terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

[Aparecido rasga o verbo] Como amansar um companheiro violento?

Aparecido Raimundo de Souza

SE VOCÊ
, minha cara amiga, tem problemas com o namorado, marido ou um simples paquera ou ficante temporário, desses que andam por aí, do tipo “quebra galho ou estepe” (ou porque o sujeito é violento, vive lhe batendo, bebe em demasia, arranja confusão e encrencas ou tem uma amante), passe a mão numa caneta e uma folha de caderno e tome nota de uma simpatia simples e fácil, todavia porreta que preparei especialmente para você. De uma vez para sempre, acabe com todas as aflições que rondam a sua cabeça e a sua integridade física.

Atenção para os apetrechos necessários:


Duas velas de cera de vinte centímetros,
um metro de fita branca,
um metro de fita azul,
um metro de fita verde,
uma enxada e
uma pá.

Como usar tudo isso? Simples!

Pegue a primeira vela de cera (lembre bem, de vinte centímetros, nem mais, nem menos). Compre no armarinho de sua preferência, três metros de fita (Um metro da branca, Um metro da azul e Um metro da verde). Muito cuidado. Não leve o metro. Só as fitas. É provável que a vendedora, esperta, queira lhe empurrar o metro. Você não precisará fazer uso dele, até porque, não terá que medir coisíssima alguma. Escreva o nome do seu amado nas fitas (tem de ser um nome somente. Não vá declinar, em cada fita, um patronímico diferente ou a coisa acabará piorando para seu lado, ou seja, no final vocè poderá ter, ao invés de um, três camaradas se arrastando aos seus pés).

Amarre cada uma das fitas com sete nós na primeira das velas. Em seguida, vá até uma praia (se não tiver praia, vale um rio, um lago, um açude, um riacho, uma cachoeira, córrego e até nascente). Cave, com a enxada, um buraco na areia, ou na margem do rio, conforme o caso, com profundidade suficiente para que você não se meta dentro e depois não consiga sair. É aconselhável uma saliência mais ou menos regular, que não deixe a vela se apagar, acaso surja uma rajada de vento vinda do litoral, ou do raio que a parta.

Faça o pedido em voz alta, para que não somente você escute. Todos os demais curiosos que se abancarem em derredor, ou que, por mero acaso, venham a cruzar com a sua presença. Na hora do ritual é viável que terceiros possam participar. Certamente esses estrangeiros lhe darão uma moral. A massa humana nessas horas amargas, ajuda a aumentar consideravelmente os pensamentos positivos em direção aos objetivos a serem alcançados.

Se algum engraçadinho (sempre há um espírito de porco para atrapalhar) começar a rir, debochar, lhe chamar de macumbeira ou a berrar impropérios, mande a figura lamber sabão. Se concentre, e repita, sete vezes seguidas, em voz alta e firme, as seguintes palavras: “Fulano” (não esqueça do nome da sua paixão). Para corroborar o desejo a ser alcançado, se faça sincera e de coração aberto. E, como se rezasse um mantra, amiúde: “FULANO, OU EU TE AMANSO, OU TU ME DEVORAS. OU EU TE AMANSO, OU TU ME DEVORAS". (Não esqueça, sete vezes).

Ao final, ofereça a vela –, perdão a iluminação da vela à Mãe Sereia. Só para lembrar: sereia é aquela divindade mitológica em forma de mulher. Aliás, de uma linda fêmea de dar inveja à qualquer marmanjo. A dita possui o corpo metade forma humana, tipo a Dercy Gonçalves e a outra metade, um peixe enorme, geralmente em formato de uma baleia assassina. A beldade surge do nada, com uma lira sirena. É indispensável, para o exímio andamento dessa liturgia, que se espere a chama da vela atingir as fitas até consumi-las por inteiro.

Se acaso necessitar abandonar o local antes, é possível que pessoas estranhas que andam pela areia, chutem a sua vela e esculhambem com as formalidades da oferenda. Se isso ocorrer, seu pedido simplesmente irá para o espaço e você perderá tempo e é claro, o dinheiro que empatou. A noite, quando a sua metade da maçã chegar do serviço, faça entrar imediatamente para um aconchegante banho frio. Após, e antes que ele resolva jantar ou ultrapassar os umbrais da porta do banheiro e se dirija para o quarto do casal, certifique que a criatura esteja completamente pelada. Sem nenhuma peça de roupa no corpo.

Passe, então, a mão na segunda vela. Acenda rapidamente e enfie, com toda força, no traseiro dele. Isso mesmo. Naquele lugar que você está pensando. Procure, por tudo quanto é sagrado, não se apavorar, notadamente se ele partir para cima de você. Aconteça o que acontecer, aja normalmente. Se o cidadão perder as estribeiras (muito provavelmente com tal ato, por sinal, um pouco desconfortante, ele, efetivamente, deverá vir com tudo para cima de você, querendo fazer picadinho da sua carcaça), não entregue os pontos, não esmoreça. Não titubeie, nem se embarace.

Geralmente, quando do uso da segunda vela, o inesperado, ou seja, a iminente agressão em face da vela introduzida naquele orificio sagrado não deixará margens à dúvidas. O abrupto aflorará. Contudo, não se desespere. Não perca o controle. Em contínuo, corra até a pá. Lembra dela? Com essa ferramenta auspiciosa, você amansará qualquer valentão, por mais tinhoso e descontrolado que esteja.

É uma pancada única, rápida e rasteira no meio dos porta-chifres e pronto... seu desordeiro e fanfarrão se transformará num gracioso gatinho. Entretanto, muita atenção. Todo cuidado é pouco. Fica aqui um alerta especial. Caso ele venha a evoluir para óbito, em face da pazada, se coloque em posição de sentido. Pule pela janela. E pelo amor de Deus: leve a droga da pá para evitar problemas futuros com a polícia.

Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, do Rio de Janeiro. 22-02-2022

Anteriores: 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-