistas”, ou “terroristas” na linguagem oficial do regime em implantação — termo adotado de imediato pelo consórcio da mídia para se referir aos presos ou, mais geralmente, aos manifestantes que vêm se reunindo em frente aos quartéis para contestar o resultado da eleição presidencial. “O tempo das prisões em flagrante já passou”, disse o novo ministro da Justiça. “Agora as prisões devem ser preventivas e temporárias.” Ou seja: o governo deu a si próprio autorização para prender cidadãos com base naquilo que julgar como conduta criminosa. É um retrato preciso de um governo que tinha como prioridades, no discurso de campanha, “humanizar as penitenciárias” e “desencarcerar” os criminosos.
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Flávio Dino e Alexandre de Moraes, foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil |
Não há terroristas que levam
cadeirinhas de praia para cometer atos de terror — terrorista joga bomba, mata
gente e explode estação de trem; golpista não dá golpe de estado sem tropa,
canhão e comando militar. Mas dois erros, se efetivamente houve dois erros, não
fazem um acerto — e se houve mais culpados a única saída é punir a todos por
igual.
Importantíssima manifestação do Senador @marcosdoval! A apuração de responsabilidades sobre os absurdos e violentíssimos episódios de domingo não pode ser parcial, doa a quem doer. Tem meu apoio! pic.twitter.com/7h2e9jjao2
— Marcel van Hattem (@marcelvanhattem) January 11, 2023
O problema está no tipo, na
extensão e nas intenções da retaliação lançada pela máquina oficial. Está,
também, na igualdade de critérios — se as violências de Brasília têm de ser
tratadas com base na legalidade, a violação permanente da lei por parte do inquérito
ilegal do STF e a descida do governo para a repressão também não deveriam ser
aceitas e tratadas como “defesa da democracia”.
O artigo 359 do Código Penal,
que substitui a extinta Lei de Segurança Nacional, pune como crime a tentativa,
através de “violência ou grave ameaça”, de abolir o Estado democrático de
direito ou depor o governo legitimamente constituído. Não é prevista qualquer
outra hipótese para a prática desses delitos — e, em qualquer caso, a punição
tem de obedecer a devido processo legal, com garantias para os acusados, pleno
acesso aos autos por parte dos advogados e procedimentos públicos.
Até às invasões de Brasília
não houve violência ou grave ameaça a nada e a ninguém — e, apesar disso, cidadãos
têm sido presos, multados ou perseguidos com a acusação de cometerem “atos
antidemocráticos”, até por conversarem no WhatsApp. E agora? Vai ficar
pior? Importa, mais que tudo, o ataque às liberdades — e a montagem de um país
sem dissidências, sem o direito de se manifestar em público e sem oposição de
verdade. Se qualquer brasileiro pode ser acusado de cometer “atos
antidemocráticos”, “desinformação” e outros crimes não previstos na lei, não
existe liberdade política efetiva neste país.
O que o Sistema Lula-STF está
dizendo, na prática, é que não será tolerado um país que não preste obediência
ao governo — e no qual a oposição, como em estádio de futebol, tem de ficar
como a arquibancada que vaia o juiz, mas não influi em nada no resultado. José
Dirceu, uma das estrelas do PT, já disse que ganhar eleição não tem nada a ver
com ganhar o poder. Deve ser isso.
Título e Texto: J. R. Guzzo, Revista Oeste, nº 147, 13-1-2023
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Covardes
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ResponderExcluirFOTO UM:
'Todo o poder às putas, que seus filhos lá já estão'.
FOTO DOIS:
- Cala a boca, paquiderme. Eu sou o Micristo Alexonga de Morraes. O senhor me respeite. Se eu o colocar preso, na Papuda, o senhor sairá de lá mais magro que palito de restaurante.
FOTO TRÊS:
- Eu sou o SEM, MARCOS DO VARAL. Queme me chamar de Pregador, vou mandar o Chandão mandar pra Polpuda.
Carina
Ca
Sitio Shangri-La - Minas erais