Humberto Pinho da Silva
O romancista fora detido por crime de adultério, que na
época era escandaloso.
O Mestre dos Mestres, como afirmava – e bem – António
Feliciano de Castilho, encontrava-se encerrado numa pequena sala húmida e
sombria, quando escreveu a obra-prima, que Miguel Unamuno considerava: "Uno
de los libros fundamentales de la Literatura Ibérica" "Por
terras de Portugal y Espana"; e afirma na mesma obra: " Ler
Camilo es viajar por Portugal, pero es Portugal de las almas."
Ana Plácida era casada com Manuel Pinheiro Alves,
negociante abastado, muito mais velho do que ela. Casara com dezasseis anos!
Oito anos depois, amancebara-se com Camilo, levando o
filho, Manuel Plácido.
O marido, ultrajado, apresentou queixa por adultério. Ana
é presa em junho, e Camilo em outubro, do mesmo ano (1860).
Julgados pelo Dr. José Maria de Almeida Teixeira de
Queiroz, pai de Eça, – foram, ambos, absolvidos.
O " Amor de Perdição" tem enredo de
verdade e fantasia.
Simão realmente existiu. Era estudante na Universidade de
Coimbra, vivia em Viseu e era solteiro.
O crime de Simão foi de tentativa frustrada de homicídio,
na pessoa de criado de servir, na Rua Direita (3 de agosto de 1804,) em Viseu.
E não, como narra o romancista, assassino do pretendente de Teresa Albuquerque.
Simão foi auxiliado, durante a realização do crime, por José Jerónimo de Loureiro e Seixas, e não pelo ferrador João da Cruz, como assevera Camilo, no romance.
O Visconde de Valdemouro, membro da Família Albuquerque
da Beira Alta, conta no: "Correia do Vouga"que seu tio, D. António,
escreveu indignado a Camilo, por ter usado o apelido da Família, no romance.
Camilo respondeu-lhe: que utilizou o apelido, como poderia usar outro qualquer,
visto os nomes próprios serem fantasiados. O nome de Teresa e Tadeu, foram,
portanto, inventados pelo escritor, omitindo os verdadeiros.
Simão, como se sabe, era tio paterno de Camilo Castelo
Branco.
Apesar do escritor não ser, entre os jovens, muito lido,
é o maior prosador, em língua portuguesa graças ao "Extraordinário génio verbal
e estilístico do escritor (...) e a admirável vernaculidade da linguagem de
Camilo" – Vasco Botelho de Amaral. Rodrigues Lapa tem parecer
semelhante sobre o romancista.
Termino com a magnífica imagem de Pinheiro Chagas: "A
sua linguagem foi arrancada como puro mármore da pedreira nacional."
Já agora, por que não reler, nas próximas férias, o
"Amor de Perdição"?
Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, 18-2-2022
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