Obra de António José Saraiva, redação concluída no verão de 1964. Edição em mãos: da Gradiva, julho de 2019.
Inquisição e Cristãos-Novos é, 50
anos após quatro edições fulgurantes, a melhor introdução a um universo
kafkiano que o presente imita sob outras formas.
Leia aqui o Prefácio.
Durante a leitura deste livro, meu
cérebro não conseguia fugir do STF, tal a aterradora semelhança entre o Tribunal
do Santo Ofício e o Supremo Tribunal Federal, seiscentos anos
depois!
Páginas 64 e 65:
“ (…) Não faltou quem se encarregasse
de estimular e organizar esta transferência do ódio ao Judeu para o
Cristão-Novo. Acima de todos, os pequenos clérigos, em que se distinguiam os frades
dominicanos. Eles desempenham em Portugal como na Espanha um papel decisivo no
desencadeamento dos progroms.
Tal como em 1449, são eles que estão à frente da matança iniciada em 19 de
abril de 1506 em Lisboa.
No decorrer de uma cerimônia religiosa
na Igreja de São Domingos, um homem que participava no culto, no momento em que
o povo gritava ‘milagre’ à vista de um resplendor que saía de um crucifixo,
teve a ideia inoportuna de argumentar que se tratava apenas do reflexo de uma
vela.
Foi logo taxado de “Cristão-Novo”,
morto e queimado in loco. Dois frades dominicanos brandindo crucifixos
excitaram os fiéis aos gritos de “heresia, heresia!”.
Durante três dias a cidade esteve nas mãos dos amotinados, que pilhavam as casas, atiravam mulheres e crianças da janela à rua e acendiam por toda a parte fogueiras onde ardiam vivos e mortos. Bandos de embarcadiços nórdicos de passagem por Lisboa participaram na pilhagem e no massacre.
Houve perto de dois mil mortos na
cidade, segundo Damião de Góis, entre eles João Rodrigues Mascarenhas, cobrador
de impostos reais, um dos homens mais ricos de Lisboa.
O Rei, ausente no Alentejo, reagiu com energia: pena de morte e confiscação dos
bens para os malfeitores; castigos para os cúmplices passivos; punição coletiva
da cidade com a abolição de alguns dos seus privilégios. Mandou queimar os dois
frades provocadores, depois de lhes fazer tirar as ordens.
É isto pelo menos o que diz o cronista
Damião de Góis, mas parece que afinal os dois frades escaparam na confusão,
porque trinta e seis anos depois estavam vivos e participavam ativamente em
Roma no negócio da Inquisição, ao serviço de D. João III.”
Recomendo a leitura.
Fettmilch Riot: The plundering of the Judengasse (Jewry) in Frankfurt, Holy Roman Empire on August 22, 1614
Vincent Fettmilch was a grocer
and baker, who moved to Frankfurt in 1602, and is best known for leading a
pogrom against Jews. His birth year is unknown. He led the Fettmilch uprisings
(1612-1616), which lead to the storming of the Judengasse, (Jew’s lane) on
August 22, 1614.
The Jews of Frankfurt were
expelled for two years, until 1616, when the emperor intervened, retaking the
city, and issuing an imperial ban on Fettmilch and his co-conspirators, Konrad
Gerngross, a joiner, and Conrad Schopp, a tailor. Imperial soldiers guided the
Jews back into Frankfurt, and Fettmilch was put to death in the Horse Market on
February 28th, 1616.
This had been one of the last
pogroms in Germany, until the rise of the Nazi party in the 20th century.
Cristãos-novos na Wikipédia.
Inquisição, jesuítas e cristãos-novos em Portugal no século XVI
Cristãos Novos e Cristãos Velhos em Portugal
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A mentalidade muçulmana
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Amor de Perdição
Esta coluna é publicada às terças-feiras.
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