Ao banir André Ventura, o Twitter
demonstrou não ser um espaço plural e democrático. Quem celebra este
acontecimento lembre-se que a cultura de cancelamento pode um dia atingir quem
hoje a celebra
Ricardo Lopes Reis
A Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia define liberdade de expressão como um direito que compreende a liberdade de opinião e a liberdade de receber e de transmitir informações ou ideias, ao qual qualquer pessoa tem direito. Pelo menos em teoria é um direito inegável a qualquer cidadão, uma vez que qualquer tipo de censura motivada por pura discórdia é algo impensável na sociedade ocidental moderna. Ainda assim, a notícia de que o líder do Chega, André Ventura [foto], tinha sido banido do Twitter, leva-me (a mim e a qualquer puro democrata e defensor da liberdade de expressão) a questionar se de facto as redes sociais são um Mundo de liberdade, ou um mero instrumento ideológico.
O caso de André Ventura
demonstra que o Twitter parece ter um sentido de controlo distorcido, uma vez
que não se preocupa em controlar incentivos ao ódio, como as sucessivas
demonstrações de Mamadou Ba, ou mesmo tweets de líderes de regimes ditatoriais
comunistas, como Nicolás Maduro, mas sim em banir e censurar personalidades
relevantes que tenham uma opinião que se diferencia da doutrina que a rede
social privilegia. O próprio Facebook já admitiu um controlo apertado a
publicações e personalidades de direita, mas nunca se pronunciou sobre o
incentivo ao ódio que a extrema-esquerda prega neste tipo de plataforma,
abrindo um verdadeiro “buraco-negro” para a discriminação ideológica e para uma
nova forma de censura e moldar do pensamento das massas.
Os mais atentos terão maior
facilidade em fazer uma análise às personalidades políticas em Portugal, que
mais vezes foram suspensas nas redes sociais, e compreender quantas eram
dirigentes, por exemplo, do Chega, e estabelecer uma comparação com dirigentes
do Bloco de Esquerda (muitos com discursos de total incentivo ao ódio e mesmo
ao combate à direita na rua), que parecem gozar de uma imunidade concedida a
todos os que propagam aquele que parece ser um “ódio do bem”.
Aliás, parece ser padrão que apenas indivíduos de uma certa linha ideológica sejam consecutivamente penalizados em vários campos (redes sociais, comunicação social ou mesmo no campo judicial), aproveitando para relembrar a rapidez da atuação da justiça no caso da família Coxi, em contrário com a total ausência de histerismo social e de punição assertiva ao apelo direto e claro de Mamadou Ba ao “combate nas ruas” aos militantes da Iniciativa Liberal e do Chega.
Não queria entrar no campo internacional,
mas não posso deixar de salientar o caso de Donald Trump, ex-presidente eleito
democraticamente por milhões de americanos, que foi banido (não suspenso ou
advertido) em várias redes sociais, limitando a sua ação política
drasticamente, uma vez que nos dias de hoje os meios digitais representam um
dos principais motores de campanha e comunicação com as massas. Curioso que o
mesmo não suceda com líderes de países onde as palavras democracia ou liberdade
são conceitos desconhecidos, como Maduro, ou mesmo líderes de movimentos
extremistas islâmicos, como os talibãs ou o Estado Islâmico, que inclusive
recrutam para as suas fileiras nestas redes sociais.
O que podemos concluir com
esta breve constatação de factos é que cada vez mais existe um bloqueio
ideológico à direita (à verdadeira direita e não à direita que agrada à
esquerda), que visa tornar esses mesmos espaços em centros de difusão
ideológica e doutrinação programada e planeada, utilizando algoritmos que são
motores de captação de atenção dos utilizadores ou leitores, capazes de
influenciar as massas, expondo-as ao conteúdo ideológico da sua preferência,
bem como à informação (real ou não) que melhor serve os interesses que suportam
a sua ação.
O caso de André Ventura deve
indignar todo e qualquer democrata e defensor da liberdade de expressão, e
acima de tudo unir quem defende um Mundo plural de pensamento e ideias contra a
cultura de cancelamento levada a cabo por “gigantes” no que diz respeito à
comunicação, e apoiadas por forças ideológicas pouco plurais e de inspiração
tendenciosa.
Ao banir André Ventura, o
Twitter não só desrespeitou e violou o direito à liberdade de expressão, que a
todos os indivíduos assiste, como também demonstrou desprezo por perto de 500
mil eleitores que em janeiro de 2022 confiaram o seu voto ao líder do Chega,
numa tentativa clara de condicionar a ação de um líder e de um partido legal e
democrático (e aprovado pelo Tribunal Constitucional).
Queremos ser puramente livres
ou queremos permitir que a liberdade tenha donos e regras impostas por
interesses?
Termino como iniciei, dizendo
que ao banir André Ventura, o Twitter demonstrou não ser um espaço plural,
livre e democrático. E para quem celebra este acontecimento lembre-se que a
cultura de cancelamento pode um dia atingir quem hoje a celebra.
Título e Texto: Ricardo
Lopes Reis, Observador,
26-2-2022
Relacionado:
Onde pode chegar o Chega?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não aceitamos/não publicamos comentários anônimos.
Se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-