"A última oração dos mártires", quadro de Jean-Léon Gérôme (1824-1904
Rodney Stark
Nos capítulos finais deste
livro, [O crescimento do cristianismo – Um
sociólogo reconsidera a história], examinaremos de que forma o
cristianismo funcionou como movimento de revitalização que surgiu em resposta à
miséria, ao caos, ao medo e à brutalidade da vida no mundo urbano greco-romano.
A título de antecipação dessas discussões, gostaria apenas de sugerir aqui que
o cristianismo revitalizou a vida nas cidades greco-romanas ao proporcionar
novas normas e novas modalidades de relacionamentos capazes de fazer frente a
graves problemas urbanos.
A cidades repletas por
sem-teto e por pobres, o cristianismo veio trazer caridade e esperança.
A cidades povoadas de
forasteiros e de estrangeiros, o cristianismo propiciou uma base para o
estabelecimento de vínculos.
A cidades cheias de órfãos e
viúvas, o cristianismo ofereceu um novo e ampliado senso de família.
A cidades dilaceradas pelo virulento
antagonismo étnico, o cristianismo lançou novas bases para a solidariedade
social (cf. Pelikan 1987: 21).
Por fim, a cidades que viviam a braços com epidemias, incêndios e terremotos, o
cristianismo proporcionou um efetivo serviço assistencial.
Naturalmente, pode-se
reconhecer que terremotos, incêndios, pestes, distúrbios e invasões não
surgiram pela primeira vez na era cristã. As pessoas enfrentaram catástrofes
durante séculos, sem o auxílio da teologia cristã ou das estruturas sociais
cristãs. Por essa razão não estou sugerindo de forma alguma que a miséria do
mundo antigo acarretou o advento do cristianismo. O que pretendo argumentar é
que, uma vez surgido o cristianismo, sua capacidade superior de equacionar
esses crônicos problemas logo se patenteou e desempenhou relevante papel em seu
triunfo definitivo.
Como Antioquia sofria profundamente em função de todos esses problemas urbanos, precisava agudamente de soluções. Não surpreende que os primeiros missionários cristãos tenham sido tão calorosamente recebidos naquela cidade. É que não eram portadores de um simples movimento urbano, e sim de uma nova cultura, capaz de tornar a vida mais suportável nas cidades greco-romanas.
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