sexta-feira, 7 de março de 2014

Com o caos social na Venezuela, muitos judeus optam pelo ‘Plano B’

Judeus venezuelanos, que ficaram para esperar a queda de Chávez, têm agora mais um motivo para sair do país: o crescente desespero
Francisco Vianna


Eles começaram a ir embora depois que a polícia secreta do regime chavezista invadiu um clube judeu, em 2007, e depois que a sinagoga local foi saqueada por bandidos não identificados, dois anos depois.

Depois que o Hugo Chávez expulsou o embaixador de Israel em Caracas e pediu aos judeus da Venezuela para condenarem Israel por suas ações em Gaza em 2009, a resposta foi um aumento na saída de judeus do país.

A saída se acelerou quando Caracas conquistou o título de cidade mais ignóbil e perigosa do mundo – e quando a inflação atingiu os dois dígitos, a escassez de alimentos veio como um flagelo, e a taxa de homicídios do país chegou a 79 por 100 mil pessoas.

Com a Venezuela agora sacudida por manifestações contra o governo – o número de mortos chegou a 18 no último sábado – os judeus venezuelanos que permaneceram no país têm mais um motivo para sair de lá: o desespero crescente.

"Há muito menos esperança em relação ao futuro", disse Andres Beker, um expatriado judaico da Venezuela que está agora nos Estados Unidos, mas cujos pais ainda vivem em Caracas. "Meus pais são grandes fãs da Venezuela. Até o ano passado eu pensei que eles iriam ficar por lá, não importando os percalços. Hoje, pela primeira vez, eles estão falando em adotar o ‘Plano B’: deixar a Venezuela".

Ao longo dos últimos 15 anos, a partir do momento em que Chávez chegou ao poder, e no ano que Nicolas Maduro passou a governar o país, a comunidade judaica da Venezuela encolheu em mais da metade. Ela agora está estimada em cerca de 7 mil pessoas apenas, contra uma alta de 25 mil na década de 1990. Muitos dos que saíram eram líderes comunitários.

Não são apenas os judeus venezuelanos que estão deixando o seu país. Centenas de milhares de classe média e alta da Venezuela, principalmente os que representam mão de obra especializada e têm algum capital para investir, já se mudaram nos últimos anos para outros países, indo aumentar o contingente de autoexilados em lugares como Miami, Panamá, Costa Rica, República Dominicana e Colômbia.

O êxodo dos judeus venezuelanos está a pressionar fortemente a sobrevivência das instituições da comunidade na Venezuela. "A emigração tem realmente desempenhado um grande papel como fator de sobrevivência da comunidade no país, que é o nosso principal problema", disse Sammy Eppel, jornalista caraquenho e membro da comunidade judaica, que também atua como diretor da Comissão de Direitos Humanos na Venezuela.

"Quando éramos uma comunidade numerosa e próspera, construímos inúmeras e pesadas instituições", disse Eppel. "Muitos de nossos membros não quiseram ir embora e ficamos com as mesmas instituições, mas, com menos pessoas para cuidar delas. Nós tivemos que fazer ajustes sérios enquanto nos certificávamos de que os serviços que prestamos à comunidade não seriam interrompidos".

A escola secundária chamada Allan, que é frequentada pela comunidade judaica, hebraica, diz que o seu corpo discente grau foi reduzido a 85 alunos dos 120 que dispunha há seis anos. As classes mais novas são cada vez menores, com 40-50 crianças cada. A escola está agora a considerar a combinação do primeiro com o segundo grau, disse ele.

Interessado em manter um preço o mais baixo possível sem que se lhe altere o perfil e o nível de excelência, os líderes das instituições judaicas na Venezuela se recusam a ser entrevistados pela mídia com relação a isso.

As maciças manifestações contra o governo, que começaram em 12 de fevereiro, foram motivadas em grande parte pela enorme deterioração econômica da Venezuela com um severo aumento concomitante da violência contra o indivíduo. "A deterioração econômica chegou ao ponto de, há alguns meses e piorando, as pessoas não conseguem comprar artigos de primeira necessidade, como leite, frango, ovos, papel higiênico, remédios, etc.", disse Beker. "É realmente uma situação que afeta cruel e diretamente todas as famílias", acrescentou.

Allan, o colegial judeu, disse que as ruas estão fora dos limites para ele e seus amigos, em função das ameaças de violência e de sequestro. Mas, hoje em dia, é difícil para qualquer um sair de casa e ir a qualquer lugar sem saber se retornará à casa. "Está muito mais perigoso", disse Allan. "Ninguém sai, ninguém vai a festas, ninguém vai jantar fora. Todo mundo está trancado em suas casas".

Os que estão fora da Venezuela não entendem o enigma do por que alguém ainda fica no país, dadas as circunstâncias desafiadoras da vida diária. Mas os judeus venezuelanos dizem que, sair de casa nunca é fácil ou simples. Há os que têm empregos que não podem ser deslocados para o exterior e aqueles que não têm dinheiro ou energia suficiente para recomeçar a vida em outro lugar. E as mudanças têm sido graduais o suficiente para que, vez por outra, os judeus venezuelanos – como seus compatriotas não judeus – simplesmente se adaptam à nova realidade social, ou seja, política e econômica. "É uma questão de ajuste, eu acho, não é uma questão de sobrevivência", disse Eppel. "Isso é o que a comunidade tem tentado fazer: ajustar-se às circunstâncias adversas", algo que os judeus, aliás, têm um enorme histórico de terem aprendido a fazê-lo muito bem ao longo dos séculos.

Sandra Iglicki, que deixou a Venezuela e foi para o sul da Flórida, há uma década, mas ainda volta muitas vezes para visitar a Venezuela, diz que também tem sido emocionalmente difícil deixar um país que durante décadas foi bom para os judeus, servindo como um refúgio contra o antissemitismo e um país livre para famílias judias europeias que fugiram da loucura nazista. "É muito dolorosa, para a comunidade, ver a Venezuela na situação calamitosa em que se encontra hoje", disse ela.

E ainda há alguma esperança, mesmo entre os autoexilados, de que o país eventualmente voltará à sua normalidade de Estado de Direito. “Ao se conversar com muitos venezuelanos que permanecem aqui, vemos que eles parecem esperar por isso com fé e fervor", disse Iglicki em entrevista por telefone da Flórida. "Eu adoraria voltar para a Venezuela".
Muitos emigrantes continuam a trabalhar na Venezuela, indo e voltando nos dias úteis para administrar seus negócios, enquanto as suas famílias se adaptam à vida num novo país.

Em Miami, as últimas semanas têm sido particularmente muito preocupantes para os expatriados venezuelanos, que estão a receber inúmeros telefonemas ansiosos de seus parentes que não os querem de volta em virtude da agitação interminável e da insegurança extrema que só é mostrada pela mídia social da Internet.

Com a mídia estatal da Venezuela a omitir ou maquiar as notícias sobre as manifestações maciças de rua, os expatriados têm ocupado seu tempo em canalizar notícias de seus parentes em Caracas e em outras cidades para saber o que realmente está se passando no país, muitas vezes através do Facebook, Instagram e Twitter.

Houve grandes manifestações em Miami contra o governo Maduro, que é acusado de estar destruindo a Venezuela, manifestações essas que permaneceram off-line no país. "Isso é algo que em Miami é notícia top todos os dias", disse Juan Dircie, diretor associado da Comissão Judaica do Instituto Latinoamericano, em Miami. "A comunidade de autoexilados venezuelanos tem vindo para realizar comícios, dar entrevistas na TV, para escrever cartas ao editor. As manifestações são a favor da democracia e dos direitos humanos, mas é claro que há um grande componente de oposição ao governo Maduro".

Beker, que deixou a Venezuela há oito anos, aos 17 anos de idade para frequentar a Universidade de Emory, disse que recentemente fez uma contagem rápida para calcular se ele tinha mais membros da família em Miami ou Caracas. Ele disse que ficou chocado quando percebeu o número de parentes na Flórida é maior. "Isso não deixa de ser um pouco triste", disse Beker. "Você pensa: eu só vou para a faculdade por um par de anos e voltar. Mas isso acaba nunca acontecendo".
Título e Texto: Francisco Vianna (da mídia internacional), 07-03-2014

5 comentários:

  1. Venham para o Brasil, necessitamos de muitos judeus por aqui :)

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  2. Eu Sou Descendente do povo Hebreu e abomino a influencia genocida da burguesia fedorenta misturando religião e tentando cooptar incautos desinformados,sejam da comunidade Judaica ou não,quando a Venezuela era um quintal do capitalismo Ladrão peverso que dizimou povos principalmente ,os Aborigines e Negros,aiComunidade aplaudia ,penso que a DEMOCRACIA VERDADEIRA E DIREITOS SOCIAIS DE TODOS SÓ SE DARÁ QUANDO AS CONQUISTAS SOCIAIS FOREM EFETIVADAS REFORMA AGRARIA,URBANA,PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS,EMPREGOS,SAÚDE E EDUCAÇÃO PRA TODOS ,COM INDEPENDENCIA E SOBERANIA.SEM A INGERENCIA DO CAPITAL PRIVADO INTERNACIONAL.ANGELO ROCHA BENJAMIN , SALVADOR-BAHIA

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    Respostas
    1. Stalin ou Mao Tsé-Tung não diriam melhor!

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    2. Esse não é judeu é caçador de judeus, entreguista, a família dele pertencia a gestapo.
      Reforma urbana., faz ma rir, vai trabalhar vagabundo.

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  3. Hugo Chávez e O presidente Maduro tiveram a grande ideia de expulsar os judeus indiretamente,fazendo isso a economia Venezuelana caiu e deteriorou.
    Expulsou o Grupo de Hipermercados Casino ,que os donos sao judeus Franceses. A Venezuela vive do passado.

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