O ministro e muitos dos seus colegas do STF estão jogando de maneira cada vez mais aberta na desordem política
J. R. Guzzo
Será que o ministro Luís Roberto do Barroso [foto] se esquece, de tempos em tempos, que é um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil, e não um militante político individual, que pode ir aonde quiser e falar o que bem lhe der na telha? Não há nenhuma hipótese de acontecer nada parecido. Barroso faz questão de se exibir como ministro da “Suprema Corte” 24 horas por dia, 60 minutos por hora, sem dar descanso a ninguém — e, se por acaso, alguém se esquecer disso por um instante, lá estará ele para lembrar: “Atenção aí: eu sou ministro do STF.”
Foto: Nelson Jr/SCO/STF |
Ele sabe perfeitamente o que
está fazendo, portanto, e faz isso perfeitamente de propósito, quando vai a um
seminário nos Estados Unidos cujo tema é: “Como se livrar de um presidente” —
ou “How to ditch a president”, no título oficial em inglês. Agora,
honestamente: pode uma coisa dessas? Barroso é membro de um dos Três Poderes
constitucionais do Estado brasileiro; é inaceitável,
dos pontos de vista ético, moral e político que vá a um país estrangeiro e
participe de um evento que discute a eliminação de presidentes da República. Sua desculpa, pelo que se imagina, é que o
seminário fala sobre esse assunto no “genérico”; não diz, com todas as letras,
“como se livrar do presidente Jair Bolsonaro”. Só faltava que dissesse. Uma
criança de dez anos de idade entende muito bem do que estão falando, e porque
Barroso foi lá.
O ministro e muitos dos seus colegas do STF estão jogando de maneira cada vez mais aberta na desordem política.
Jamais passou pela cabeça de
nenhum juiz da Suprema Corte americana, ou de qualquer outro supremo tribunal
de país democrático, vir ao Brasil, ou à Cochinchina, para falar em derrubar um
presidente da República constitucionalmente eleito; a mera noção disso é um
absurdo integral. Mas Barroso nem liga. É isso mesmo o que quer: criar tumulto
num ano eleitoral decisivo.
Um magistrado do STF, pelo que
manda a Constituição, tem como obrigação fiscalizar a legitimidade
constitucional das leis e decisões de governo deste país — só isso. Não pode
ser um militante político; é, além de ilegal, falta de decoro no exercício da
função. Se Barroso faz o que faz, e sabe perfeitamente que não pode fazer o que
está fazendo, é porque vê a si próprio como a figura número 1 da oposição
brasileira — e porque acredita, sem dúvida, que o seu comportamento ilegal não
pode ser julgado por ninguém. Nenhum ministro do STF tem esse direito.
Título e Texto: J. R. Guzzo,
Gazeta do Povo, 21-2-2022, via revista Oeste
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